Häxan – A Feitiçaria Através dos Tempos celebra seu centenário com uma poção da atemporalidade

Cena do filme Häxan - A Feitiçaria Através dos Tempos em que há um Sabbah com bruxas e demônios. A imagem em preto e branco apresenta um demônio com chifres, orelhas pontudas, nariz arrebitado, rugas e garras com a mão direita erguida para depositar um objeto em um caldeirão. Do lado esquerdo há duas bruxas brancas e jovens que demonstram subordinação aos seres por meio de sua postura corporal. Do lado direito há outro demônio com uma aparência mais humana, que parece alegre mediante a cena. A foto apresenta um local escuro, iluminado unicamente por velas.
Häxan significa bruxa em sueco e o filme busca desconstruir a imagem desse ser místico através de sua narrativa semidocumental (Foto: Aljosha Production Company)

Gabriel Gatti

Por muitos anos, homens, crianças e principalmente mulheres foram perseguidos acusados de bruxaria. A criação do livro Malleus Maleficarum, em 1484, serviu como um manual educativo para perseguir e eliminar indivíduos suspeitos de realizar ações paranormais. O guia é de autoria de Heinrich Kraemer, inquisidor famoso durante a Idade Média, e algumas versões da obra chegam a contemplar a bula papal de Inocêncio VIII, chamada Summis Desiderantis Affectibus, que demonstra apoio à caça às bruxas. Ao estudar profundamente o livro, o diretor e roteirista dinamarquês Benjamin Christensen se inspirou para criar sua obra-prima, Häxan – A Feitiçaria Através dos Tempos.

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Persona Entrevista: Daniel Galera

O escritor, tradutor e ensaísta fala sobre seu processo criativo, influências e os 10 anos do romance Barba ensopada de sangue, que está em adaptação para o Cinema e recebe uma edição comemorativa em 2022

Arte quadrada de fundo vermelho. No lado esquerdo, foi adicionado o texto
“Minha carreira de escritor não foi exatamente uma coisa planejada desde cedo”, diz Daniel Galera (Foto: Marco Antonio Filho e Companhia das Letras/Arte: Henrique Marinhos)

Bruno Andrade 

No final de Maio – num frenesi esquisito que faz parecer distante esses quatro meses –, me reuni virtualmente com Daniel Galera para bater um papo sobre sua trajetória literária e os 10 anos de lançamento de Barba ensopada de sangue, romance que ganha uma edição especial comemorativa com lançamento previsto para 4 de Novembro de 2022. Vencedor do Prêmio Machado de Assis, duas vezes 3º colocado no Prêmio Jabuti e já publicado na prestigiosa revista The Paris Review, Galera desponta como um dos grandes nomes da Literatura brasileira contemporânea, relacionado a uma “nova geração de escritores”, mesmo que “nova” já não seja bem a palavra que defina sua carreira. Escrevendo e publicando desde os anos 1990, o escritor paulistano radicado em Porto Alegre construiu um sólido percurso em torno da Literatura, e veio ao Persona Entrevista compartilhar suas experiências, visões de futuro e revelar mais sobre suas obras.

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Hacks é bi

Após competir o Emmy 2021 apenas com Ted Lasso, a segunda temporada de Hacks têm a antiga rival, Abbott Elementary, Only Murders in the Building e Barry para disputar os prêmios da noite (Foto: HBO Max)

Ana Júlia Trevisan

Desde sua estreia, Hacks é consciente da potência de seu material e da estrela que tem em mãos, usando dos artifícios em favor da própria produção para alavancar a comédia dentro da comédia. Em sua primeira temporada, a série pautou a figura feminina na indústria cômica de Hollywood. Seu humor ferrenho nos trouxe Deborah Vance (Jean Smart), uma veterana dos stand-ups e cara dos programas de vendas de leggings, e Ava Daniels (Hannah Einbinder) uma jovem roteirista cômica, cancelada no Twitter. E foi entre esse morde e assopra de personalidades que Hacks se concretizou uma das melhores comédias da década, falando sobre mulheres, trabalho, dinheiro, sacrifício e amizade. Se o primeiro ano tem intenção de escancarar a indústria, sua sucessora faz um trabalho mais introspectivo, mostrando as percepções de Deborah sobre o mundo.

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Eles podem até ser os presidentes, mas quem manda são as primeiras-damas!

Foto da série The First Lady. Na imagem está a personagem Michelle Obama, interpretada pela atriz Viola Davis. Michelle é uma mulher negra, tem cabelos pretos ondulados de comprimento médio e está usando um vestido frente única com estampas geométricas em preto e branco. Ela está sentada com uma mão sob o queixo e a outra segurando a perna, seu rosto é sério com um leve bico nos lábios. Ao fundo, há uma parede branca e bege com textura listrada.
Mesmo com o elenco de peso, The First Lady não chegou a ser citada nas categorias principais do Emmy de 2022 (Foto: Showtime)

Jamily Rigonatto

Trazer figuras importantes diretamente do cenário político-social norte-americano para os holofotes dos palcos do audiovisual tem sido uma estratégia explorada pelos roteiristas e diretores da indústria cinematográfica. Seguindo a linha de produções como Mrs. América e Gaslit, The First Lady escolhe retratar os eventos de três presidências dos Estados Unidos pelo outro lado da moeda. Na antologia lançada em 2022 pela emissora Showtime, a Casa Branca abre os portões para visitas com anfitriãs que não poderiam ser mais ilustres. 

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Gaslit: 50 anos depois do escândalo Watergate, a política ainda é um homem branco

Foto da série Gaslit. Na imagem, o rosto da atriz Julia Roberts no papel de Martha Mitchell. A personagem tem pele branca com algumas rugas aparentes, seus cabelos são loiros e estão presos em um coque alto com topete na frente. O semblante do rosto é triste, com os olhos cheios de lágrimas. Ela veste um vestido de gola média que aparece só até a altura dos ombros e é coberto de brilhos e pequenos cristais.
Em seu ano de estreia, Gaslit recebeu 4 indicações ao Emmy, mas passou longe de brilhar nas duas primeiras noites da premiação (Foto: STARZ)

Jamily Rigonatto 

Na década de 1970, a política estadunidense foi marcada por burburinhos e manipulação. Durante a reeleição de Richard Nixon, o Partido Republicano tinha a vitória nas mãos com uma larga escala de vantagem, mas ainda assim resolveu usar de artifícios que favorecessem seu representante. A ideia era invadir os escritórios do Partido Democrata no Complexo de Edifícios de Watergate, e grampear telefones para captar informações confidenciais, além de plantar fotos e montagens comprometedoras que seriam usadas  como uma espécie de chantagem para garantir o sucesso na corrida eleitoral.

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A fábula de Atlanta é real

Cena do seriado de televisão Atlanta. Imagem retangular e colorida. Nela, o ator Bryan Tyree Henry, intérprete do personagem Alfred, encontra-se no centro, em foco. Ele é um homem negro, usando cordões de ouro no pescoço e uma camisa branca com detalhes em vermelho, verde e amarelo. O cenário é uma sala de jantar luxuosa de paredes douradas e, atrás dele, dois garçons brancos, um homem e outro mulher, estão virados para a parede, com as costas para a câmera.
A terceira temporada de Atlanta aparece tímida no Emmy 2022, indicada somente a três categorias – o que reflete sua recepção mista pela audiência e crítica (Foto: FX Productions)

Enrico Souto

Muita coisa mudou nos quatro anos que separam a segunda e a terceira temporada da aclamada e assustadoramente relevante série do multiartista Donald Glover. Hoje, vivemos em um mundo pós-This Is America, em que racismo nunca foi um assunto tão comentado, simultaneamente que, divididos por uma pandemia implacável e a eclosão de protestos contra a violência policial, as tensões raciais dos nossos tempos se transformaram e, sobretudo, se amplificaram. Dentro desse contexto caótico e indubitavelmente distinto de 2018, Atlanta inverte a lógica e, para transpor a realidade às telas, aguça o que a produção tem de mais fantasioso.

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O que realmente aconteceu com as Yellowjackets?

Sete vezes indicada ao Emmy, Yellowjackets chegou ao Brasil pelo Paramount+ (Foto: Showtime)

Vitória Gomez

O que você acha que realmente aconteceu lá?”. Filmada de costas e sem nunca mostrar seu rosto, uma menina corre ofegante por entre as árvores de uma floresta gelada. O silêncio do cenário é preenchido somente por sua respiração pesada, e o sangue que pinga de sua carne colore o chão coberto de neve. Gritos alheios passam a ser ouvidos: o motivo da fuga vem logo atrás da garota sem identidade. Até que ela, também, para. Presa em uma armadilha, seu corpo empalado chegou ao destino final. Enquanto os adolescentes de Euphoria ensaiavam para o início de mais uma temporada de substâncias sintéticas, figurinos coloridos e pele à mostra, as jovens de Yellowjackets estavam abandonadas à selvageria.

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Você sabe a razão das Cenas de um Casamento

Sete anos após atuarem juntos no filme O Ano Mais Violento, Jessica Chastain e Oscar Isaac esbanjaram química no tapete vermelho do Festival de Veneza (Foto: HBO)

Ana Júlia Trevisan

Da música à literatura, da pintura ao audiovisual, o amor é um dos temas mais explorados pela Arte. Sua complexidade inerente ao ser humano emerge artista e receptor da obra num invólucro que envolve desde a primeira instância. Da clássica à teen, as óticas para retratar a paixão mudam de acordo com seu público-alvo, mas todas se encontram no ponto de conversão do momento em que a vida e a arte se mesclam. Várias são as tramas que podem ser seguidas a partir do tema base e, ciente de seu potencial, Cenas de um Casamento escolhe seguir o caminho mais tortuoso para esgotar o assunto. 

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The Great: Com elegância e estratégia, Catarina molda seu império

Fotografia da série The Great. A imagem é retangular e mostra a personagem Catherine da cintura para cima, centralizada. Ela está em um salão fechado, com paredes detalhadas e douradas. Catherine é interpretada por Elle Fanning. Elle é uma mulher jovem, loira, branca com um nariz pequeno e traços delicados. Ela usa um vestido dourado, de época. Em sua cabeça há uma coroa grande, de rainha. Ao fundo só há uma parede atrás de si.
I am terrifying” (“Eu sou aterrorizante”) – Catherine, A Grande (Foto: Hulu)

Mariana Nicastro

HUZZAH! A Rússia é de Catherine na segunda temporada de The Great (ou A Grande, em seu título original). Proveniente do Hulu e disponibilizada no Brasil pelo Starzplay, a série chegou de mansinho, sem muito alarde. Porém, basta uma olhadinha na premissa instigante da ascensão do poder feminino na monarquia russa do século dezoito somada a um tom satírico, divertido e muito atual para conquistar o público com um equilíbrio incrível entre Comédia e Drama, e atuações dignas de um Emmy.

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Uni, duni, tê, o sucessor de Logan Roy não é você

Cena da série Succession. Na imagem, Roman e Siobhan Roy consolam o irmão Kendall. Da esquerda para a direita: Roman, um homem branco e de cabelos pretos, veste uma camiseta de manga longa e botões na cor rosa com uma calça na cor azul escuro, ele usa um óculos de sol preto enquanto apoia as duas mãos nos ombros de Kendall; o irmão consolado está sentado no chão arenoso, ele é um homem branco de cabelos raspados e veste uma camiseta de manga longa com botões na cor branca, Kendall usa um relógio dourado enquanto apoia a cabeça abaixada em seus braços cruzados; Siobhan é uma mulher branca de cabelos ruivos e olhos claros, ela veste um vestido de manga curta que acaba na altura do joelho, o tecido é na cor branca com estampado de flores em cores pastéis, a irmã usa um chapéu branco enquanto olha para baixo onde uma de suas mãos repousa no topo da cabeça de Kendall. Ao fundo da fotografia, o cenário é composto por construções antigas em cores barrosas, as árvores arredores são verdes, o chão é arenoso e o céu está azul com nuvens brancas.
A terceira temporada de Succession está no topo da lista de indicações ao Emmy 2022 (Foto: HBO Max)

Nathalia Tetzner

Succession somente existe porque os filhos de Logan Roy, dono de um conglomerado de mídia, tiveram uma infância em que os jogos de poder ultrapassaram os tabuleiros e a imaginação. Como se ditasse a parlenda brasileira Uni, duni, tê, o patriarca da família sempre brincou com as ambições de Kendall, Siobhan e Roman, mas, depois do salamê, do minguê e do sorvete colorê, o escolhido para assumir o controle da Waystar Royco nunca é batizado. Em sua terceira temporada, a série do HBO Max finalmente une os irmãos e alonga a sua aclamação com 25 indicações ao Emmy 2022, sendo a líder absoluta da noite de premiações.

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