
Marcela Jardim
A Televisão infanto juvenil sempre desempenhou um papel fundamental na formação cultural de diferentes gerações, proporcionando entretenimento e, muitas vezes, moldando percepções sobre amizade, escola e desafios da adolescência. Dentro desse cenário, a Nickelodeon se destacou, ao longo dos anos, com produções que marcaram época, como iCarly, Drake & Josh e Zoey 101. Entre esses sucessos, Brilhante Victória (Victorious, no original) se consolidou como um dos grandes marcos do gênero, comemorando 15 anos desde sua estreia em 2010. Criada por Dan Schneider, a série inovou ao combinar Comédia, Música e tramas adolescentes, acompanhando a jornada de Tori Vega (Victoria Justice) ao ingressar na Hollywood Arts, uma escola de artes nada convencional, onde talentos são lapidados e conflitos juvenis ganham espaço.
Com um elenco carismático e performances musicais envolventes, Brilhante Victória rapidamente conquistou uma base de fãs fiel, tornando-se um verdadeiro fenômeno cultural da época. A série destacou talentos como Ariana Grande e Elizabeth Gillies que, posteriormente, construíram carreiras de sucesso fora da Nickelodeon. No entanto, ao longo dos anos, a produção passou a ser revisitada sob uma ótica mais crítica, especialmente no que diz respeito à consistência de seu roteiro e à forma como abordava certos temas sociais.

A primeira temporada, composta por 20 episódios, teve a missão de apresentar os personagens e estabelecer o universo excêntrico da Hollywood Arts. Episódios como Pilot mostraram o talento inesperado de Tori, impulsionando-a para o centro das atenções após substituir sua irmã Trina (Daniella Monet) em uma apresentação musical. Outros momentos marcantes incluíram The Birthweek Song, no qual Tori compõe uma música para o aniversário de Trina, e Freak the Freak Out, que trouxe uma das performances musicais mais icônicas da série.
O humor caótico e exagerado também foi explorado em episódios como Tori the Zombie, em que a protagonista tem problemas com uma maquiagem artística assustadora, momentos antes de uma peça de teatro, e Wi-Fi in the Sky, que satiriza a dependência tecnológica ao retratar os personagens tentando redigir um roteiro através de videochamadas. Além disso, os métodos incomuns do Professor Sikowitz (Eric Lange) são mais do que esquisitos e engraçados, também mostram que aprender pode ser divertido, como retratado no episódio Sleepover at Sikowitz’s, onde os alunos não podiam sair do personagem designado, não importava o que acontecesse.

Além do entretenimento, a série abordava algumas questões sociais, ainda que de maneira superficial. Episódios como Jade Dumps Beck exploraram dinâmicas de relacionamentos tóxicos, mostrando o ciúme excessivo de Jade (Elizabeth Gillies) e seu impacto no namoro com Beck (Avan Jogia). Já The Diddly-Bops ironizou a exploração da indústria musical infanto-juvenil, ao mostrar os protagonistas forçados a cantar uma música ridícula para agradar um público infantil e prejudicando a imagem de André (Leon Thomas III) para uma produtora musical.
Questões sobre adversidades e união feminina também apareceram em episódios de outras temporadas, como Tori and Jade’s Play Date, em que Tori e Jade precisam trabalhar juntas em uma peça e aprendem a lidar com suas diferenças. No entanto, muitas dessas temáticas foram tratadas de forma cômica, sem aprofundamento, deixando de lado debates mais sérios sobre o impacto das relações interpessoais e da indústria do entretenimento na vida dos jovens artistas. Até mesmo a dificuldade de artistas iniciantes encontrarem investidores foi retratada na série, através do episódio Wok Star, em que Tori precisa que alguém pague os custos da peça teatral de Jade, que busca a aprovação do pai em relação à carreira escolhida.

Apesar de seu sucesso, Brilhante Victória também apresentava fragilidades, principalmente no desenvolvimento de certos personagens. Cat (Ariana Grande), por exemplo, inicialmente era apenas excêntrica e divertida mas, ao longo da série, se tornou exageradamente infantilizada, o que hoje levanta debates sobre o modo como personagens femininas são retratadas na Televisão juvenil. Trina, por sua vez, era frequentemente reduzida ao papel de alívio cômico exagerado, com a produção constantemente ridicularizando seu talento artístico. Além disso, a falta de um enredo contínuo e o excesso de episódios centrados em situações absurdas contribuíram para uma narrativa inconsistente, mesmo que divertida.
Outro ponto que ganhou destaque nos últimos anos foi o ambiente nos bastidores da produção. Com o envolvimento de Dan Schneider, produtor da série, vieram à tona relatos sobre um ambiente de trabalho questionável na Nickelodeon, incluindo situações desconfortáveis envolvendo os jovens atores e conteúdos inapropriados inseridos de forma sutil no seriado. Essas revelações trouxeram um olhar mais crítico para Brilhante Victória, levantando debates sobre a conduta da indústria televisiva infantojuvenil e os desafios enfrentados por atores mirins e adolescentes.

Apesar de seu impacto cultural e do carinho que muitos fãs ainda nutrem por Brilhante Victória, a série não está isenta de críticas. Questões como a falta de aprofundamento em certas tramas e a construção de alguns personagens são frequentemente debatidas, assim como a forma como o humor, por vezes, reforçava estereótipos. Além disso, a influência de Dan Schneider, criador da produção, passou a ser questionada devido a relatos sobre o ambiente de bastidores em suas produções. Esses fatores fazem com que a obra seja vista, hoje, de maneira mais complexa, equilibrando nostalgia e reavaliação crítica.
Ainda assim, é inegável que Brilhante Victória marcou uma geração e contribuiu para o sucesso de diversos artistas que passaram por seu elenco. Seu legado persiste não apenas na memória afetiva dos espectadores, mas também em discussões sobre o impacto da Televisão infanto juvenil na formação do público. Mesmo com suas limitações, a série conseguiu cativar e entreter, deixando sua marca na cultura pop. Assim, ao revisitar produções como essa, é possível não apenas celebrar seu sucesso, mas também refletir sobre a evolução das narrativas destinadas ao público jovem e a necessidade de conteúdos mais bem estruturados e responsáveis.