The Black Album: 25 anos do álbum que vendeu o Metallica para o mundo

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João Pedro Fávero

Na segunda metade dos anos 80 para o começo dos 90, o Metallica não era nada parecido com a banda que se tornou durante o final daquela década e o começo do século XXI, tanto em sua sonoridade como pelo apelo do público. A exposição que o Metallica tinha durante os anos 80 era sempre calcada na sua base de fãs mais do que por qualquer outra ação promocional que a banda tomava. Isso era mostrado pela presença nula que a banda tinha na programação da MTV, maior expoente musical daquela década o qual a banda só foi se render em 1989, durante a promoção do seu quarto álbum …And Justice For All, com o vídeo para “One”.

Em 1990, a banda começou a escrever as músicas que viriam a se tornar o quinto e mais polêmico álbum da banda (naquela época), intitulado simplesmente Metallica ou, como ficou mais conhecido, The Black Album. O objetivo da banda era fazer músicas mais simples em comparação ao álbum anterior. Em …And Justice For All, o que era mostrado era uma extensão do som intricado mostrado em algumas faixas de Master Of Puppets, com passagens mais complicadas tecnicamente e dando um ar mais progressivo ao som da banda, diferente dos seus dois primeiros álbuns (Kill ‘Em All e Ride The Lightning), que prezavam pela velocidade e agressividade.

O produtor escolhido foi Bob Rock, que inicialmente iria apenas mixar o álbum. Bob era renomado por produzir bandas do gênero “rival” ao thrash metal, o Hair Metal (ou metal farofa, no Brasil), o que torceu o nariz de muitos fãs da banda. A produção de Bob no álbum Dr. Feelgood do Mötley Crüe impressionou o Metallica, principalmente pelo som do baixo e bateria.

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A banda e o produtor Bob Rock (abaixado, ao centro)

A escolha do produtor mudou todo o modo de como a banda trabalhava em estúdio durante o período de gravação. Acostumados a gravarem cada instrumento de forma separada, Bob fez com que a banda gravasse junta, para dar um aspecto de como as músicas se sairiam na performance ao vivo. As preferências do produtor muitas vezes desagradavam à banda, dando início a discussões intermináveis entre as duas partes. Rock queria que James Hetfield escrevesse composições melhores, o que fez com que algumas letras tivessem um aspecto mais introspectivo e pessoal por parte dele (“Nothing Else Matters”, “The God The Failed”). A produção foi tão trabalhosa a ponto de dar fim ao casamentos de Lars Ulrich, Kirk Hammett e Jason Newsted.

Em 12 de agosto de 1991, o álbum é lançado. O maior ás do Black Album é se aproveitar das falhas de produção do seu antecessor. …And Justice For All tem um som seco e é criticado até hoje por ter o baixo praticamente inaudível na mixagem final. Já em Metallica, o baixo e a bateria trabalham juntos, sendo toda a base das músicas, exatamente o que chamou a atenção da banda em Dr. Feelgood. Mas o que foi mais alarmado na época foi a pisada no acelerador que a banda deu no disco, que os fãs prontamente culpabilizaram o novo produtor – que simplesmente trabalhou melhor a intenção da banda em fazer algo mais simples. O maior uso de instrumentos acústicos e passagens orquestradas, além de vocais harmônicos de James Hetfield deram uma maior versatilidade às músicas.

Aliás, aqui estão algumas das melhores e mais conhecidas músicas da banda: “Enter Sandman”, “Nothing Else Matters”, “Sad But True” e “The Unforgiven”. Jason Newsted finalmente se faz presente nas gravações da banda, mostrando à que veio em “My Friend of Misery” onde também recebe créditos pela letra. No entanto, nem todas as músicas soam como um “novo” Metallica: “Holier Than Thou” e “The Struggle Within” ainda carregam a velocidade do thrash característico. Apesar de boa parte do repertório do álbum homônimo ter se convertido em clássicos não só do Metallica mas do gênero como um todo, “Don’t Tread On Me soa como um pedido de desculpas pelas críticas feitas ao sistema americano em …And Justice For All e sai de toda a roupagem dada ao disco.

O ótimo desempenho dos singles e das vendas do álbum (1º lugar na Billboard) fizeram com que os fãs mais puritanos chamassem a banda de “vendida”, por terem se afastado do estilo tradicional que caracterizou a banda e buscado um som mais radiofônico. Todavia, o impacto da entrada do Metallica no mainstream foi sentido em grande escala pelos seus companheiros de thrash. O eterno rival Megadeth tomou quase as mesmas medidas sonoras, resultando no também ótimo Countdown To Extinction, lançado em 1992. O Anthrax aproveitou a troca de vocalistas para renovar o seu som em Sound Of White Noise que também já incorporou nuances do grunge, que já havia explodido. A abertura dada pelo mainstream à música pesada com o sucesso do Black Album talvez fosse o solo pronto para dali a um mês encontrar seu maior tesouro com o lançamento de Nevermind do Nirvana.

Dali para frente, o Metallica formou uma parceria que agrada alguns e desagrada a maioria com Bob Rock, resultando nos álbuns Load (1996), Reload (1997) e St. Anger (2003), mudando de produtor apenas em Death Magnetic (2008). The Black Album vendeu cerca de 30 milhões de cópias mundialmente, sendo certificado como disco de platina 16 vezes e garantiu ao Metallica o título oficial de rockstars com o qual eles convivem até hoje, sendo reconhecida como a maior banda de metal atualmente. A suposta traição aos fãs puritanos veio muito bem a calhar para eles.

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