Game of Thrones – Primeira temporada: A beleza está no poder

trono de ferro

Assento dos reis de Westeros, o Trono de Ferro é um símbolo de poder e autoridade do rei. Supostamente foram utilizadas mil espadas para sua construção.

Luana Brigo

Há quase 20 anos uma das maiores sagas ficcionais tomava forma. Em 1996, o autor George R. R. Martin trouxe vida, e por que não dizer a morte, à personagens hoje tão conhecidos. O universo construído em “As Crônicas de Gelo e Fogo” se passa em Westeros, um dos quatro continentes conhecidos desse mundo, composto em sua maior parte pelos Sete Reinos. George R. R. Martin não poupa seus leitores de detalhes minuciosos, trabalhando diferentes pontos de vistas ao longo de seus cinco livros (Guerra dos Tronos, A Fúria dos Reis, A Tormenta das Espadas, O Festim dos Corvos e A Dança dos Dragões ), que compõem um total de mais de 3,6 mil páginas. A adaptação da série para TV, produzida pelo canal HBO,  teve início em 2007, tendo sua estreia em 17 de abril de 2011. Apesar da série de livros ser conhecida por “As Crônicas de Gelo e Fogo”, a série é nomeada a partir do primeiro livro da saga. Outro ponto chamativo da série são suas produções de grandes proporções, diferentes locais de filmagem, extenso elenco e seus gastos. A série teve repercussão extremamente positiva, recebendo 26 Emmy Awards até o momento.

Assim como nos livros, uma das principais lições que aprendemos na série é jamais nos apegarmos a um personagem. A morte é um dos elementos mais constantes na narrativa de Martin, que inclui cenas de nudez, estupro, desmembramento e até mesmo incesto. O destino de cada um é incerto. Pequenas decisões, promessas que não são cumpridas podem desencadear desde a quebra de alianças até mesmo guerras. A transposição das páginas para a tela é feita de maneira crua e realista, sem suavizar a violência existente nos livros. O autor revela os fatos históricos que compõem o passado do Sete Reinos, mas ao mesmo tempo, o faz de forma fragmentada, alimentando lentamente o leitor com o seu quebra-cabeça.

Aqueles que apreciam romances da Europa na época medieval e elementos de fantasia gostarão dos detalhes criados por Martin, que podem ser encontrados nas religiões, na fauna exótica e nos diferentes povos. Na história de Martin a religião é bem trabalhada, seja pelos seus rituais ou pelos seus símbolos. O continente de Westeros possui três religiões predominantes: a fé dos sete, os deuses antigos e o deus afogado. Entretanto na primeira temporada o elemento religioso ainda não é tão explorado.

Os_Sete_got
A Fé dos Sete tem como símbolo a estrela de sete pontas, cada um representando uma figura: O pai (a justiça), a mãe (a misericórdia), a donzela (a pureza), a velha (a sabedoria), o guerreiro (a força), o ferreiro (a criação) e o estranho (a morte)

Ao longo da primeira temporada, George R. R. Martin trabalha com quase trinta personagens principais, fazendo com que cada um obtenha espaço para ter sua história desenvolvida. É importante frisar que qualquer personagem está sujeito a falhas. Vemos como principal exemplo disso Eddard Stark (Sean Bean), Lorde de Winterfell. Ele é uma das figuras que mais simboliza o senso de justiça e honra na série, apesar de ele mesmo possuir um filho bastardo, Jon Snow (Kit Harington), o que significa que em algum momento não pode manter-se honrado para com a própria esposa.

Também somos apresentados as chamadas Grandes Casas, compostas pelas famílias mais poderosas de Westeros: Stark, Lannister, Baratheon, Targaryen, Martell, Tyrell, Tully, Arryn e Greyjoy. Com excessão da casa Targaryen, cada uma das famílias governa um território, jurando fidelidade a Coroa. No entanto, o que a primeira temporada logo  nos mostra são personagens complexos, capazes tanto de atos de bravura quanto  de traições e manipulações. Nada representa mais beleza do que o Trono de Ferro, ocupado inicialmente na primeira temporada pelo Rei Robert Baratheon. Clãs entraram em guerra pelo desejo de subir ao trono, formando uma rede de intrigas e conspirações, onde algumas vezes membros da própria família representam um perigo. É nesse clima que a primeira temporada da série se desenvolve.

Casas-Game-of-Thrones
As bandeiras das Sete Casas de Westeros

A primeira temporada da série começa representando uma época de prosperidade para Westeros, em função do verão que já dura uma década. Entretanto os habitantes do norte conhecem o inverno melhor que ninguém e alertam quanto a sua chegada. Por trás da aparente paz entre os Sete Reinos, as casas Stark e Lannister disputam por sua influência diante do rei. O conflito no pode ser percebido, em especial, pelos diálogos ácidos entre Eddard Stark e Cercei Lannister (Lena Headey), a rainha,  e também Catelyn Stark (Michelle Fairley) e Jaime Lannister (Nikolaj Coster Waldau).

Nos primeiros episódios a disputa entre as casas se dá de forma silenciosa, porém o estopim para que o conflito tome novas proporções, por mais singelo que pareça, é desencadeado já no primeiro episódio: a queda de Bran Stark de uma das torres de Winterfell. Após descobrir acidentalmente um dos segredos mais sujos dos Lannister, o garoto é empurrado da torre por Jaime Lannister. Uma vez que o garoto sobreviveu, a segunda tentativa de por fim a sua vida –  para que ele não conte a ninguém o que viu – leva sua mãe, Catelyn Stark a buscar provas do culpado e a tomar medidas ousadas.

As desavenças entre as casas Stark e Lannister nesta temporada chegam ao limite, com a morte “acidental” do Rei Robert Baratheon, sucedendo assim há inúmeros confrontos para ver quem assumiria o trono. Eddard Stark, a mão do Rei (principal conselheiro), deveria assumir o cargo até que filho mais velho de Robert, Joffrey Baratheon (Jack Gleeson) atinja a idade necessária. Contudo, este último pedido do rei faz com que conflito se torne cada vez mais aberto, envolvendo outras casas, que apoiavam também os outros dois irmãos do rei, Stannis (Stephen Dillane) e Renly Baratheon (Gethin Antony).

Um dos ambientes mais chamativos da série é a Muralha. Com altura de 200 metros e feita de gelo, ela representa a única barreira entre a fronteira norte do Sete Reinos e as Terras para Lá da Muralha, território dos povos selvagens e de criaturas há muito tempo não vistas pelos homens. A Muralha é mantida pela Patrulha da Noite, uma ordem de irmãos juramentados que prometeram defender o reino dos homens do que está além daquela barreira. Um dos personagens regulares da série, Jon Snow faz parte dessa ordem.  

A trama da primeira temporada, porém não é ambientada apenas em territórios de Westeros, mas também no continente de Essos. Nele assistimos a jornada de outra personagem em busca do Trono de Ferro, Daenerys Targaryen (Emilia Clarke). Personagem que em suas primeiras aparições somente chama atenção por sua beleza, mas inapta para exercer função de líder e comandante de um exército. Nela vemos alguém que pouco conhece sobre Westeros, mas que afirma querer tomar o trono de ferro, algo que é seu por direito.  Ao longo da primeira temporada vemos o lento e forçado amadurecimento da personagem.

coração game of throens
Em uma das cenas mais chocantes da temporada, Daenerys Targaryen, agora parte dos Dothraki, dado seu casamento com Khal Drogo (Jason Momoa), precisa provar sua força em um ritual comendo um coração de um cavalo

As Crônicas de Gelo e Fogo se diferenciam das outras narrativas fantásticas, como por exemplo Senhor dos Anéis, Eragon e Harry Potter. A presença de um herói central, a luta entre ele e o vilão e  o seu triunfo final não aparecem nem nos livros e nem na série. São muitos os personagens trabalhados e é difícil ver algum deles de fato se sobressaindo, ainda sim os personagens de Martin não podem ser considerados totalmente bons ou maus , com Joffrey Baratheon sendo uma das poucas exceções, possuindo uma personalidade cruel  e tendo como diversão a tortura psicológica. Outra distinção da série é com relação as personagens femininas, que tanto dominam pontos de vista nos livros como também mostram toda sua complexidade ao longo dos episódios. Catelyn Stark e Cersei Lannister, embora de personalidades e crenças distintas, são referências da profundidade dada por Martin às mulheres e sua história. Logo na primeira temporada podemos comprovar isso, em função das ações de Catelyn para salvar seus filhos e nas manipulações de Cersei.

A série Guerra dos Tronos, em sua primeira temporada, trouxe uma variedade de elementos fantásticos e personagens que podemos acabar adorando ou odiando, dependendo de suas ações. O fato da série apresentar aos poucos pedaços da história de Westeros e do passado de seus personagens faz com que muitas pessoas acabem por criar teorias em relação ao futuro, principalmente quem acabará por ocupar o Trono de Ferro ou simplesmente sair vivo no final. Guerra dos Tronos vem provando qualidade na adaptação dos livros, sabendo fazer mudanças quando necessário, como por exemplo a idade dos personagens. Seria complicado a série ser aprovada com as cenas de sexo envolvendo menores de idade, mesmo em um canal como a HBO. Por hora basta fazermos nossas apostas e esperarmos para quem ver quem ficará de pé no final.

Deixe uma resposta