E.T. completa 35 anos e mostra que é imortal

 

E.T. capa

Guilherme Hansen

A simples história de amizade que se tornou um dos filmes mais cultuados de todos os tempos.

Falar de clássicos nunca é uma tarefa fácil, pois é quase impossível explicar o porquê do sucesso de produtos tão aclamados. Porém, para filmes como E.T – O extraterrestre, obra-prima dirigida pelo mestre Steven Spielberg e com recém completos 35 anos de lançamento, a missão se torna um pouco mais palpável. Não dá para não se encantar pelo filme que une, de forma eficiente, qualidade de roteiro e de técnica.

A premissa do longa, embora simples, baseada na amizade, tinha tudo para causar estranhamento no grande público. Um extraterrestre, ao ser deixado para trás por seus semelhantes na Terra, vai parar na casa de um menino, Elliott (Henry Thomas) e ambos se tornam amigos, apesar de um susto inicial por parte do garoto.

Mesmo com uma certa incredulidade no início do filme, Spielberg desenvolve a relação entre humano/E.T. com muita naturalidade. O E.T é um ser extremamente meigo e leal ao garoto e imita as suas atitudes. Aliás, para Elliott, o extraterrestre representa muito mais que um simples companheiro. O menino deposita seu afeto no novo amigo, pois vê nele alguém em quem pode confiar, pouco tempo após a separação dos pais. A cena em que ele conta sobre a descoberta do ser peculiar para a família e ninguém acredita nele mostra o baque daquele divórcio e seu sentimento de solidão, com a sintomática fala: “Papai ia acreditar em mim”.

E assim, no desenrolar do filme, o modo de agir de Elliott é mudado. Destaque para a cena em que ele liberta vários sapos que eram usados para uma experiência de dissecação na escola. Graças à influência do E.T., o menino não se conforma com o uso dos animais na aula, pois vê aquilo como uma exploração por parte de seu professor.

Aparentemente, é uma atitude infantil e sem sentido. Porém, diante da enorme ligação psicológica do menino com seu novo amigo, a cena torna-se crível – aliás, há também um bem humorado “porre simultâneo” de Elliott e E.T, como prova do vínculo de ambos. E isso se estende por todo o longa, ficando impossível não torcer para o extraterrestre não seja capturado por agentes do governo, que estavam atrás da criatura “estranha” aos seres humanos para realizar experimentos.

E.T. já seria memorável só por sua história cativante. No entanto, como já dito anteriormente, os aspectos técnicos do filme não ficam devendo ao enredo. Allen Daviau, diretor de fotografia, fez um trabalho excelente, pois através do recurso de back light, soube esconder o rosto do E.T. e ressaltar somente sua silhueta antes dele conhecer Elliott, iluminando-o por trás. Além disso, ele mantém momentos do filme em tons azulados, numa ambientação referente ao espaço sideral.

menino abraçando E.T.
A famigerada despedida: Ambientação extraterrestre através de tons azulados

Outro ponto positivo é a câmera que, em relação aos personagens adultos, é posicionada de maneira baixa, enquanto nas crianças, o enquadramento é normal (no nível dos olhos do personagem). Isso serve para que a visão de mundo dominante no filme seja a infantil, mais precisamente a de Elliott, que indiretamente serve como uma imersão do público na narrativa. Os efeitos especiais são um show à parte e servem para inserir ainda mais o público na história. Menção para as cenas em que objetos voam ao redor do E.T. e para o célebre momento da bicicleta voadora, um dos mais bonitos da história do cinema.

A caracterização do extraterrestre também merece citação, pois foi pela combinação minuciosa de características propostas por Steven Spielberg, desenvolvidas pelo italiano Carlo Rambaldi que o personagem nasceu. O mais elaborado tinha 87 pontos de articulação e, com vários cabos e alavancas, era operado por 12 técnicos. Mas, para cenas de perfil, dois atores anões (Pat Bilon e Tamara de Treaux) e uma criança que nasceu sem pernas (Matthew de Meritt) se vestiam do personagem através de uma roupa de borracha. A voz, dublada por Pat Welsh, uma senhora de 67 anos na época, foi fator decisivo para chamar a atenção do público, pois sua voz era peculiarmente grave. No total, 18 fontes sonoras (incluindo a voz de Pat) foram usadas para constituir a voz do extraterrestre, entre sons típicos de animais e de pessoas respirando.

bicicleta voando E.T.
E.T. marcou pelos seus efeitos especiais e de quebra eternizou cenas na história do cinema, tal qual a da bicicleta voadora

Contudo, um dos maiores méritos do filme, sem dúvida, é a excelente trilha sonora, assinada por John Williams. As músicas incidentais traduzem exatamente a sensação que deveria ser transmitida ao espectador – seja medo, dúvida ou emoção. Na cena final, da despedida de Elliott e E.T, é impossível não se emocionar e a trilha composta por Williams é fator fundamental para essa catarse no público. Como prova da excelente composição musical, E.T. é um raros filmes da história a levar no mesmo ano o prêmio de melhor trilha sonora no Oscar, no Globo de Ouro, no Grammy e no BAFTA, os mais importantes prêmios de cinema e música.

O filme do extraterrestre é amado por gerações e não é por acaso. Sobre a amizade, o pensador romano Cícero afirmou: Um amigo é como se fosse um segundo eu”. A frase encaixa-se para o filme, pois os dois personagens principais, mais do que amigos, tornam-se parte do outro. Por mais que soe piegas, a emoção que Spielberg colocou em seu filme dificilmente foi e será repetida em outros longas-metragens. O impacto de E.T., mais do que profundo, é atemporal.

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