Elder John
“Irmão, quem te roubou te chama de ladrão desde cedo. Ladrão. Então, peguemos de volta o que nos foi tirado. Mano, ou você faz isso ou seria em vão o que os nossos ancestrais teriam sangrado. De onde eu vim quase todos depende de mim. Todos temeram meu não, todos esperam meu sim. Do alto do morro, rezam pela minha vida. Do alto do prédio, pelo meu fim. Ladrão”
Pelo terceiro ano consecutivo, no dia 13 de março, Djonga lança mais um álbum. Heresia (2017), O menino que queria ser Deus (2018) e agora Ladrão (2019). Um processo muito rápido de aparição, amadurecimento e afirmação do artista. Hat-Trick perfeito.
A principal temática do disco é resgatar as origens. Não só saber onde quer chegar, mas principalmente, não esquecer de onde veio. Na letra de Bença, Djonga traz essa reflexão: “Então volte pras origem, é o colo de quem cê ama / Será que entende do que eu tô falando? Dessas coisa que deixa acesa a chama”.
Valorizar quem tem que ser valorizado: família, amigos, moradores do seu bairro. E o diferencial disso tudo é a forma em que isso é retratado nas letras. Muito original, objetivo e contundente. Ainda em Bença, outra passagem ganha notoriedade: “Olha pras sua nega veia e entenda / Que num é em blog de hippie boy que se aprende sobre ancestralidade”.
A estudante de Ciências Sociais, Raphaela Correa, nos conta sobre o que sentiu ao ouvir o disco: “Tudo o que tem pra falar do Djonga, o Djonga mesmo já falou. Quando você vai comentar sobre o trabalho dele, é impossível não ser redundante porque tudo já está ali. Ele não dá espaço para interpretação, ele fala o que tem que ser dito e o que ele quer dizer. Não tem como esvaziar isso.”
Tentar explicar a capa e a contra capa é exatamente isso: redundante. A mensagem que deve ser passada está ali. Ao mesmo tempo que traz diversas críticas e uma certa complexidade de abordagens, consegue ser totalmente direto e explícito. Djonga não se explica, se sente.
Gustavo Pereira manteve o padrão de 10 faixas. Duas love songs, cada uma com a própria característica, sem ficar repetitivo. Além da faixa 9 como interlúdio. Em Ladrão, Mlk 4tr3v1d0 é uma interpretação da música Moleque Atrevido de Jorge Aragão.
O que ficou evidente é a evolução do Djonga como artista. Apostou principalmente na questão da produção, valorizou a própria voz. Coyote Beatz está por trás de todas as faixas, dando o suporte necessário. Em Heresia, era o beat e a letra, pouca variação. E o que não faltou agora foi variação. Refrão. Voz. Participações. Tudo calculado.
E falando das participações, o disco traz nomes pontuais, artistas já conhecido pela cena como Filipe Ret e Chris Mc, até Mc Kaio e Doug Now, mc’s de Belo Horizonte que ganham a oportunidade de expor o trabalho a nível nacional. Isso é valorizar sua cidade. Djonga já havia feito isso com Sidoka no último álbum. Well e Zulu também fizeram feats em singles.
Essa realidade é mostrada na letra de Hat-Trick: “Sou um muleke igual esses outros muleke / que a única diferença que não esquece de onde vem”. Ele não esquece e não deixa seu povo ser esquecido, essa é a principal distinção. Minas Gerais literalmente se tornou a terra do Djonga e não mais só do pão de queijo. De tanto usar referências, se tornou referência.
E pra quem duvidava da versatilidade do Djonga quando o assunto é valorizar o próprio povo, ele soltou mais essa. Show do lançamento do disco com ingressos a R$10,00 reais. Acessibilidade para o público.
Para quem o acompanha desde o DV Tribo, sabe que ele é e se manterá fiel para os seus. DK, do grupo ADL, afirmou que Djonga é o maior MC dessa geração. Ele mistura força e representatividade. Excêntrico. Original. Simplesmente Gustavo Pereira, o Djonga.