grown-ish: crescer é assustador e maravilhoso

Cena de grown-ish. Nela está a foto de uma mulher negra, de cabelo cacheado preso em um coque alto. Ela veste uma regata marrom por cima de uma camisa branca e rosa listrada, com um conjunto de brincos de argolas douradas. Ela olha para uma garota na sua frente, que só é possível ver parte das costas e do cabelo. O fundo está desfocado.
O terceiro ano do spin-off de black-ish ganha sua primeira indicação ao Emmy em 2021 (Foto: Freeform)

Mariana Chagas

Sair da casa dos pais não é fácil. Apesar de muitos jovens crescerem sonhando com a tão desejada liberdade, ela vem com obstáculos que nos fazem ter vontade de correr de volta para nossa cidade natal constantemente. A verdade é que não importa o quanto planejamos e tentamos manter uma estabilidade, em algum momento tudo desmorona. E é nesse momento de muita confusão que a irmã mais velha dos Johnson se encontra.

Zoey cresceu sendo mimada pelo pai, obedecida pelos caçulas e popular na escola. Acompanhamos a personagem de Yara Shahidi durante as temporadas iniciais de black-ish sendo um grande destaque da história. Passando de uma adolescente dramática para uma jovem mais dramática ainda, quando entra na faculdade a menina tem um brusco choque de realidade.

Acostumada a ter tudo de mão beijada e ser sempre queridinha, é assustador quando a universitária percebe que terá de lutar não apenas para conquistar sucesso, mas até mesmo para fazer amigos. Aos trancos e barrancos, unida a um grupo de pessoas tão perdidas quanto ela, Zoey vai descobrindo mais sobre a vida e, principalmente, sobre si mesmo.

Cena de grown-ish. Nela está a foto de uma sala de aula com mesas brancas e paredes escuras. Centralizados estão quatro alunos: na frente, uma garota negra de cabelo cacheado usando uma jaqueta preta e um garoto negro de blusa militar olhando para atrás, aonde duas meninas negras usando a mesma blusa verde e mesmo estilo de penteado estão sentadas.
Quando perguntados o motivo de estarem naquela sala de aula, o grupo de jovens desabafa em um momento que os torna inseparáveis (Foto: Freeform)

A série foi criada pelos especialistas em sitcoms: Kenya Barris, criador de black-ish, e Larry Wilmore, creditado em roteiros de The Office e Um Maluco no Pedaço. Ambos arriscaram desviar da comédia do programa original para seguir um caminho diferente. Quebrando a quarta parede, os episódios são cheios de comentários sarcásticos e uma quantidade não-saudável de reclamações da protagonista para a câmera.

A verdade é que o crescimento fácil de Zoey a transformou em tão egocêntrica que fica difícil da menina conseguir enxergar o outro. Ela falha não com um ou dois, mas os três namorados que tem. Muito se diz que pessoas mal resolvidas machucam pessoas que sabem o que querem, e isso define cada relacionamento que a estudante viveu.

Cash Mooney foi o primeiro e talvez maior amor da jovem. O personagem, que ganha vida pela atuação de Da’Vinchi, surgiu na vida de Zoey em uma situação tirada de fanfic: para se manter no time de basquete, precisava de ajuda com os estudos. Sutilmente os sentimentos de ambos foram mudando, mas a meta do atleta de seguir jogando pelo país se manteve.

Cena de grown-ish. Nela está uma garota negra usando regata dourada sobrepondo uma blusa preta e uma saia de estampa animal. Ela olha para frente falando com um garoto também negro, que usa terno azul por cima de uma blusa preta de gola alta. O fundo é uma festa com luzes alaranjadas e diversas pessoas espalhadas pelo salão.
Marcus Scribner, o Junior de black-ish, faz participações especiais em alguns episódios da série de Zoey (Foto: Freeform)

Dividida entre seguir o menino ou continuar na faculdade, a estudante recebe uma visita que vem para auxiliar: Rainbow. A mamãe, papel da talentosa Tracee Ellis Ross, lembra a filha de suas metas originais e a importância de se escolher acima de qualquer garoto. Quando o namoro finalmente acaba, Zoey passa por um ritual de passagem para qualquer pessoa: seu primeiro coração partido.

Assim como toda recente solteira, a menina promete focar nos estudos e ficar longe de qualquer romance por um tempo. Mas como o universo ama desafiar sua palavra, as coisas esquentam com Luca (Luka Hall) e a dupla vive o mais lindo friends to lovers. Como não ser #TeamZuca?

Parceiro de Zoey nos estudos de moda, Luca é um verdadeiro artista: talentoso, misterioso e sempre chapado. O ator dá vida ao seu personagem carregando extrema naturalidade, de forma a ser difícil lembrar que o estudante da Cal U, infelizmente, não existe na vida real.

Cena de grown-ish. Nela está um garoto negro de cabelo estilo dread preso em cima da cabeça. Ele usa um quimono azul estampado por cima de uma blusa branca e calça jeans. Segurando um livro de capa laranja, o menino está encostado em uma mesinha. No fundo há diversos materiais escolares e uma parede decorada por fotos e luzes pisca pisca.
Se a Zoey não te quiser, Luca, eu quero (Foto: Freeform)

A faculdade onde a mágica acontece é, também, fictícia. A California University of Liberal Arts é gravada nos estúdios Walt Disney em Burbank, que foi fechada temporariamente por conta da pandemia. “Existem diversos protocolos e, infelizmente, L.A. não está realmente fazendo um trabalho ótimo com o covid, em geral”, comentou Yara sobre o porquê do programa precisar ter um tempo em hiatus.

Além do amor romântico, a caloura também não é lá uma ótima amiga também. Quando descobre que Nomi (Emily Arlook) está grávida, seus julgamentos sobressaem o apoio emocional que sua colega precisava. Ao ver o namorado de Jazz saindo escondido, esconde o segredo da personagem de Chloe Bailey

Apesar da lista enorme de vezes em que falhou com as pessoas ao seu redor, Zoey se esforça o dobro para melhorar a situação. No fundo, não há maldade nenhuma por trás dos seus erros, apenas a mais pura ingenuidade e um tanto de individualismo. 

Cena de grown-ish. Nela está uma garota negra de cabelo preto e liso. Ela usa argolas douradas grandes e uma blusa branca com uma estampa grande na frente. A menina está sentada, apoiando os braços em uma mesa e conversando com um senhor sentado a sua frente. Deste é possível ver apenas a cabeça com cabelos brancos e um pedaço de sua camisa azul.
Yara contou que originalmente a série se chamaria college-ish, mas como a ideia era abranger mais do que apenas a experiência da faculdade, resolveram mudar (Foto: Freeform)

As gêmeas que estão com a universitária no caminho ao diploma são Sky e Jazz Foster. Multifuncionais, Halle Bailey e Chloe Bailey também cantam a música de abertura. As irmãs, além de ótimas atrizes, têm entrado muito bem na indústria musical. Com os álbuns The Kids Are Alright e Ungodly Hour, a dupla já coleciona 5 merecidas indicações no Grammy.

Agora, as personagens de Francia Raisa e Emily Arlook são controversas. Ana Torres é uma latina republicana que já causou muito alvoroço no grupo – imagina ter coragem de dizer que pessoas conservadoras sofrem tanta opressão quanto pessoas negras – e constantemente faz comentários de caráter duvidoso. Nomi é uma garota bissexual que terminou com seu namorado por… Bom, por ele ser bissexual. Continuo tentando entender.

Cena de grown-ish. Nela estão duas meninas negras de cabelo longo. A da direita veste uma blusa cinza e olha para a outra com uma expressão de descrença. A da esquerda está de costas, sendo possível ver apenas sua blusa amarela. Ela segura um celular na mão, por cima de um prato de comida encostado na mesa na frente das garotas.
Chloe e Halle em cena de grown-ish (Foto: Freeform)

A discussão a respeito da comunidade LGBTQIA+, porém, não se limita na personagem que é uma péssima representatividade da letra B da sigla. Vivek (Jordan Buhat), o traficante de drogas no grupo, vive uma noite de festa onde beija um garoto e leva seus amigos à loucura. O desrespeito que Aaron (Trevor Jackson) e Douglas (Diggy Simmons) tratam o menino após saber do acontecimento leva a um dos episódios mais intensos.

Know Yourself, da terceira temporada, aborda homofobia e sua ligação com a masculinidade tóxica. O episódio recebeu a primeira e única indicação da sitcom ao Emmy. Concorrendo na categoria de Melhor Fotografia em Série de Câmera Única (Meia-Hora), o cineasta Mark Doering-Powell, que já é reconhecido por seu trabalho em Todo Mundo Odeia o Chris, agora representa grown-ish na competição.

Cena de grown-ish. Nela está um menino marrom de cabelo curto em um topete, vestindo uma jaqueta jeans por cima de uma blusa amarela. Ele tem a mão entrelaçada com a da garota ao seu lado, branca de cabelo castanho na altura do peito, usando um vestido colorido. Ambos sorriem, sentados em um ambiente de iluminação alaranjada.
Vivek drogado rendeu as cenas mais engraçadas da temporada (Foto: Freeform)

Com cada temporada se passando durante um ano universitário, na terceira Zoey já é oficialmente uma veterana e legalmente adulta. “Sabe como você nunca quer chegar em uma festa sóbria? Na vida adulta, você nunca quer chegar despreparada. Nem sóbria”, é como a personagem inicia a nova etapa de sua vida.

Depois de ignorar todos os seus problemas e viajar para Londres em busca de seu emprego dos sonhos, a Johnson volta e precisa arrumar a bagunça deixada. Dividida entre os sentimentos que tem pelo ex e por Aaron, ela se sente mais perdida do que nunca.

Mas com o apoio que tem de suas amigas desde o primeiro episódio, ela segue sua jornada. Juntos, o grupo encara todos os monstros da Geração Z – do cancelamento na internet até a depressão. Nenhum dos personagens é perfeito. Pelo contrário, todos erram, nos irritam e são completamente humanos.

Cena de grown-ish. Nela está centralizado um garoto negro, de cabelo em dreads, usando um moletom preto. Ele tem os braços cruzados e segura uma placa preta com "BLM" escrito dentro, na cor branca. Atrás, em uma imagem embaçada, é possível ver outros protestantes segurando também placas.
A quarta temporada de grown-ish, já confirmada para ser a última, trará os jovens em protestos do Black Lives Matter (Foto: Freeform)

Na cena final da temporada 3, os estudantes da Cal U se unem em um protesto contra o racismo na faculdade que é majoritariamente branca. E lutando para encontrar sua identidade sendo mulher e negra, Zoey não poderia ser de outro jeito. 

A protagonista é daquelas que ocasionalmente te faz querer jogar o computador longe, mas também te envolve em seus dramas e problemas juvenis. No fundo, saber que até mesmo a prodígio da família preta mais querida e bem sucedida das sitcoms se encontra em crise, é estranhamente tranquilizante. Sair da casa dos nossos pais não é fácil. Nem mesmo para Zoey Johnson.

Deixe uma resposta