Livia Queiroz
Quem nunca teve uma paixão forte por alguém que terminou em uma decepção ainda maior? Ou uma queda de autoestima por se comparar com outras pessoas que enxergamos como mais bonitas? Uma obsessão por uma ex do seu atual, por inveja, talvez? E a vontade de entrar em uma aventura de um amor errado? São esses tipos de situações, recorrentes na vida de uma jovem, que Olivia Rodrigo trata em seu último álbum, GUTS (2023), e em sua versão extendida, GUTS (spilled) (2024): a controversa ‘girlhood’. Percebendo o tremendo sucesso da morena, a Netflix fez um filme-documentário de uma de suas performances da sua primeira turnê mundial, a GUTS World Tour, para os fãs sentirem a vibe sem sair de casa.
Em um descontraído pop rock, a cantora encantou todos que se identificavam com suas músicas tão significativas. Mas não é com esse álbum que a descrição de momentos da juventude começou; temos que voltar a Maio de 2021, quando seu primeiro álbum, SOUR, foi lançado e abalou todas as plataformas e premiações musicais. Nele, a canção drivers licence mostrou seu potencial como compositora, narrando a história melancólica de seu último relacionamento e o sentimento amargo de perceber que seu antigo parceiro superou o término, e ela não.
Depois do ‘estouro’ de SOUR, com três Grammys, GUTS coloca em pauta situações de sua juventude agitada depois de se tornar uma adulta. Nessa onda de repercussões e sucesso, Rodrigo anunciou a GUTS World Tour, que iniciou em Fevereiro de 2024, em Palm Springs, EUA. Mesmo com a agenda repleta de shows, ela surpreendeu com uma versão deluxe, que trouxe cinco novas canções: obsessed, girl i’ve always been, scared of my guitar, stranger e so american.
Vivenciando um dos momentos mais mágicos e importantes da carreira de Rodrigo, a equipe da Netflix produziu um especial de um dos shows da GUTS World Tour, em sua cidade natal, Los Angeles. Trata-se de uma gravação profissional da performance, para que os fãs que não puderam estar presentes sintam-se dentro desse dia especial. O filme foi lançado em Outubro de 2024, com o título Olivia Rodrigo: GUTS World Tour e direção de James B. Merryman. “Estou muito animada para compartilhar a turnê mundial GUTS com meus fãs“, disse a artista no post de anunciamento do filme-documentário. “Para aqueles que não tiveram a chance de curtir ao vivo, agora vocês podem garantir os melhores lugares de casa!“.
O primeiro aspecto a ser notado dentro do longa é a presença somente de mulheres, tanto na banda quanto no conjunto de dançarinas no palco, junto da jovem norte-americana. A participação de um convidado também destaca esse evento, em LA quem participou foi a nova sensação do mundo da música: Chappel Roan, com o hit HOT TO GO!. Outra surpresa agradável do espetáculo é a produção e atenção que sua equipe recebe, com vários figurinos e a interação entre a artista, suas dançarinas, banda e fãs.
Por um lado, é um show único e criativo, que junta os hits de seus álbuns. Com uma produção linda e cheia de elementos de seus dois discos, como os cinco atos com trocas de figurino, dois solos da banda ao som de brutal e get him back!, um convidado para cantar no palco, entre outros. Convém mencionar a presença de palco de Olivia Rodrigo, com um ânimo invejável: atuação conforme letras das músicas, conversas com seus fãs e coreografias junto de suas bailarinas – quando não dançava, ela pulava.
Por outro, fica notável a semelhança com as turnês de Taylor Swift, The Eras Tour, e de Beyoncé, Renaissance. Com performances que contam histórias; a grande quantidade de interações; uma plataforma diferente com aspectos de seu álbum; momentos a capella; solos no piano e violão. Apesar das claras inspirações, a artista continua inovando e se dedicando, com uma melhora perceptível em seu vocal ao vivo.
No início do filme e nos créditos somos apresentados aos bastidores. Com cenas das rotinas de alongamento, aquecimento de voz, abraço com a equipe e demais preparações, desejamos mais desses momentos, mesmo que não seja esse o objetivo da obra. Além disso, após o fim do espetáculo, a câmera filma alguns fãs presentes, com elementos da loja oficial e outros caracterizados em roupas parecidas com as usadas pela compositora nos videoclipes de seus álbuns anteriores.
Diante dos assuntos abordados em suas músicas, como girlhood, amor, raiva, inveja e teenage dreams, o público alvo de Rodrigo e seus shows é muito bem definido e isso fica claro até mesmo no documentário. Sabendo disso, a compositora e cantora norte-americana criou uma iniciativa mundial de arrecadação para um futuro justo e com equidade para mulheres e garotas, chamado Fund 4 Good, dentro de seu site. A cada continente, ela escolhe um instituto para ajudar com as doações.
Por fim, diante do filme-documentário é possível sentir a paixão da artista pela música e performances ao vivo junto de seu elenco e fãs. Com uma presença de palco e carisma fora do comum, Olivia Rodrigo consegue cativar o público por completo e emocionar qualquer um com suas letras cheias de storytelling tristes e identificáveis. Para além, a cantora mostra-se como uma mulher vulnerável, empática e política, com manifestações dentro e fora de seu ambiente de trabalho.