Sherlock: O Médico e o Detetive

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(Foto: Sidney Paget)

Danielle Cassita

Quando falamos de histórias policiais, poucos nomes são tão conhecidos na ficção quanto o de Sherlock Holmes, célebre detetive criado por Sir Arthur Conan Doyle. Nos contos, sempre acompanhado do médico John Watson, Holmes possui uma extraordinária – e digamos que bem surreal – capacidade dedutiva e resolve casos quando, nas palavras do personagem, a polícia está perdida e não sabe o que fazer.

As aventuras do investigador se iniciam no livro Um Estudo em Vermelho, publicado pela primeira vez em 1887. Durante as primeiras páginas, o leitor é apresentado à narração de John Watson, um ex-cirurgião que foi enviado ao Afeganistão durante o período de guerra. Ao ser ferido no ombro, ele retorna para tentar levar uma vida tranquila em Londres. Porém, após gastos excessivos com a estadia e um encontro com um velho amigo, John é levado para conhecer seu futuro amigo: Sherlock Holmes.

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Elementar, meu caro: o autor Sir Arthur Conan Doyle (Foto: Reprodução)

Há duas partes na obra: na primeira, assassinatos ocorrem em Londres e parecem estar ligados. Holmes, que se considera um detetive consultor (e, como ele mesmo inventou a profissão, é o único no mundo), se envolve nas investigações e tem um papel mais ativo do que até mesmo os policiais – e não hesita em mostrar isso a eles. Suas deduções são ágeis e inusitadas, dando um ar quase divino para o personagem, já que nem mesmo Watson consegue acompanhar o raciocínio do colega. Já na segunda parte há um flashback e o ambiente muda para o deserto de Utah, envolvendo uma comunidade de mórmons e um casamento arranjado.

O início da narrativa não é tão atraente quanto as cenas de investigação, já que se trata de John Watson contando sua própria história e situando o leitor. Com a entrada de Sherlock, pode-se dizer que a leitura ganha agilidade – apesar de, talvez, causar desânimo com o raciocínio e deduções aparentemente súbitos e sem coerência. Ainda, na segunda parte, leitores que não estiverem tão envolvidos com a história podem estranhar a súbita mudança de cenários que ocorre.

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No meio de tantas adaptações das histórias de Holmes e Watson, a BBC criou a sua própria – mas, agora, em formato de seriado. Tanto o piloto quanto o primeiro episódio oficial são chamados de Um Estudo em Rosa, uma clara referência à obra citada acima. Nos primeiros minutos, as cenas iniciais são de um John Watson atormentado por suas memórias da guerra e frequentando a terapia. Além disso, ele possui um problema na perna, que sua terapeuta acredita que seja psicológico. Numa caminhada no parque, ele reencontra  Stamford – e aqui começam as semelhanças com o livro.

Como na obra literária, ele está passeando em Londres e encontra seu velho amigo. Então, quando conversam, comenta que está procurando um lugar para morar, e ele ri. Diz que ele foi o a segunda pessoa a dizer aquilo, e a cena muda para um zíper sendo aberto e um rosto observando a câmera de cabeça para baixo. É assim que Sherlock Holmes é apresentado: suas excentricidades entram em cena sem cerimônia, principalmente no momento em que ele é apresentado chicoteando um cadáver apenas para fazer um experimento.

Além das surpresas geradas pelo personagem principal, há aquelas da ambientação do seriado. Tudo ocorre em Londres nos nosso dias, de modo que um recurso interessante utilizado na edição da série são textos posicionados na tela para ilustrar o pensamento do detetive. São tempos modernos e, assim, o uso de celulares é perfeitamente normal. Ainda no início do episódio, Sherlock manda mensagens de texto com a palavra “errado” para repórteres e a polícia numa coletiva de imprensa, as quais são exibidas escritas simultaneamente.

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A apresentação do personagem prof. Moriarty, o conhecido inimigo de Holmes, é interessante: Watson é intimado a se encontrar com um homem que lhe pergunta qual sua relação com o detetive e insiste em dizer que é o inimigo deste – ou é, pelo menos, na cabeça dele. Descobrimos posteriormente que se tratava do irmão de Sherlock, Mycroft Holmes. Porém, Moriarty é citado no final do episódio – o que não ocorre no livro.

O uso do espaço negativo nas filmagens e as edições nos cortes de cena também são usados de forma inteligente. Apesar disso, é bom lembrar que o enredo se desenrola de forma lenta, e o mistério todo é compreensível apenas nos minutos finais.

Vale lembrar que, ao menos no início, ambos os personagens apenas convivem: John, maravilhado com o intelecto de seu colega de quarto – e, eventualmente, estranhando seus hábitos – e Sherlock, com seus ares de superioridade e deduções acima da capacidade comum. Porém, aqueles que decidirem acompanhar a história dos dois, encontrarão no final tanto da série quanto do livro uma forte relação de amizade criada com muito esforço e lealdade.

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