Em Ousamos Sonhar, o refúgio é a esperança

Trazendo à tona os desafios dos imigrantes no esporte, Ousamos Sonhar fez parte da Competição Novos Diretores da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Violet Films)

Jamily Rigonatto 

Lutar, correr e persistir, três verbos que se encaixam perfeitamente nas rotinas de dois mundos aparentemente distantes: esporte e imigração. Ousamos Sonhar é o ponto de encontro, uma prova de que universos se fundem e são capazes de dobrar a força de qualquer palavra. No filme, dirigido por Waad al-Kateab e presente na Competição Novos Diretores da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, os sonhos ultrapassam as linhas das fronteiras territoriais. 

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A Sibila: Literatura e Cinema andam de mãos dadas

A adaptação literária A Sibila integrou a 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo na seção Novos Diretores (Foto: Alfama Films)

Vitória Gomez

O Cinema, enquanto Arte, amplia horizontes. Seja ao apresentar pontos de vistas únicos que fazem o espectador pensar duas vezes ou retratar uma cultura diferente, entrar em contato com o desconhecido pode também ser desafiador. Na 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, A Sibila é um desses desafios para um público desavisado: o longa, presente na seção Novos Diretores do festival, adapta o romance homônimo de uma importante escritora portuguesa, Agustina Bessa-Luís.

No entanto, diferente de outros escritores portugueses, Bessa-Luís não virou leitura obrigatória no Ensino Médio ou nos vestibulares, e a adaptação de sua obra, tida por muitos como impossível de ser realizada pelo tom de monólogo, instiga o público a pensar em como a Literatura e o Cinema se constroem, se conectam e se sobrepõem (se é que o fazem). Em pouco mais de uma hora, Eduardo Brito, diretor estreante em longas-metragens, assume o desafio e questiona esses limites.

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A Longa Viagem do Ônibus Amarelo é guiada por gestos de Cinema

A viagem de Júlio Bressane recupera desde antigos filmes familiares feitos em Super 8 e versões brutas de seus filmes até imagens amadoras feitas durante a pandemia de Covid-19 (Foto: TB Produções)

Enzo Caramori

É incerto se a noite afora, que entrava em um pequeno corredor na rua Augusta, é que invadia uma sala escura com seus barulhos, ou se seria o novo filme do diretor Júlio Bressane que venta e, acima de tudo, uiva. Na sessão de A Longa Viagem do Ônibus Amarelo (2023) na 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, algo de misterioso ressoava durante a experiência de quatrocentos minutos, sete horas e variados tempos. O resgate, pelo próprio diretor em conjunto com seu montador Rodrigo Lima, de sua vasta filmografia e de seu acervo íntimo de imagens, instaura uma determinada fantasmagoria do que é, realmente, uma experiência de Cinema. 

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A efervescência francesa em Paris é uma Festa

Cena do filme Paris é uma Festa - Um filme em 18 Ondas. A fotografia em preto e branco é um pouco tremida,  e retrata um momento de ação de um manifestante em posição para atirar algo em um protesto nas ruas de Paris. O chão está sujo e, ao fundo, podemos visualizar diversas pessoas pelo centro da cidade.
Interessante visualizar como a política e a vida privada dos franceses sempre estiveram de mãos dadas (Foto: Noir Production)

Clara Sganzerla

A França, historicamente, tem um currículo de peso quando pensamos nas maiores revoluções políticas e culturais do mundo contemporâneo. Seja pelos mais famosos acontecimentos ou até mesmo pelos grandes estudiosos, teorias e filosofias que surgiram no país, é difícil dissociar as imagens: o azul, o branco e o vermelho da bandeira usualmente encontram-se ligados a marcantes movimentos disruptivos na História. Sendo um dos homenageados na lista da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São PauloParis é uma Festa – Um Filme em 18 Ondas nos envolve em um novo olhar para a cidade da luz, do amor e da revolução.

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Após 10 anos, Jogos Vorazes – Em Chamas ainda deixa nossos corações incendiados

Cena do filme Jogos Vorazes - Em Chamas. A imagem é uma fotografia de Katniss e Peeta. Ao lado esquerdo está Katniss, uma mulher branca, de rosto arredondado e cabelos e olhos verdes olhando para o lado. A mulher está vestindo um vestido laranja e preto, que aparenta estar em chamas. No lado esquerdo da fotografia está Peeta, um homem branco de cabelos loiros vestido com uma bata laranja e preta que aparenta estar em chamas.
Talvez a sorte não esteja tão a favor assim de Katniss (Foto: Lionsgate)

Fábio Gabriel Souza

Sorriem, fiquem eretos. Vocês estão no ar

– Effie Trinket

Após 10 anos do lançamento, é interessante analisar um filme que se mantém tão atual se comparado com a realidade geopolítica do mundo. Jogos Vorazes – Em Chamas acontece no país distópico e totalitário de Panem, onde 12 distritos são governados com mãos de ferro pela Capital. Após uma guerra devastadora, conhecida como Dias Sombrios, os Jogos Vorazes foram instituídos como punição, em que uma garota e um garoto de cada distrito lutariam até a morte em uma arena, sobrevivendo apenas o mais forte.

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Há 40 anos, King quase enterrou O Cemitério – e que bom que isso não aconteceu

Alerta de gatilho: violência explícita, morte e luto

Capa do livro O Cemitério. A capa tem um fundo que na parte posterior tem lápides e na parte inferior tem um gato felpudo com coloração preta e reflexos brancos, está com os olhos brancos. Na parte superior, tem os dizeres "Stephen King" em branco. Já embaixo, há o título do livro "O Cemitério" e o logo da Editora Suma em vermelhos. A letra "c" de cemitério lembra o rabo de um gato.
O Cemitério é a personificação da morte em todos os sentidos (Foto: Companhia das Letras)

Marcela Lavorato

O Cemitério plantado por Stephen King colhe frutos há 40 anos. O motivo é simples: o livro é uma descrição minuciosa dos sentimentos humanos em torno de um fato que não nos é explicado, mas que esperamos vir inevitavelmente ao longo da vida – a morte. Na verdade, a morte não é algo simples, mas percorre a base do natural e do orgânico, algo que já nascemos com ela, pois sabemos que um dia irá acontecer, mas nunca esperamos ser tão cedo. A narrativa de Pet Sematary – título original -, portanto, abre portas para tramas brutas e reais que fazem o leitor experimentar todos os sentidos ao ler essa obra-prima do terror.

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Mussum, o Filmis: o samba e o humor brasileiro agradecem

Maior estreia nacional em 2023, Mussum, o Filmis integrou a programação da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Downtown Filmes)

Vitória Gomez

Mussum, o Filmis chegou às telas em uma safra fértil para as personalidades brasileiras: alguns meses depois de Nosso Sonho, junto do documentário Elis e Tom, Só Tinha de Ser com Você e Meu Nome é Gal, e pouco antes de Meu Sangue Ferve por Você. Haja cultura e diversidade em um ano em que, independentemente dos desempenhos individuais de cada obra, o Cinema nacional mostrou a potência que é – e que poderia ser ainda maior com políticas públicas que verdadeiramente valorizassem esse potencial. Para melhorar, a envolvente cinebiografia do sambista, ator e comediante Mussum, eternamente conhecido pelo seu papel como um dOs Trapalhões, arranca risadas fáceis e, não por menos, estreou com seis Kikitos do Festival da Gramado na bagagem, além de passagens pelo Festival do Rio 2023 e pela 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, na seção Mostra Brasil.

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Croma Kid sintoniza a expressividade dos anos 1990 em uma tela fantástica e analógica

Cena do Filme Croma Kid. Na imagem está um garoto branco coberto por um pano verde com dois furos em seus olhos castanhos e abertos. Parte de suas sobrancelhas aparecem nas formas ovais. Ao fundo uma parede verde como chroma key de um estúdio.
Croma Kid esteve na 47ª Mostra de Cinema Internacional em São Paulo e também na seção Bright Future do Festival Internacional de Cinema de Roterdã (Foto: Aurora Dominicana)

Henrique Marinhos

Marcado pelo domínio da tecnologia analógica no cenário audiovisual, Croma Kid é uma viagem estonteante aos anos 1990. Dirigido por Pablo Chea e presente na seção Competição Novos Diretores da 47ª Mostra de Cinema Internacional em São Paulo, a ficção nos leva a acompanhar o encantador pré-adolescente Emi (Bosco Cárdenas), em todas as suas rebeldias e pensamentos inquietantes sobre sua família, que o envergonha por sua veia artística e televisiva.

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Tomando Veneza, arte e política andam lado a lado

Cena do filme Tomando Veneza. Na imagem há dois homens segurando uma tela pintada à mão nos tons de cinza e amarelo. Os dois estão em uma lancha branca que é conduzida por um terceiro homem. A lancha flutua em um rio esverdeado de Veneza.
Exibido na seção Perspectiva Internacional da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Tomando Veneza dissolve um quebra-cabeças (Foto: Gert Films)

Jamily Rigonatto 

Quando o estalo da ruptura chega, é impossível deixar de ouvir. O som estrondoso carrega um posicionamento, mas nem sempre se insere de forma natural. Na maioria dos casos, o ruído depende de mais artimanhas do que somos capazes de imaginar. Em Tomando Veneza, documentário dirigido por Amei Wallach e pertencente à seção Perspectiva Internacional da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, os mistérios por trás do som são mais que desvendados.  Continue lendo “Tomando Veneza, arte e política andam lado a lado”

Não há nada de vazio em um Domingo à Tarde

Cena do filme O Vazio de Domingo à Tarde. Na imagem, Gisele Frade, uma mulher branca que interpreta Mônica, retira a  maquiagem em frente a um espelho com moldura branca. Ao lado direito do espelho, há fotos do rosto de Mônica com hematomas. Além disso, há uma taça de vidro e um demaquilante para a remoção da maquiagem na mesa em que a personagem está.
O longa-metragem, presente na 47ª Mostra Internacional de Cinema, marca a estreia de Gisele Frade como atriz nas telonas (Foto: André Carvalheira)

Guilherme Machado Leal

A metalinguagem é uma das formas de se contar histórias no audiovisual. A partir dela, discussões sobre a arte dentro da arte são inúmeras e não possuem uma maneira específica de abordagem. Por exemplo, em Pânico 3, os personagens gravam um filme slasher enquanto vivenciam o subgênero em suas vidas pessoais. As narrativas autorreferenciais são importantes porque tiram o foco do exterior e priorizam o processo de criação em detrimento à finalidade dele. É nesse lugar que O Vazio de Domingo à Tarde, dirigido por Gustavo Galvão, se encontra. 

O longa, que estreou na seção Mostra Brasil da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, acompanha a história de Mônica (Gisele Frade), uma atriz conturbada com a sua carreira e vida pessoal, que se entrelaçam e a tornam uma só. Tendo como ponto de partida a sua relação com o trabalho, a personagem trava uma batalha interna entre o seu eu pessoal e o lugar de prestígio que ocupa no imaginário daqueles que a admiram. Nesse sentido, ao mesmo tempo em que a protagonista passa por essa jornada, Kelly (Ana Eliza Chaves), uma adolescente que almeja o estrelato, possui a artista como inspiração e fará de tudo para entrar no mundo da atuação.

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