The Strokes: nem tão novo, nem tão anormal

(Foto: Reprodução)

Maria Carolina Gonzalez

‘Descongelamos’. Foi dessa forma que Julian Casablancas deu boas vindas a 2020 antes de apresentar ao público do Brooklyn’s Barclays Center a música “Ode to the Mets”, faixa que compõe o novo trabalho do Strokes: The New Abnormal

A escolha do nome foi apropriada para definir este ano. Assim como aconteceu em outubro de 2001, Nova York ainda se recuperava do 11 de setembro quando o Is This It chegou em terras americanas, oferecendo a trilha sonora da década que começava de forma inusitada. Quase 20 anos após a estreia ofegante, o quinteto nova-iorquino mais uma vez dita o ritmo dos novos tempos. Tempos completamente anormais.

A fala de Julian retrata bem o que Strokes foi nos últimos anos. Estagnados, The New Abnormal soa como uma continuação do último álbum, Comedown Machine (2013). Não há mudanças significativas, apenas o aperfeiçoamento do estilo pop-rock anos 80 que a banda utiliza desde 2011, com o Angles. Mas talvez Julian, Nick, Albert, Fabrizio e Nikolai – cada um na casa de seus 40 anos – nem estejam preocupados em se reinventarem ou consolidarem seu legado no indie rock. The Strokes agora funciona apenas como uma desculpa para reunir velhos amigos.

(Foto: Jason McDonald)

The New Abnormal até segue, de forma discreta, por caminhos diferentes, mas os pontos fortes estão justamentes nas familiaridades. Os riffs inconfundíveis que dominaram os três primeiros álbuns agora se misturam com os sintetizadores tão queridos de Casablancas, criando uma atmosfera que os entusiastas do new wave conhecem muito bem. 

A banda também não foi nem um pouco modesta em suas referências. O primeiro single, “Bad Decisions” (oficialmente lançado durante o “showmício” de Bernie Sanders em New Hampshire), possui guitarras no melhor estilo do New Order, enquanto o refrão evoca a famosa melodia de “Dancing With Myself”. Inclusive Billy Idol foi devidamente creditado na música. 

A Grande Maçã recebe mais uma vez diversas homenagens, tanto nas músicas quanto na arte da capa, ‘Bird On Money’, assinada pelo artista Jean-Michel Basquiat. As letras de “Brooklyn Bridge to Chorus” e “Ode to the Mets” combinam com o clima nostálgico e rebelde da cidade, característica típica do grupo que a todo momento murmura com saudades dos velhos tempos, sem dizer quais tempos são esses exatamente. 

(Foto: AP Photo/Andrew Harnik)

Mesmo carecendo um pouco de sinceridade em parte das letras, Casablancas mostra seu lado mais coração em “Selfless” e “Not The Same Anymore”, as faixas mais lentas e, não por acaso, mais românticas. O segundo single, “At The Door”, também é uma balada descontraída, sem as baterias do brasileiro Fab Moretti, mas com elementos característicos do The Voidz, projeto onde está a verdadeira paixão de Julian. 

“Eternal Summer” é o grande momento do The New Abnormal, e não apenas por ser a faixa mais longa. Os versos empolgantes ficam melhores com os falsetes bem executados de Julian, considerados por muitos – inclusive pelos próprios fãs – como o melhor-pior vocalista de uma banda. Ainda que carregue uma carga experimental, a melodia da música não foge do óbvio da nova onda do indie rock. Não que isso seja um problema, afinal pode-se dizer que o Strokes praticamente criou as bandas que dominam o gênero atualmente. 

Aproveitando o gancho (apesar dos esforços) é impossível não fazer a comparação com seus alunos de maior sucesso. Dois anos atrás, o Arctic Monkeys começava seu mais recente álbum com o verso “Eu só queria ser um dos The Strokes / Agora olhe para a bagunça que você me fez fazer”. Na época a interpretação era puramente algo do ego de Alex Turner, mas hoje realmente percebe-se que ser o The Strokes exige uma bagunça. 

Foram justamente os momentos fora da curva do Strokes que fizeram com que o The New Abnormal se encaixasse perfeitamente em sua discografia. Para alguns fãs pode até ser difícil de gostar, mas há muito tempo é fácil somente aceitar. Como já foi dito, a banda não é mais uma prioridade para seus membros. Esperar alguma coisa a mais do Strokes ainda é pedir muito, mas quando essa coisa é minimamente bem feita, eles mostram que estão vivos e ainda são ídolos.

Abraçar os velhos tempos é o que nos conforta durante este período anormal, e uma coisa que o Strokes sabe fazer é criar vínculos com o público usando a nostalgia. Adultos, mas nem tão maduros, a personalidade do The New Abnormal é justamente essa: um deleite aos saudosos. 

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