Eduardo e Mônica: o amor sempre fala mais alto

Seja na Música ou nas telas de cinema, Eduardo e Mônica exalam química em uma paixão fascinante de se ver e escutar (Foto: Paris Filmes)

Guilherme Teixeira

Quatro anos após o início de suas gravações, a aguardada comédia romântica Eduardo e Mônica chega aos cinemas reverenciando não só a música de Renato Russo, clássica brasileira que inspirou o filme, mas também o amor e o respeito às diferenças. O longa, dirigido por René Sampaio e estrelado por Gabriel Leone e Alice Braga, narra a história do jovem vestibulando e da médica independente que se cruzam na tal festa estranha com gente esquisita e mostram que, definitivamente, os opostos se atraem. Ele, que assiste novela e joga futebol de botão com o avô, em contraposição se apaixona por ela, que bebe conhaque e gosta do Bandeira, Bauhaus, Van Gogh, Mutantes, Caetano e de Rimbaud. 

Continue lendo “Eduardo e Mônica: o amor sempre fala mais alto”

Todos os caminhos levam ao Beco do Pesadelo

Imagem retangular é uma cena de O Beco do Pesadelo. Centralizado e ao fundo da imagem está Bradley Cooper, um homem branco, adulto, de olhos claros, cabelos castanhos e médios e barba rala, que usa um terno marrom batido com um chapéu da mesma cor. Ele está dentro de um tubo que possui um padrão em espiral vermelho e branco. Ao redor do cano e nos cantos da imagem há uma parede forrada de olhos abertos com íris azuis claras.
Com 4 indicações ao Oscar 2022, o novo filme de Guillermo del Toro é fascinante (Foto: Searchlight Pictures)

Caroline Campos

Guillermo del Toro sempre teve uma predileção pelo inóspito e o bizarro. Conforme sua carreira foi amadurecendo, o diretor se viu cada vez mais confortável em meio às suas criações monstruosas com olhos nas mãos, chifres reluzentes e escamas pelo corpo, buscando reforçar que, no final das contas, o estranho pode ser um convite para uma vida fantástica. No entanto, em O Beco do Pesadelo, sua nova empreitada, del Toro prende as criaturas no baú, fecha o livro de histórias mágicas e assume uma roupagem realista à sua maneira para provar, mais uma vez, que o ser humano é bem mais perigoso que o pior dos monstros.

Continue lendo “Todos os caminhos levam ao Beco do Pesadelo”

Os Melhores Filmes de 2021

Arte retangular na cor verde escuro. No canto superior direito está escrito em branco “OS MELHORES FILMES DE 2021”. Na parte inferior esquerda da imagem está uma foto da ovelha, personagem do filme Lamb, usando uma coroa de flores na cabeça. O animal é retratado em preto e branco, com silhueta verde clara ao redor de seu corpo, enquanto ele olha para o lado direito. Ao lado direito da ovelha está a figura da personagem Maribel, mulher protagonista da animação Encanto. Ela tem cabelos cacheados curtos e usa óculos e brincos redondos, além de bata com desenhos. A personagem também está colorida em preto e branco, com silhueta verde escura ao redor de seu corpo. Acima da ovelha e de Maribel está a imagem do personagem Gawain, homem protagonista do filme A Lenda do Cavaleiro Verde. Ele olha para o lado esquerdo com expressão séria e seus cabelos caem em seu rosto barbado. A imagem do personagem também está em preto e branco e, ao seu redor, está uma silhueta de cor verde vibrante. Entre todos os personagens, estão figuras animadas de uma coroa (Gawain), várias borboletas (Maribel) e alguns traços (ovelha) aparecendo e desaparecendo. No canto inferior direito, há o logo do Persona, um olho com a íris de cor verde claro.
Entre o melhor do Cinema em 2021, tivemos a estranha fofura de Lamb, a imponência de A Lenda do Cavaleiro Verde e o carisma infinito de Encanto (GIF: Reprodução/Arte: Ana Clara Abbate/Texto de Abertura: Vitória Silva)

Não poderíamos terminar o Melhores do Ano sem falar do setor que retomou os seus dias de glória em 2021: o Cinema. Após a paralisação completa das salas ao redor do mundo em 2020, em decorrência da pandemia de covid-19, o audiovisual precisou se readaptar. Com isso, ano passado foi o momento de observar o efeito da ascensão dos streamings, assim como o retorno da sagrada experiência de subir as escadas para sentar em uma poltrona aconchegante e comer pipoca fresquinha enquanto assiste ao mais novo lançamento cinematográfico na telona. 

Continue lendo “Os Melhores Filmes de 2021”

Licorice Pizza: os amores possíveis sob o olhar de Paul Thomas Anderson

Cena do filme Licorice Pizza. Na imagem retangular colorida, os atores Cooper Hoffman e Alana Haim correm lado a lado. Cooper é um jovem branco, possui cabelos ruivos e olhos castanhos, e veste uma camisa azul de mangas curtas, uma camiseta de cor branca e uma calça bege. Ele está com a cabeça inclinada para a esquerda, olhando para Alana. Ela é uma mulher branca, possui cabelos castanhos e olhos azuis, e veste um cropped com estampas floridas, de cores roxas, azul e branco. Os dois estão sorrindo com os dentes à mostra, e ao fundo há um campo de cor verde.
Indicado em três categorias no Oscar 2022, Licorice Pizza é uma reflexão sobre crescer e viver em um mundo problemático (Foto: Universal Pictures)

Bruno Andrade

No início dos anos 1970, os Estados Unidos começaram a receber as primeiras respostas negativas à efervescência cultural que se deu na década anterior. Após as aberturas políticas e libertárias que se estabeleceram como força motriz da sociedade civil organizada – além de manifestações políticas profícuas e históricas –, o país começou a enfrentar uma diminuição do interesse público nas políticas liberais e de contracultura. Na esteira, ainda estava por vir a quebra da coletividade e do bem comum que nortearam os ideais hippies anos antes. O neoliberalismo ganhou força popular, Richard Nixon chegou à presidência (1969-1974) e o culto da imagem se estabeleceu – algo que Guy Debord já alertava em A Sociedade do Espetáculo (1967). Mas ao contrário do que se pode imaginar, quando nada pode acontecer, tudo é possível de novo.

Esse é o caótico cenário cultural de Licorice Pizza, 9º filme do diretor Paul Thomas Anderson (PTA), estrelado por Cooper Hoffman e Alana Haim, ambos estreantes em longa-metragens. Lançado nos EUA em novembro de 2021, a trama traz Gary Valentine (Hoffman), um jovem ator de 15 anos com verve de pequeno empreendedor, e Alana Kane (Haim), uma mulher de 25 anos perdida sobre o futuro, vivendo em meio aos conflitos sociais – e geracionais – de 1973. A obra concorre no Oscar 2022 como Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Original – categoria em que é um dos favoritos à estatueta.

Continue lendo “Licorice Pizza: os amores possíveis sob o olhar de Paul Thomas Anderson”

Cineclube Persona – Fevereiro de 2022

Arte retangular de fundo na cor azul. Ao lado direito da imagem, foi adicionada uma televisão antiga de tubo, com a divisão de quatro telas, uma mostrando um homem branco fantasiado de super-herói; ao lado duas mulheres, uma atras da outra, a de trás abraçando a da frente; abaixo duas mulheres apoiadas em uma mesa observando um globo de neve e ao lado um homem e uma mulher olhando um para o outro. Ao lado da televisão está escrito Cineclube com letras brancas preenchidas e abaixo Persona, com letras brancas vazadas. Ao centro está o logo do persona, um olho com a íris na mesma cor do fundo, e logo abaixo em letras pretas está escrito fevereiro de 2022.
Destaques de Fevereiro de 2022: Pacificador, Euphoria, Licorice Pizza e De Volta aos 15 (Foto: Reprodução/Arte: Vitória Vulcano)

Fevereiro se despediu de nós em clima de Carnaval e de expectativa pela nova versão do Cavaleiro das Trevas nos cinemas, desta vez estrelada pelo maravilhoso Robert Pattinson. Com a polêmica cerimônia do Oscar no horizonte e a disputa entre os longas cada vez mais acirrada, o entretenimento variou: de filmes de terror de qualidade duvidosa a mais séries adolescentes produzidas pela Netflix, passando pelos dramas intensos da HBO e novas obras dentro de franquias consagradas, mas sem esquecer dos trabalhos inéditos de cineastas conhecidos. No mês mais curto do ano, o segundo Cineclube de 2022 te convida a ficar por dentro do que rolou no mundo do entretenimento ao longo desses 28 dias. 

Continue lendo “Cineclube Persona – Fevereiro de 2022”

Identidade: quanto vale o pertencimento?

Cena do filme Identidade. Na imagem aparecem os rostos das personagens Irene Redfield, interpretada por Tessa Thompson, e ao seu lado Clare Bellew, interpretada por Ruth Negga. A fotografia é em preto e branco e as duas estão de perfil, Irene usa um chapéu com tons escuros e Clare usa um com cores claras, ao fundo a comunidade do Harlem aparece embaçada.
Identidade foi lançado pela Netflix em 2021 e marca a estreia de Rebecca Hall como diretora (Foto: Netflix)

Jamily Rigonatto 

Em uma sociedade que precifica os seres humanos e os valoriza de forma desigual, vale a pena vender sua própria veracidade por dignidade plastificada? Caso esse não seja o principal questionamento inspirado por Passing – traduzido no Brasil como Identidade – com certeza é um de seus pilares. O longa-metragem lançado em novembro de 2021 na Netflix é um retrato delicado do quanto a sua própria pele pode ser sufocante em uma sociedade estruturada pelo racismo. O filme é a adaptação audiovisual do livro de mesmo nome escrito por Nella Larsen, e é também o trabalho de estreia da atriz Rebecca Hall como diretora.

Continue lendo “Identidade: quanto vale o pertencimento?”

A busca pelo amor ideal em meio aos desencontros de Duas Garotas Românticas

Cena do filme Duas Garotas Românticas. Na imagem, vemos uma mulher jovem à esquerda; de cabelos loiros com franja e lisos, soltos até os ombros; pele clara; segurando um trompete nas mãos. Ela está usando um vestido branco de comprimento acima dos joelhos, com recortes de cor rosa, que descem da cintura até a barra; e uma boina cor de rosa na cabeça. Ela está sorrindo, e está em pé. Ao lado dela, à direita, está outra mulher jovem. Ela tem cabelos ruivos, lisos, com franja, soltos, e de comprimento até os ombros. Ela está usando um vestido branco, de comprimento acima dos joelhos, com recortes amarelos, que vão da cintura até a barra; está sorrindo, enquanto segura um bandolim nas mãos, e está de pé. Atrás delas há uma parede de madeira branca; uma mesa de madeira com rosas em cima; um piano preto e dourado; e um violoncelo no lado direito. No lado esquerdo há uma janela de cor rosa aberta, e um espelho. O chão é de madeira. Está de dia.
Mesmo após 55 anos de seu lançamento, Duas Garotas Românticas continua intocável (Foto: Festival de Cinema Francês Varilux)

Sabrina G. Ferreira

Para amenizar os males emocionais causados durante a Segunda Guerra Mundial, nas décadas de 50 e 60, houve o que se pode chamar de Era de Ouro dos musicais nos cinemas. Mostrando que é possível criar obras de qualidade fora dos muros de Hollywood, o diretor francês Jacques Demy (Os Guarda-Chuvas do Amor, A Baía dos Anjos) se destacou com o sucesso de bilheteria lançado em 1967, Duas Garotas Românticas (Les Demoiselles de Rochefort), arrebatador tanto pela energia vibrante que provém de cada cena, quanto pela simplicidade da trama, ao tratar assuntos considerados sérios de forma leve e sutil. 

Continue lendo “A busca pelo amor ideal em meio aos desencontros de Duas Garotas Românticas”

A Tragédia de Macbeth: a culpa pesa mais do que a coroa

Cena em branco e preto do filme a tragédia de macbeth apresenta Macbeth, um homem negro de meia idade, vestindo uma camisa clara, uma calça e uma bota, sentado na cama e olhando pra cima. Os únicos objetos da imagem são a cama e uma cortina branca no canto direito. A imagem é escura e a única fonte de luz vem da lateral direita.
A Tragédia de Macbeth apresenta uma trama repleta de bruxaria, ganância e vingança e chega concorrendo a três categorias no Oscar 2022 (Foto: A24)

Gabriel Gatti

William Shakespeare foi um grande dramaturgo nascido no século XVI, e chegou a publicar cerca de 40 obras, que acabaram sendo amplamente revisitadas ao longo dos séculos. Como é o caso de Macbeth, uma tragédia medieval sobre ganância e culpa que rendeu uma série de adaptações cinematográficas. Dentro dessa ampla gama de subprodutos derivados do acervo literário shakespeariano parece quase improvável produzir algo com características originais, porém foi exatamente isso que o diretor Joel Coen fez em A Tragédia de Macbeth, uma produção da A24 em parceria com a Apple TV+.

Continue lendo “A Tragédia de Macbeth: a culpa pesa mais do que a coroa”

A vida não dá trégua nas travessias de Flee

Cena do filme Flee. Ilustração retangular. Ao fundo, vemos várias pessoas em uma balada gay. Amin está centralizado. Ele coloca os braços sobre o balcão do estabelecimento, veste roupas de inverno e olha para o lado direito da imagem.
Indicado três vezes ao Oscar 2022, Flee é um documentário que ilustra uma complexa jornada de autoconhecimento (Foto: NEON/Participant)

Eduardo Rota Hilário

Vou carregar de tudo vida afora/Marcas de amor, de luto e espora/Deixo alegria e dor/Ao ir embora”. Os versos de Compasso, composição de Angela Ro Ro com Ricardo Mac Cord, podem até não aparecer na trilha sonora da produção dinamarquesa Flee (Flugt, 2021), dirigida por Jonas Poher Rasmussen; no entanto, ao serem recortados do restante da música, esses fragmentos poéticos expressam muito bem uma das inúmeras sensações que permeiam o longa-metragem estrangeiro. Afinal, em todo o filme, estamos diante de uma concretude nua e crua, e ela nunca será vivenciada da mesma forma por indivíduos minimamente diferentes.

Continue lendo “A vida não dá trégua nas travessias de Flee”

Se nem a Academia se importa com o Oscar, por que deveríamos nós?

Na tentativa de atrair uma audiência maior, a cerimônia prefere abdicar da celebração do Cinema

Arte com uma lata de lixo preta parada em frente a uma parede de tijolos laranjas. Dentro da lata de lixo, vemos duas estatuetas douradas do Oscar, deitadas em formato de X.
Para a edição de 2022, a Academia anunciou que as categorias de Curtas, Montagem, Cabelo e Maquiagem, Trilha Sonora Original, Design de Produção e Som não serão apresentadas no evento ao vivo (Arte: Jho Brunhara)

Vitor Evangelista

Um filme é feito três vezes: primeiro nas páginas, depois, nas gravações, e finalmente na montagem”, disse o cineasta francês Robert Bresson. O porquê da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas decidir por televisionar ao vivo as disputas de Roteiro e Direção, mas não a de Montagem, forma uma completa nuvem de dúvida na cabeça de quem anseia pela cerimônia de 2022. Após o controverso anúncio de que oito das vinte e três categorias seriam recortadas e remanejadas dentro da premiação, os chefões do Oscar não parecem arredar o pé. E, se nem eles, os que respiram e transpiram Cinema, dão a mínima para a coisa, qual é a mensagem que fica?

Continue lendo “Se nem a Academia se importa com o Oscar, por que deveríamos nós?”