Cineclube Persona – Março/2018

Os Beatles no filme Yellow Submarine, de 1968 (Reprodução/Rolling Stone)

Cá estamos com mais um cineclube! A seleção desse mês foi menor, mas não menos ácida, com dois longas que prometiam muito e entregaram pouco. Se liga:

Maria Madalena

Por muito tempo, a apóstola de Jesus foi tida como uma prostituta. O próprio Vaticano só corrigiu o erro em 2016, quando o Papa Francisco transformou 22 de julho em dia de festa litúrgica. Partindo dessa premissa de retificação, o diretor Garth Davis (Lion) busca engrossar o coro com seu novo longa-metragem.

A proposta é nobre, e o elenco não fica atrás: Rooney Mara, Joaquin Phoenix e Chiwetel Ejiofor estrelam este drama que, apesar de bíblico, possui foco humanista. Nenhum personagem é unilateral – nem mesmo Jesus e Judas, tidos respectivamente como herói e vilão quase sempre.

Por um lado, não há como negar que faz justiça à história de Maria Madalena, retratada como a seguidora mais próxima de Cristo em tom quase solene. Na antemão, é difícil afirmar que só isso basta para redimir o ritmo modorrento (que parece prolongado pela trilha sonora pomposa e enquadramentos de paisagens gratuitos). No fim, vale mais como ato simbólico do que como obra sólida. – Nilo Vieira


Uma Dobra no Tempo

A Disney é famosa por seus filmes fascinantes, dotados de enredos maravilhosos que prendem o leitor do começo ao fim e personagens cativantes que nos fazem por vezes derramar lágrimas em alguns momentos do filme, sendo eles infantis ou adultos. Esse não é o caso de Uma Dobra no Tempo.

O filme, dirigido por Ava DuVernay, é baseado no romance de mesmo nome escrito em 1963 por Madeleine L’Engle. Conta a história de um renomado cientista envolvido com pesquisas sobre dobras no tempo e viagens no espaço, até que ele desaparece. Quatro anos mais tarde, sua filha Meg (Storm Reid) e o irmão dela, Charles Wallace (Deric McCabe) – nome repetido incontáveis vezes durante o filme -, ainda tentando superar o desaparecimento e a possível morte do pai, são convocados por três senhoras celestiais para procurá-lo.

O longa apresenta cenários fascinantes, é repleto de conceitos físicos interessantes e tenta passar uma mensagem de inclusão em diversos aspectos – como a protagonista ter sido trocada por uma adolescente negra, a líder das três senhoras celestiais, a senhora Qual (Oprah Winfrey), também é negra, e o filme é dirigido por uma mulher renomada. Podemos ver que se trata de uma produção da Disney por seus efeitos especiais ambiciosos e imersivos, deixando o filme simplesmente lindo.

O ponto negativo se dá por conta do roteiro e de algumas atuações. Os diálogos são superficiais, muitas vezes desconexos e diversos problemas se resolvem por conveniência. Vários trechos poderiam ser cortados sem alterar em absolutamente nada a trama, assim como o personagem que acompanha os dois irmãos durante a jornada, o colega Calvin (Levi Miller), um garoto bonito e popular que cai de paraquedas na aventura e tem um “crush” pela protagonista, mas é completamente irrelevante na história.

Se quiser assistir o filme, vá pela mensagem, pois, se for pelo enredo, prepare-se para ficar perguntando por diversas vezes se ainda falta muito. Como diria nosso ilustríssimo Chaves, “teria sido melhor ir ver o filme do Pelé”. – Raul Galhego

Deixe uma resposta