Zootopia: mais um acerto da Disney em animações

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Danielle Cassita e Guilherme Hansen

É muito comum as pessoas não darem importância a filmes de animação, com ideias prontas de que servem apenas para entreter e não passam nenhuma mensagem relevante ao público. Porém, a Disney tem provado nos últimos anos que esse conceito está completamente errado. Com animações bem feitas e também divertidas, seus últimos lançamentos provam que o conteúdo pode andar junto com o entretenimento.

Zootopia – Essa cidade é o bicho, lançado em 17 de março de 2016, não foge a essa regra. Tudo começa quando a coelhinha Judy Hopps, após 15 anos de insistência, consegue realizar seu sonho de ser policial na cidade de Zootopia.

Lá, ela chega com as mais diversas expectativas e sonhos para criar um mundo melhor, que são derrubados logo no começo: ao contrário do que imaginava, começa seu trabalho como guarda de trânsito e desacreditada por seus colegas, que a veem como um animal pequeno e indefeso. Quando toma a dianteira na investigação de uma lontra que havia desaparecido, ela precisa da ajuda de Nick, uma raposa malandra que passava seus dias com pequenas atividades ilegais e que também não a trata com muita seriedade; ele a relembra constantemente como é apenas uma coelhinha boba que deveria voltar para casa e criar cenouras.

O filme tem brilho já neste ponto: os pais de Judy nunca apoiaram seu sonho de ser policial e tentar melhorar o mundo – ou, melhor dizendo, queriam que ela seguisse a tradição familiar e trabalhasse na fazenda da família, com o cultivo de cenouras.

Durante o treinamento para policiais, a coelha tem seu mérito em um estilo que já vimos em Mulan: mesmo com dificuldades e falta de incentivo, se esforça o máximo que pode para se equiparar aos seus colegas e ser reconhecida. E consegue – ao menos, a primeira parte.

Zootopia mostra de maneira realista como o preconceito está arraigado nas pessoas, que julgam as outras baseadas em estereótipos preestabelecidos. Porém, o filme não cai em nenhum momento no pieguismo ou em lições de moral hipócritas – pelo contrário, o maior mérito do longa é mostrar como o preconceito é, antes de qualquer coisa, intrínseco ao ser humano e que deve ser combatido por cada um de nós.

Judy, a heroína, é a prova viva disso. Após ter achado os animais desaparecidos da cidade, ao justificar se novos sumiços poderiam acontecer, ela afirma que todos os animais predadores, por mais evoluídos que sejam, têm a tendência de serem selvagens e oferecerem perigo aos que os cercam. Além disso, apesar de estar com Nick e este não lhe oferecer nenhum perigo, ela carrega consigo o tempo todo um spray “anti-raposas”, o que demonstra que ela mesma está cheia de julgamentos dentro de si.

Nick e Judy: Amizade à prova de julgamentos
Nick e Judy: Amizade à prova de julgamentos

Embora traga todas essas mensagens embutidas no filme, Zootopia não deixa de lado o humor, com situações bem originais. Quando Judy e Nick precisam achar rapidamente o dono da placa do carro em que a lontra Emmitt estava quando desapareceu e se deparam com um departamento de trânsito tendo bichos preguiça como funcionários, é impossível não dar alguma risada perante a ironia da situação. Sem contar na própria relação entre os dois protagonistas, recheada de sarcasmo diante das diferenças que possuem e da necessidade de se unirem para resolver o mistério dos animais desaparecidos. Tudo isso junto com cenas de ação, que prendem a atenção do espectador até o final do longa, qualquer que seja sua idade.

Outro ponto interessante da produção é a quantidade de referências presentes, tanto a filmes da própria Disney quanto a outros longas cultuados. Um exemplo disso é a cena em que Mr. Big, um mafioso, faz uma referência clara a O Poderoso Chefão, que desiste de matar Judy e Nick por ser o dia do casamento da sua filha.

Mr. Big: mafioso, mas com o coração mole
Mr. Big: mafioso, mas com o coração mole

O filme é encerrado com uma quebra final de estereótipos: descobrimos que a vilã era uma personagem que também foi subestimada e fazia parte de minorias, e Nick, que além de predador – um ponto importante para a confiança dos habitantes de Zootopia – e traiçoeiro se torna um policial. E, como se não bastasse, a cena final traz a preguiça Flash dirigindo em alta velocidade pelas ruas da cidade.

Com toda essa junção de qualidades, não é difícil entender porque Zootopia ganhou 6 dos 8 prêmios aos quais foi indicado no Annie Awards, considerado o Oscar da animação, incluindo melhor animação, melhor direção e roteiro em cinema, o Globo de Ouro de melhor longa animado, além da esperada indicação ao Oscar 2017 de melhor animação, cujo resultado sai no próximo dia 26. Apesar de concorrentes de peso, como Kubo e as cordas mágicas e Moana – Um mar de aventuras, Zootopia tem todas as chances de levar também a estatueta mais desejada do cinema.

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