Mateus Conte
A peça “A Verdade”, de Florian Zeller, foi apresentada neste sábado (24/08), no Teatro Municipal de Bauru. Dirigida por Marcus Alvisi com tradução de Silvio Albuquerque, a apresentação contou com Diogo Vilela, Bia Nunnes, Paulo Trajano e Carolina Gonzalez, tendo tradução simultânea em Libras (Língua Brasileira de Sinais).
Durante seus 80 minutos, o espetáculo tratou, em suma, da (falta de) confiança no relacionamento conjugal. Em cena participam dois casais, que, em meio a ações e omissões cotidianas, descobrem segredos sórdidos uns dos outros. A história é formada pelo protagonista, Michel (Diogo Vilela), sua esposa Laura (Bia Nunnes), seu melhor amigo Paulo (Paulo Trajano) e sua esposa Alice (Carolina Gonzalez).
Michel é meticuloso em sua arquitetura das mentiras, simulando diversos estados psicológicos para esconder seus segredos e enganar os demais personagens, devido à sua crença que a mentira confortante é melhor que a verdade dolorosa. Ainda mais minucioso é Paulo, que com sua linguagem corporal pouco expressiva acaba tornando-se misterioso, aliado à sua fala tranquila que transmite um ar de autenticidade e, por vezes, consolador. Laura segue na mesma linha, de calmaria e mistério, sendo Alice é mais extrovertida, formando o contraponto a essas personagens. Essa quantidade abissal de mentiras torna o título da peça uma ironia per se.
A peça exige, de certo modo, uma dose de raciocínio para acompanhar as diversas reviravoltas na história, e discernimento para separar o que é verdade e o que é mentira. a cada peça que entra na trama, mais o nó na cabeça se aperta. Porém, devido ao seu desenvolvimento fluente, a peça conta com uma linguagem de fácil entendimento.
Talvez por isso, há tempos não via o público gargalhar tanto em um espetáculo – opinião compartilhada pelo próprio Diogo. O teatro, quase lotado, recebeu bem as piadas do roteiro, especialmente as referentes ao cinismo do personagem de Diogo Vilela, comemorando seus 50 anos de carreira de forma excelente neste espetáculo.
Honrando a escola francesa de teatro, o proeminente dramaturgo Florian Zeller produz uma obra que muito lembra o vaudeville: comédia ligeira baseada em intrigas, seguindo os mestres do gênero Eugène Labiche e Georges Feydeau.
Criada em 2011, a peça teve rápido crescimento internacional, sendo sucesso de público e crítica. O texto ganhou o Prêmio Laurence Olivier 2017 de Melhor Comédia Estrangeira em Londres e atualmente tem montagens de sucesso por 13 países.
Seguindo uma tradição das últimas peças que passaram pela região, a peripécia e o reconhecimento encontram-se no final do texto, necessitando de outra apresentação para ser plenamente compreendida, desta vez com outro entendimento. No entanto, a peça teve apenas uma apresentação nas três cidades que passou.
O cenário é simples, mas muito bem planejado, de modo que os mesmos móveis conseguem formar quatro locais diferentes na encenação, mudando poucos elementos entre as cenas. O figurino ficou por conta de Ronald Teixeira e Guilherme Reis, que preferiram transmitir uma imagem formal e elegante, própria da alta classe francesa onde a história se passa. Pouco usa-se o áudio, mas quando teve de ser acionado entrou um pouco atrasado na cena. Entretanto, de nada atrapalhou o andamento da peça, que não pecou em nenhum outro momento. Já a iluminação, trabalho de Maneco Quinderé, é simples e sem mudanças bruscas, com claridade baixa sem perda de compreensão da expressão facial dos atores.
Em entrevista ao Diário de Uberlândia, Diogo Vilela conta que a peça não dispôs de recursos de leis de incentivo, necessitando de arrecadação de recursos pelos próprios produtores. “A gente não esperava esse êxito, principalmente por estarmos trabalhando com o texto de um autor novo, que pouca gente conhecia”.
Diogo Vilela e grande elenco, voltem sempre!