O desenhista fala sobre sua carreira em Bauru, algumas de suas produções e o cenário atual da produção de quadrinhos nacionais.
Mariana Faria
O mercado de quadrinhos no Brasil é substancialmente voltado às produções internacionais. Embora seja evidente a queda no âmbito nacional, ainda há circulação de material produzido no Brasil, como é o caso do desenhista Leandro Gonçalez que cria obras ligadas a cultura local. Em entrevista ao blog ele fala um pouco sobre suas produções de HQs e comenta sobre o cenário atual dos quadrinhos nacionais.
Gonçalez, você é de Ourinhos, como foi a vinda para Bauru e o início da sua carreira?
Gonçalez: Eu vim para Bauru em 1996, montei um atelier de pintura e comecei a oferecer trabalho de decoração, fiquei fazendo decoração artística até 1999. Ofereci trabalho de retratos, de propaganda, de faixas; e meu atelier ficava muito cheio de material de tela, então eu sempre ficava produzindo tela e por causa dessa produção de tela na frente do atelier começou a surgir trabalhos de encomenda de material de retrato, de decoração. Eu fiquei por uns 3 a 4 anos só com produção de decoração na cidade, fiz trabalhos para na região também, decoração em igrejas e tive três pontos na cidade, comecei no Vista Alegre com atelier, depois mudei para a Falcão onde também montei um atelier e de lá vim para o centro da cidade em 1998, onde montei um atelier/estúdio na Cussy Junior com a Virgílio Malta e ali foi onde eu fiquei mais conhecido na cidade, de 1998 a 2005.
Você tem um engajamento com quadrinhos, como surgiu a ideia de criar O Guardião, o primeiro super-herói de Bauru?
Gonçalez: Eu curto quadrinhos desde criança, faço fanzine desde os 15 anos faço fanzine. E eu sempre fiz fanzine de humor, de cartoon, de tirinhas; os primeiros a serem publicados em jornal foram as tirinhas. Aí esse material de super-herói eu sempre quis fazer mas ficava meio que com medo né, histórias longas, eu achava que tinha que mexer com muita saga, então isso me prendia de ficar executando ele. Aí eu comecei a dar importância a esses heróis no começo da carreira, quando o Bob Kane criou o Batman, ele fez coisa simples, coisas fechadas, o próprio Super-Man também nas primeiras histórias, o próprio material nacional tinha muito isso. Então como eu peguei o material do Gedeone, que tinha o Raio Negro e o Homem Lua e os outros personagens dele, eram histórias rápidas e curtas, nisso aí ele já colocava toda a personalidade do herói, a criação dele e toda a fantasia do personagem. Foi aonde eu quis mexer com super-herói.
Então, partindo dessa ideia de O Guardião teve a criação de super-heróis aqui da região. Quais são essas cidades e os seus super-heróis?
Gonçalez: Então, meu trabalho sempre foi envolvido com coisa local, coisa regional, mesmo com as tirinhas eu ficava com personagem próximo, nunca saí fora desse universo assim. Aí com os super-heróis eu quis ficar com os personagens local meu e “O Guardião” foi o primeiro. Então eu criei “O Guardião” de Bauru, depois eu fui para a minha cidade natal, Ourinhos, aí fui pegando as cidades mais próximas, aí eu fiz O Guardião Real de Santa Cruz do Rio Pardo, fiz O Fera Negra de Botucatu e O Minuano de Jaú. Eu quero fechar vários personagens com vários heróis de toda região.
A produção de “Terra de Breasal” é sobre fantasia medieval, outro gênero e você utilizou modelos para a projeção dos personagens, amigos e tal. Como foi essa experiência?
Gonçalez: O Breasal começou em 2015 eu acho, é uma história de fantasia, arte fantástica e eu pretendo fechar em trilogia; depois fazer histórias fechadas de alguns personagens, fora a história toda fazer alguns dos personagens. E eu quis fazer um mapa só dentro do estado de São Paulo, continuando tudo local. Eu continuei o histórico de navegações, os portugueses chegando, mas isso alterando alguns séculos atrás e usei uma mitologia que os celtas já tinham vindo aqui antes e tal. E nisso aí eu fiz como que aqui nos países tropicais tivesse a fabula, a fantasia toda do sobrenatural e coisas fantásticas. Com essa importância eu quis registrar, alguns amigos eu usei de modelo, quis deixar alguns registros ali, usei meu pai também como modelo de rei e eu quis dar uma riqueza de sensualidade e erotismo, então convidei várias modelos que usei como referência.
E o pessoal curtiu essa experiência?
Gonçalez: Curtiu, eu estou continuando com o trabalho, esse ano eu voltei para a segunda parte da história, continuo recebendo material de fotografia e é uma arte mais realista, então a beleza dos quadrinhos cativa mais as pessoas.
Fanzine é uma coisa que você produziu bastante, Crônicas do Além é um que reúne histórias de terror. Como você vê esse gênero nos quadrinhos nacionais, atualmente? Um panorama.
Gonçalez: Então, os quadrinhos de terror sempre foram um clássico nosso, sempre teve título desde os anos 40 e 50, nos anos 80 foi forte e tá meio apagado agora nessas últimas duas décadas. Tem muita coisa alternativa, underground, que o pessoal ainda faz. O próprio Calafrio, mesmo terror que era clássico nos anos 80, tem um rapaz no Paraná reeditando de novo o título. Mas é vendido só em correio, internet, essas coisas, não tem distribuição em banca. Era um gênero forte nosso, criação nossa e deixaram apagar também, existe só uma velinha acesa, querendo apagar né. E eu vim com esse título, porque eu já era fã de terror e queria continuar fazendo, essa foi uma ideia de reunir vários desenhistas próximos de mim e colocar tudo em uma edição só e eu consegui, tem vários desenhistas dá própria cidade e amigos da região que cria também às vezes para continuar essa edição.
Bom, você tem uma editora, a Hiboriana, o que você acha que é pior na função de desenhista aqui no Brasil?
Gonçalez: Então, a Hiboriana eu comecei em 2012, vai fazer cinco anos ano que vem. Eu criei O Guardião em 2011, aí o material foi ficando pronto e em 2012 eu já lancei com o selo da Hiboriana. Então, eu fiz um fanzine um ano antes com a temática de cangaço, em uma divulgação pela internet, foram alguns amigos que fizeram para divulgar a capa, ele era um fanzine, cru, capa preto e branco, feita no nanquim e não tinha selo nem nada, só tinha o título e mais nada, algo bem cru, artesanal. Como isso começou a circular em outro cenário, eu senti que tinha que ter o selinho, eles davam a importância por um selo editorial, ninguém sabia de onde vinha o selinho, mas tinha que ter o selinho. Aí foi onde eu me preocupei com o selo e dar um tratamento de colorização com a capa; nesse intervalo eu fiquei pensando no título da editora, inventei o Hiboriana que tinha a ver com universo de quadrinho, que era do Conan, medieval; e usei ele.
Aí acabou, a hora que coloquei o selo a ação foi imediata, a aceitação foi na hora, aí criei página e só fui recebendo amigos, mensagens, venda por internet e eu consegui ficar com a produção em cima, sabe; em quatro anos ainda estou fazendo. E no Brasil eu acho que continua parado, se você for na banca continua sem material nacional, continua uma coisa meio elitizada ainda, só grandes nomes que fazem álbuns de luxo em capa encadernado e vê parar na livraria, existe um pessoal que consegue produzir um material alternativo que eu vejo na divulgação da rede, mas não dá para falar que existe uma grande produção que mexe com tudo, mas os quadrinhos nacionais ainda estão parados.
Bem Gonçalez, você tem algum lançamento próximo?
Gonçalez: Tenho, então, eu estou fazendo a edição nº 2 de A Turminha (quadrinho infantil que reúne alguns alunos e colegas do autor) que é para o natal agora, estou com o lançamento do herói de jaú, O Minuano que também está pronto, falta só fazer o lançamento junto com a banca e depois vou continuar. Quero fazer uma aventura com todos os heróis juntos, dentro da cidade aqui de Bauru, eu comecei com a saga e preciso fechar ela, que vão enfrentar alguns alienígenas e tal, faz tempo, mas eu não consegui fechar ainda. Mas eu quero criar mais personagens depois.
Para mais informações, o estúdio do Gonçalez fica na Praça D.Pedro II, 3-13 Centro- Bauru. Telefones para contato: (14) 99719-6414 (14) 3322-7029 / Ourinhos. E também pela página no Facebook da editora Hiboriana.