Viva! mostra que a Disney não cansa de produzir clássicos da animação

Guilherme Hansen

Que a parceria Disney/Pixar é garantia de sucesso, isso já é fato conhecido por todos. A fusão de boas histórias com qualidade visual faz com que grandes animações sejam produzidas e agradem a todos os públicos. O mais novo sucesso dos dois estúdios é Viva – A vida é uma festa, lançada no Brasil em 4 de janeiro deste ano.

O filme conta a história de Miguel, um menino que tem o sonho de ser cantor, assim como o ídolo, Ernesto de La Cruz, um ícone da música mexicana. O grande problema é que sua família não só é contra essa ideia, como odeia qualquer tipo de música. Isso porque eles consideram a música o elemento responsável pela desagregação familiar, já que seu tataravô abandonou a esposa e a filha para cantar profissionalmente e nunca mais voltou.

No Dia dos Mortos, ele foge de casa para uma apresentação musical. Inspirado nas palavras de seu ídolo, decide roubar o violão que estava num memorial dedicado a De La Cruz e ao tocar um acorde, é transportado para o mundo dos mortos. Lá, ele decide ir atrás de seu cantor favorito e pedir sua bênção para poder cantar, já que seus familiares do além exigem que ele nunca mais tenha contato com a música.

Miguel, apesar de apegado à família, se opõe à ela e luta pelos seus interesses, em uma obstinação que lembra outros protagonistas da Disney, como Moana. (Fonte: Reprodução)

Embora o enredo do filme seja marcado pela busca dos sonhos, uma marca registrada da Disney, em sucessos como Zootopia, Viva! apresenta elementos mais originais, em uma história que o protagonista tem um bom coração, mas é rebelde em alguns momentos. Sobre isso, o longa traz a importância ao respeito às tradições familiares, mas sem nenhum tom moralista, claro. Outro ponto interessante é a família de Miguel ser contra seu sonho, já que é inimaginável viver sem nenhum tipo de contato com a música e isso serve para gerar empatia do público ao personagem.

O filme demorou seis anos para ser produzido. O diretor Lee Unkrich (Toy Story 3) viajou ao México para conhecer mais dos costumes do país, o que culminou em uma reprodução perfeita do ambiente mexicano. Além de figurinos e cenários, as tradições do país foram retratadas de maneira precisa. A principal delas é a referente ao Dia dos Mortos. Ao contrário do que acontece em outros países, no México, a data tem um tom comemorativo. Com duração de três dias, os mexicanos fazem altares em que colocam flores e acendem velas e incensos com fotografias de seus parentes já falecidos, além de preparar as suas comidas favoritas. Segundo a tradição, isso permite que os mortos visitem, em espírito, o mundo dos vivos na ocasião.

Exemplo de altar do Dia dos Mortos mexicano. Pela imagem, percebe-se que o filme em nada deveu à reprodução das tradições mexicanas (Fonte: Reprodução)

Ademais, acredita-se que quando alguém morre, há guias espirituais preparadas para conduzi-las ao mundo dos mortos. Essas criaturas, chamadas de alebrifes, são animais com características mitológicas e constituem o folclore mexicano por meio de esculturas com cores vivas. No filme, a principal representante destes guias é Pepita, sendo elemento importante no desenrolar da história. Ela, assim como os outros alebrifes, foram representados com cores neon, combinando perfeitamente com a ideia de morte proposta pelo longa.

Enquanto o mundo dos vivos tem uma paleta com cores mais pálidas, o mundo dos mortos tem cores mais vibrantes. Com tons de rosa e roxo, o além é um lugar cheio de luzes, representando a importância que os mexicanos atribuem ao Dia dos Mortos. O corredor de passagem do mundo dos mortos ao dos vivos tem como tapete as calêndulas, flores laranjas tradicionais nos cemitérios mexicanos e muito usadas na data.

A trilha sonora é um acerto à parte. Interpretada também pelos atores do filme, as canções contam com os estilos típicos do México, como o mariachi em La llorona e a ranchera em Juanita. Destaque para Remember me, a principal canção do filme. Com base em voz e violão, é emocionante e faz com que o público se identifique com a música devido à letra que fala sobre a saudade daqueles que estão longe. Não por acaso, Viva! também concorre ao Oscar de melhor canção original, competindo com “Me chame pelo seu nome” com “Mystery of Love” e “O rei do show”, com “This is Me”.

Outro destaque é a reviravolta que ocorre na metade do filme e surpreende os espectadores. Assim como proposto em sucessos recentes da Disney, como Zootopia, não se deve deixar levar pelas aparências, pois nem tudo é o que parece ser (clichê, mas real). Viva! mostra essa mensagem, mesmo que indiretamente e faz com que o filme se torne instigante quando tudo parecia se resolver.

Mais uma vez, Disney e Pixar destacam-se no Oscar e têm grandes chances de levar a estatueta de melhor animação e canção original no próximo dia 4. Viva! mostra em seus 96 minutos que é possível sair do cenário tradicional dos Estados Unidos e retratar outras culturas de maneira respeitosa e sem estereótipos. Mesmo que não seja um filme político, em tempos nos quais estrangeiros têm sido vistos como invasores na nação atualmente governada por Donald Trump, o longa é uma grata surpresa e nos próximos anos, tornará-se mais um clássico na história da Disney.

Deixe uma resposta