Agata Bueno
Se o diário da jovem Britney Spears pudesse falar, ele soaria tão cativante quanto a menina de 16 anos que colocava seu coração em cada canção e toda a sua energia em suas coreografias. Lançado em Janeiro de 1999, …Baby One More Time não esconde o que pretende ser: as confissões e as promessas de amor de uma cantora adolescente. Entre as batidas animadas e as canções românticas, o disco que teceu os caminhos que levariam Spears a alcançar o título de ‘princesa do pop’ ainda é referência quando o assunto é o seu reinado conturbado em frente aos holofotes e sua influência na indústria musical.
O trabalho de estreia como cantora de Britney Spears vendeu mais de 25 milhões de cópias pelo mundo, tornando-se um dos álbuns mais bem-sucedidos de todos os tempos – e o projeto mais vendido dela até hoje. Além disso, …Baby One More Time foi certificado 14 vezes como disco de platina pela Recording Industry Association of America (RIAA) e rendeu a Spears a honra de ser a artista mais jovem a receber um certificado de diamante, também da RIAA. O sucesso estrondoso da jovem bailarina do Mississíppi foi muito além dos charts: o lançamento do disco inaugurou uma nova era na Música e transformou o nome dela em um ícone da cultura pop global.
Tudo começou nos corredores de um colégio, é claro, teria como ser diferente? O single que leva o nome do álbum foi o pontapé inicial e certeiro para uma era de coreografias, letras e melodias pensadas nos mínimos detalhes. A imagem de Britney Spears era o ponto focal e a personagem perfeita para a narrativa que a Jive Records e a mídia norte-americana criaram. A estética do disco manteve a imagem típica da garota virgem do revival para o pop teen do final da década de 1990. O que deu certo. Em uma mistura de autenticidade e interpretação, a cantora embarcou em uma jornada rumo ao estrelato a partir do momento em que vestiu um uniforme colegial em frente às câmeras.
Em um cenário em que Madonna dominava o pop, já na fase mais sexy e intimista, figuras femininas adolescentes eram escassas para contribuir com o gênero. Assim, a aposta foi certeira. Por ter um controle tão grande da imagem que queriam que Britney Spears passasse, o álbum é muito coeso. Os poucos feats, por exemplo, trazem um respiro leve e descontraído, como é o caso do dueto com Don Philip em I Will Still Love You, que aposta no romance jovem que supera obstáculos. Através de acordes simplificados, melodias-chiclete, refrãos cheios de coros e ganchos repetitivos, as letras exploram os temas amor, amizade e, claro, curtição. Algo que, hoje em dia, talvez não repercutisse da mesma maneira que 25 anos atrás.
Embora o conceito da produção envolva as confissões de uma adolescente norte-americana típica, não há uma única música que tenha creditado a jovem estrela como autora. Se a ‘princesinha do pop’ não escreveu nenhuma canção, de quem são os nomes creditados, afinal? Andreas Carlsson, David Kreuger, Eric Foster White, Jörgen Elofsson, Kristian Lundin, Max Martin, Mikey Bassie, Per Magnusson e Sonny Bono são os responsáveis pelas letras que não saíram da cabeça de milhares de ouvintes pelo mundo. Os produtores das 11 canções que compõem …Baby One More Time trouxeram o que havia de melhor e mais mainstream de seus trabalhos anteriores, além de uma mistura do cenário pop internacional, principalmente o europeu, com batidas e sintetizadores que pareciam de outro mundo.
A mistura resultou em um álbum de estreia perfeito para o final da década de 1990, em que Britney Spears ditava o ritmo que comandaria as paradas de sucesso no início de 2000. Com uma influência inegável do bubblegum pop, o disco começa com bastante força e mantém o ritmo através das batidas cativantes e dos coros melódicos. A trindade …Baby One More Time, (You Drive Me) Crazy e Sometimes já é um ‘gostinho’ do que as outras canções apresentariam. O ritmo frenético e a letra cativante, a batida metálica com uma narrativa perfeita sobre se apaixonar e a melodia envolvente de uma garota com sentimentos demais – que definiu a persona de Britney que o mundo se encantaria ao longo dos anos – foram o abre-alas perfeito; nada mal para uma adolescente de uma cidade pequena fazendo seu primeiro disco.
Já na metade da lista de canções, adentramos um tom mais maduro, quase confessional, em que Spears dá voz a músicas claramente românticas. Como toda boa diva pop, ela escancara as páginas mais doloridas de seu diário em Born to Make You Happy e From the Bottom of My Broken Heart, tracks que colocam acordes de violão em maior evidência, sem descartar a batida pop que guia o álbum de cabo a rabo. A exceção fica com o pop-reggae Soda Pop e a animada – até demais – I Will Be There, quase intrusas durante a introspecção aguardada no meio, mas que não deixam de seguir o fluxo do álbum como um todo.
A parte final do álbum volta com o ritmo e alto astral, mesmo sem ter tanta conexão com o estilo musical da jovem estrela. Inspirado no pop da década de 1980, Deep In My Heart é uma das músicas mais dançantes do álbum e parece ter influências de Elton John. A faixa semi-dançante Thinkin’ About You e a melancólica E-mail My Heart também estão ali. E só. Mas a chave de ouro fica com algo que inaugurou uma categoria que ela manteria em projetos futuros: os covers. Spears reivindica um lugar ao sol com sua vesão de The Beat Goes On , de Sonny (creditado como autor no álbum) e Cher. A canção encerra seu primeiro disco com um ‘gostinho de quero mais’ e seduz o público para apresentações ao vivo. Como foi visto nos espetáculos Hair Zone Tour (1998), Baby One More Time Tour (1999) e Crazy 2K Tour (2000).
Britney Spears não deixa pontas soltas em …Baby One More Time. A produção foi um trabalho pop de início de carreira que, embora tenha o interesse de emplacar, também conta a história de uma adolescente que, pela primeira vez, coloca seu nome e sua voz em canções que mostravam um pouco de tudo o que ela tinha a oferecer. O que, afinal, resultou em uma explosão de singles, videoclipes e sucessos da Música pop que, 25 anos depois, não saíram da nossa cabeça. Com ou sem diário, a ‘princesa do pop’ mostra que o título não é por acaso e que não há nada tão insuperável quanto o sucesso de seu primeiro álbum de estúdio.