Vinyl: Sexo, drogas, violência, dinheiro e Rock n’ Roll

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João Pedro Fávero

O que esperar de uma série criada pelo conhecido diretor Martin Scorsese, o frontman dos Rolling Stones Mick Jagger e o produtor Terence Winter, de Boardwalk Empire e The Sopranos? Existem elementos de um filme sobre a máfia do jeito que Scorsese gosta, adaptados para o formato de série por Winter, misturados com todo o conhecimento sobre a indústria musical dos anos 70 adquirido na prática por Jagger, e tudo isso funciona bem. Logo no seu primeiro episódio, “Vinyl” mostra que tem tudo o que um blockbuster garantido teria, seguindo o velho lema de sexo, drogas e rock n’ roll.

A série se passa em Nova York no ano de 1973, e no primeiro episódio acompanhamos como Ritchie Finestra (Bobby Cannavale) tenta ressuscitar sua gravadora American Century vendendo ela para a gigante Polygram, comandada por alemães. Para isso acontecer, era necessário um contrato garantido da American Century com o Led Zeppelin, mas complicações monetárias e étnicas (o empresário do Led Zeppelin, banda inglesa, não quer estar em uma gravadora comandada por alemães “nazistas”) impedem. A partir daí, vemos toda a queda de Ritchie e seus demônios pessoais, as tentativas frustradas da sua gravadora em manter o catálogo de artistas renovado e relevante e ainda assim tentando fazer com que o acordo com a Polygram aconteça.

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Ritchie Finestra vem da nova tradição de anti-heróis carismáticos das séries de televisão americanas, como Don Draper de “Mad Men” e Walter White de “Breaking Bad”, isso é de se perceber logo nos primeiros minutos do episódio, que mostra flashbacks de uma época mais “inocente” do personagem, contrastando fortemente com a atual personalidade dele. Porém, mesmo com o episódio focado mais na vida de Ritchie, o grande destaque fica com a personagem Jamie Vine (Juno Temple), recepcionista da American Century mas que atua como uma “faz-tudo” lá dentro, desde ouvir demos de bandas que querem assinar com a gravadora até fornecer drogas e sanduíches para seus funcionários. A personagem é ambiciosa e podemos ver que nos próximos episódios irá escalar em importância.

“Vinyl” chama a atenção por nos colocar em um momento deveras interessante da história musical, quando o rádio era vital para o sucesso ou desgraça de um artista e as gravadoras subornavam emissoras e DJs para tocarem seus lançamentos. Como o ápice do rock n’ roll da época estava concentrado em bandas de glam rock e proto-punk (tanto inglesas quanto americanas), a cena auge do episódio se dá em um show do New York Dolls que faz um prédio, literalmente, desmoronar. Além disso, ela tenta engajar um nascimento prematuro do punk com a banda fictícia Nasty Bits, liderada pelo personagem Kip Stevens (Jamer Jagger, filho de Mick), e do Hip-Hop.

Apesar da série ter que manter uma uniformidade na direção, devido à seu formato, Scorsese consegue deixar sua marca em várias cenas, como em todo o ato envolvendo Ritchie e o DJ Buck Rodgers (Andrew Dice Clay) próximo ao final do episódio, e os voice-overs característicos do diretor. Em contraponto, a série peca principalmente na má escolha  dos intérpretes de rockstars reais, como Robert Plant (o exagerado Zebedee Row) e a versão peruquenta de Johnny Thunders (Jaster Leon), na confusa mistura entre real e fictício e na queda de ritmo durante o episódio.

No mais, “Vinyl” é um bom retrato de toda a cena musical da época, mostrando como toda a indústria funcionava de um jeito completamente diferente quando comparada à realidade atual dela. Sua trilha sonora é excelente, passando por ABBA, Black Sabbath, Humble Pie e Edgar Winter – os cenários e objetos em cena ajudam a realçar um belo vislumbre dos anos 70.

Mesmo com a audiência baixa do primeiro episódio nos Estados Unidos, com 760 mil espectadores, a HBO decidiu renovar a série para uma futura segunda temporada, provavelmente confiando em toda a produção envolvida na série. Aguardemos os próximos episódios para ver como a série se desenvolve, mas se o nível apresentado no seu piloto for mantido já estará de ótimo tamanho.

A própria HBO liberou o piloto legendado da série no YouTube, para o deleite dos aficionados por séries. Novos episódios vão ao ar todos os domingos, às 23 horas.

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