Em ano de pandemia, o otimismo da segunda temporada de Zoey e sua Fantástica Playlist se faz necessário

Cena da segunda temporada de Zoey e sua Fantástica Playlist. Vemos uma mulher ruiva parada nas escadas de uma pequena arquibancada. Ela olha assustada para as várias pessoas que cantam e dançam ao seu redor. Ela veste um suéter vermelho com estampa de flores brancas por baixo de um paletó rosa. Usa calça jeans, sapatos pretos e carrega uma bolsa pequena no ombro direito.
O segundo ano do musical da NBC recebeu 5 indicações ao Emmy 2021 (Foto: NBC)

Caio Machado

A premissa de Zoey e sua Fantástica Playlist chama atenção pela originalidade. Depois de um evento atípico, uma jovem programadora passa a presenciar números musicais em seu cotidiano, performados por conhecidos ou não. Porém, somente ela consegue ver essas apresentações, onde as pessoas utilizam as músicas para expressarem o que estão sentindo naquele momento. 

Em uma entrevista dada ao The Hollywood Reporter, o criador da série, Austin Winsberg, conta que a ideia surgiu como forma de lidar com o luto pela morte de seu pai, que tinha a mesma doença do pai de Zoey na série. Por causa da doença, não sabia o que se passava dentro da cabeça do pai e começou a pensar “e se ele estivesse vendo o mundo através de grandes números musicais?”. Segundo Winsberg, essa ideia o deixou feliz, mais esperançoso.

Saber disso torna o segundo ano da série ainda mais emocionante e pessoal. Na nova temporada, Zoey também precisa aprender a lidar com o luto enquanto encontra novos dramas e vê apresentações musicais dignas da Broadway, graças ao poder extraordinário que adquiriu no primeiro episódio. No Emmy 2021, a série recebeu 5 indicações nas categorias Melhor Coreografia em Programa Roteirizado, Melhor Direção Musical pelo episódio Zoey’s Extraordinary Goodbye, Melhores Músicas e Letras Originais e Melhor Atriz Convidada em Comédia, para Bernadette Peters.

Cena da segunda temporada de Zoey e sua Fantástica Playlist. Vemos uma mulher branca e ruiva, Zoey, sentada numa cama. Ela está deprimida e está com um cobertor branco sobre a cabeça, como se fosse um capuz. Ao lado dela, uma pessoa negra, vestida com um macacão amarelo e com cabelo cacheado e comprido tenta incentivar Zoey a sair da cama.
Além de ajudar os outros, a própria Zoey precisa de apoio para lidar com a dor do luto (Foto: NBC)

A segunda temporada da comédia dramática da NBC aproveita que tem um episódio a mais – 13 no total, em comparação com os 12 da primeira – e introduz diversas tramas novas. Dentre elas, vemos a mãe de Zoey, Maggie (Mary Steenburgen), tentando seguir com a vida depois do falecimento do marido, torcemos para que o restaurante de Mo (Alex Newell) e Max (Skylar Astin) dê certo, entendemos o estresse vivido por David (Andrew Leeds) e Emily (Alice Lee) como pais de primeira viagem, observamos o caos interior da própria Zoey… Isso sem mencionar as subtramas.

Pode parecer bastante coisa para uma temporada só, mas a série lida bem com cada um dos personagens que recebem a ajuda de Zoey no decorrer dos episódios; desenvolve os dramas e relacionamentos deles com uma sensibilidade rara, fazendo com que nos importemos com todos na mesma medida, não importa o tempo de tela que tenham. Assim como a protagonista, nós, espectadores, exercitamos nossa empatia pelos dilemas dessa galeria de personagens tão diversos.  

A empatia também está presente na forma como a série incorpora a representatividade LGBTQIA+ na narrativa, especialmente através de Mo, artista incrível, de gênero fluído e grande amiga da protagonista. Em Zoey e sua Fantástica Playlist, a diversidade é celebrada e tratada com naturalidade, como algo capaz de nos fazer melhorar como seres humanos. Aqui, há uma celebração das diferenças que ainda está em falta na TV. Uma das locações da temporada, o restaurante inovador de Mo e Max, MaxiMo, simboliza bem esse acolhimento: além de ter uma equipe formada por pessoas da comunidade LGBTQIA+, o local também é divulgado como um ambiente seguro para aqueles que fazem parte dessa e de outras minorias. 

Cena da segunda temporada de Zoey e sua Fantástica Playlist. Vemos uma mulher branca e ruiva dentro de um restaurante movimentado, durante a noite. Ela veste um paletó vinho e olha para trás. Atrás dela, à direita, há um bar. As paredes do local tem tijolos expostos e uma delas foi pintada com várias flores, de cores diferentes.
No MaxiMo, toda diversidade é bem-vinda (Foto: NBC)

A temporada também aborda outros temas, como o racismo na indústria da tecnologia e o cuidado com a saúde mental. Os roteiristas reconhecem a complexidade desses assuntos e tratam-os de forma respeitosa e cuidadosa, sem propor soluções simplistas ou alienadas. Traz um olhar que reconhece os problemas da sociedade atual, mas sem perder o otimismo e a esperança. É uma visão apaixonante de se acompanhar, principalmente em tempos de pandemia. 

A pandemia, aliás, não conseguiu abalar os números musicais da série. Mesmo com restrições na produção por causa do coronavírus, as performances estão melhores e mais elaboradas. Os gêneros variam, indo do soul de Black Man in a White World ao rock de Need You Tonight, e o escopo também – há números individuais e outros exigem dezenas de figurantes –, mas todos impressionam pela expressividade das coreografias e pela emotividade que os atores inserem nas músicas. É catártico e emocionante de um jeito que só os grandes musicais conseguem ser. 

Zoey’s Extraordinary Playlist fez bem ao não inserir a pandemia na trama da segunda temporada mas, infelizmente, sofreu bastante com os números da audiência e foi cancelada em junho. Depois de uma movimentação na internet, tanto dos envolvidos na série quanto de fãs apaixonados, foi noticiado que o serviço de streaming norte-americano Roku salvou a série e fará um filme natalino para continuar a história.  

Isso mostra o quanto o caminho esperançoso, otimista e empático da série conseguiu impactar as pessoas. Através de Zoey, sempre disposta a ajudar, vemos o quanto nossos relacionamentos, sejam eles românticos, familiares ou de pura amizade, nos dão força para continuar vivendo nos períodos de grande dificuldade. No fim, depois que os bens materiais desaparecem, o que temos de mais importante é um ao outro. Num contexto tão incerto e amedrontador quanto o atual, uma mensagem como essa é um conforto necessário. Por mais que pareça difícil de enxergar, há sempre uma luz no fim do túnel. Sempre.

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