Nathalia Tetzner
Representando nas telonas o imaginário popular da região Sul do Brasil, Bicho Monstro fez parte da seleção da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo na seção Novos Diretores. O diretor, Germano de Oliveira, coloca em perspectiva uma narrativa sobre o Thiltapes, um animal perigoso que vive nas florestas mais densas dos lugares ocupados por imigrantes alemães no país. Acontece que a ave sanguinária não é, nem de longe, o aspecto mais aterrorizante do filme.
Bicho Monstro é, inicialmente, cativante. No entanto, a dinâmica contemporânea do pequeno vilarejo segue sendo interrompida, da pior maneira, pelo passado. Entre a curiosidade de uma pequena garota no século XXI e a gana pela descoberta científica de um botânico alemão há centenas de anos atrás, o telespectador se enxerga confuso e dividido, sem conseguir compreender qual é a ligação entre tudo isso ou, até mesmo, o objetivo do longa-metragem.
Em meio a um cenário que dialoga muito com vivências no interior enquanto repele a audiência com contornos confusos de narrativa, nem mesmo o afago de vó consegue reprimir o sentimento de decepção que o Bicho Monstro causa. O roteiro, escrito pelo cineasta gaúcho junto de Igor Verde e Marcela Ilha Bordin, perde fôlego, ritmo, encantamento e o interesse do público quando desvia a atenção para flashbacks confusos que pouco dialogam com o presente do arco principal.
Com alguns outros aspectos técnicos em risco, como a óbvia regravação de falas na pós-produção, o filme brasileiro merece aplausos por se tratar de uma ideia interessante e relevante, principalmente por se tratar de um resgate de parte do imaginário popular. Porém, a execução, que deixa a desejar, também ocasiona um gosto amargo. Ao final, Bicho Monstro seria realmente incrível caso se apoiasse no passado apenas para compreender o presente, e não se perder em um caminho já trilhado anteriormente.