Victor Pinheiro
É difícil imaginar a mistura entre sucessos do pop internacional e o funk carioca ou um mix entre Nirvana e Olodum. Porém, há quem esteja disposto a criar essas combinações através da música eletrônica e ainda com uma pitada de humor. Um deles é João Brasil, considerado o rei do remix nacional. O DJ tem uma extensa lista de mashups incluindo Mc Bin Laden versus Coldplay em “Tá Tranquilo, Tá Clocks” e Calvin Harris e Os Avassaladores em “Summer é Foda”.
Em 2015, o músico foi banido definitivamente do SoundCloud após sua terceira conta na plataforma ser apagada devido a quebra de direitos autorais. O episódio rendeu declarações na versão brasileira da revista digital canadense VICE, nas quais João Brasil afirmou estudar novas opções para a carreira.
A trajetória do DJ na música é longa e curiosa. O músico se formou no conservatório de Berklee, um dos mais respeitados do mundo, na mesma turma da cantora de jazz, Esperanza Spalding. Na maior parte da carreira, João Brasil dedicou-se à composição de mashups e músicas eletrônicas sob forte influência do funk carioca. Ele também passou pela música brega. Tanto que entre seus principais hits autorais estão “Baranga” e “Moleque Transante“, o último a frente do grupo Rio Shock.
A fama do carioca no gênero eletrônico rendeu o convite para tocar na abertura das Paralimpíadas Rio 2016. O recente ‘boom’ na carreira do músico aconteceu, em boa parte, pela contribuição de outro DJ. Hardwell encerrou seu espectáculo no Ultra Music Festival do ano passado com o hit “Michael Douglas”, do EP #nuncamaiseuvoudormir (2016), de João Brasil. A faixa repercutiu em grandes eventos universitários como o Tusca e o Interunesp.
O hit atualmente possui mais de 3,3 milhões de plays no Spotify e João Brasil foi uma das atrações no Festival Planeta Atlântida, o maior evento musical da região sul do Brasil, que já contou com grandes nomes da música eletrônica como Tiësto e Infected Mushroom.
Apesar de #nuncamaiseuvoudormir marcar uma nova fase na carreira de João Brasil, o álbum ainda conserva elementos das obras anteriores do DJ, sobretudo, na composição das letras. “Hey Pugliesi, Deixa Eu Comer Maionese” e “Peteca é Peteca, Mandioca é Mandioca” retratam a ironia e até uma verdadeira gozação nas letras elaboradas pelo DJ. Além disso, a composição inclui poucos versos e os refrões são repetidos intensamente.
A presença do funk carioca em quase todo o EP é outro elemento marcante. A batida característica do gênero se mistura com recursos da EDM. Assim, João Brasil encontrou o caminho para conquistar o público universitário, sem desagradar seus antigos fãs.
Apesar da formação erudita, João Brasil encara a música e a carreira de modo extrovertido, inclusive com muitas interações com o público nas redes sociais. Mas sem esconder sua capacidade de combinar suas preferências e a sátira em produtos musicais de qualidade.
O DJ, no entanto, enfrenta um grande desafio: superar o desgaste do seu hit e emplacar uma produção regular, um problema comum na carreira de nomes do funk carioca e da música eletrônica. Por outro lado, João Brasil tem a oportunidade de crescer junto à cena eletrônica no Brasil, hoje recheada de trabalhos empolgantes como Vintage Culture e Victor Ruiz.