Melhores discos de Junho/2018

O Brasil que eu quero (Mídia Ninja)

Egberto Santana, Gabriel Leite Ferreira, Jho Brunhara, Leonardo Santana

Junho foi frutífero para gregos e troianos. Teve comeback de diva pop, teve lançamento no underground, teve de tudo. Pela primeira vez em meses, faltou espaço para tantas oportunidades interessantes. Abaixo, colaboramos com os nossos momentos preferidos.

The Carters – EVERYTHING IS LOVE

rap

O casal Carter é muito esperto. Reclusos no palácio de excelência negra e respeito que construíram nos últimos anos, não dão entrevistas, não deixam nada vazar. Ao invés disso, nos vendem sua intimidade através de discos e turnês. Fechando a trilogia de orgulho e perdão iniciada pelo emblemático Lemonade, Beyoncé e Jay-Z renovam seus votos e deixam claro: assim como o casamento, suas contas bancárias vão muito bem obrigado.

Pra muito além da ostentação, EVERYTHING IS LOVE é um ode ao inegável lugar do casal no topo da indústria. A essa altura do campeonato, fica difícil pensar em algo que Bey não faça perfeitamente. E o flow nervoso da cantora reafirma essa situação, ao mesmo tempo em que Jay segue mostrando o porquê de ser um dos rappers mais respeitados da história.

Overdose da química criativa que o casal já demonstrava em clássicos como Upgrade U,  o disco é uma fusão polida da expertise de seus dois realizadores. (LS)


Christina Aguilera – Liberation

pop

Como sempre, Aguilera surge com uma narrativa pessoal para florear sua tracklist. Mas dessa vez, longe do bagunçado Lotus (2012), os relatos soam realmente sinceros. Ainda, o que a nova-iorquina nos oferece aqui é pop com gosto de coisa nova. Ou seja, a boa e velha Christina.

A ex-Clube do Mickey Mouse volta a dar o ar da graça após seis anos – uma eternidade para o mercado. E a espera não foi em vão. Com sample de Michael Jackson e produção assinada por Kanye West, Maria é exemplo impecável dessa guinada no catálogo da artista.

Nem todos de sua geração conseguiram envelhecer mantendo a coesão e a originalidade, mas X-Tina, agora uma veterana, retorna ao holofote como se nem um dia tivesse passado. (LS)


Florence and the Machine – High As Hope

indie pop

Em High as Hope, Florence resgata suas memórias de adolescência e juventude em 10 belas músicas escritas e coproduzidas pela mesma. Ao abrir seu coração sobre amor, conflitos e traumas familiares, problemas com bebida e drogas, além da violência presente no mundo, a londrina retoma a sonoridade do álbum anterior, How Big, How Blue, How Beautiful, de forma mais madura.

O atual trabalho é o álbum mais coeso da carreira da cantora, ao mesmo tempo em que deixa de lado a grandiloquência vista anteriormente: o disco é calmo, despido de metáforas pesadas e longe da imagem esotérica e mística. Com os pés no chão, a poesia de Florence é sutil, ainda que imponente. Um disco para se ouvir com calma, acompanhando as letras, e a sinceridade crua trazida nos versos que preenche a alma de quem o ouve.

Destaque para June, Hunger e The End of Love e No Choir. (JB)


Jorja Smith – Lost & Found

r&b, neo-soul

Apesar da pouca idade, Jorja Smith parece ter muita história pra contar. Em sua maioria, essas são histórias tristes e doloridas sobre relacionamentos de todo tipo. Nada de novo sob o sol. Mas o que fez a britânica se destacar nos últimos anos – e o que torna seu primeiro disco interessante – é exatamente o tratamento que ela dá a esses momentos: sem medo de desmascarar sua tristeza, o r&b de Smith é extremamente original.

Inspirada por monstros com Amy Winehouse e Erykah Badu, a cantora tece narrativas que, apesar de melancólicas, passam longe do trágico. A leveza aqui é também elemento chave na produção, que torna o debut de Jorja Smith um dos lançamentos mais agradáveis (e viciantes) do ano. Um ótimo começo. (LS)


Kanye West – ye

rap, hip hop

Com os disparates do próprio Kanye West em sua volta nas redes sociais e, principalmente, a polêmica entrevista na TMZ, o público estava atônito para a estreia do novo álbum (sem nome até o dia do lançamento) e ouvir o que o artista que dividiu fãs e fez dezenas de blogs explicarem seu comportamento tinha para responder.

Surpreendentemente ou não, o conteúdo de ‘ye’ foi basicamente mudado depois da infeliz frase de West e sua repercussão. Se foi boa ou não essa mudança, talvez nunca saberemos; mas serviu para entregar o projeto mais pessoal do rapper. Por mais que comparando essa ideia com o título pareça óbvio, tanto a capa quanto o nome e algumas faixas foram finalizadas no último dia. No entanto, o atraso não prejudicou e apenas melhorou o produto final.

A relação com Kim Kardashian, sua esposa e suas filhas em meio a toda repercussão causada por Kanye e seus problemas com drogas a bipolaridade são assuntos que percorrem as 7 faixas (I miss the old Kanye) do álbum. O tom melódico e confessional, que deixara apenas pistas em Pablo, é o mais presente aqui e a prevalência da voz como principal instrumento se torna o destaque na produção, entre coros e batidas mais suaves, onde o artista resolve rimar no fundo de solos de guitarras e os clássicos pianos. Sua persona é o que dá cara ao álbum, talvez o que ele sempre foi, mas o quê nunca conhecemos.

No final, se todas as tretas e discussões trouxeram alguma coisa para a música, esperamos que seja o crescimento e amadurecimento de Kanye, como pessoa e artista, que com certeza está entre os melhores (ou o melhor, para os fãs) de todos os tempos. Os 5 álbuns prometidos por Yeezus foram entregues, destacando o mais marcante para sua carreira e enquanto ele continua ativo nas redes, o mais esperado ainda pode vir a chegar. (ES)


Nine Inch Nails – Bad Witch

rock industrial, rock experimental

Em termos de rock industrial, não há banda mais popular que o Nine Inch Nails. Nos anos 90 o faz-tudo Trent Reznor revolucionou o subgênero ao adicionar um certeiro senso pop à agressividade. Desde então, o NIN se firmou como unanimidade no cânone da música contemporânea.

Ainda assim, o projeto de Reznor nunca superou o impacto dos clássicos incontestáveis The Downward Spiral (1994) e The Fragile (1999). Bad Witch, 15º álbum de estúdio, não é uma obra-prima revolucionária, mas é um grande salto depois dos insossos últimos EPs. São 6 faixas com uma unidade notável, desde a frenética “Shit Mirror” até a soturna “Over and Out”. Detalhe para “Play the Goddmaned Part”, instrumental com influências de jazz a la Blackstar. (GL)




SOPHIE – Oil of Every Pearl’s Un-Insides

eletrônico, experimental

Ainda que facilmente reconhecível, o som feito por SOPHIE é difícil de ser definido. Suas produções transitam do dançante ao desconcertante, dado o uso de interferências plásticas e meio cibernéticas que ela faz para esculpir as melodias. Essa é a interpretação que a DJ escocesa tem da música pop, mas há muito mais a ser descoberto.

Em seu disco de estreia, a música eletrônica é personagem principal na criação paisagens sonoras catárticas para refletir aspectos da alma da artista. A poética das letras acompanha essa explosão, resultando num surpreendente combo de pop surrealista. A experiência é diferente a cada audição, por isso vale muito o repeat. (LS)


serpentwithfeet – soil

experimental, r&b

Conjunto de confissões rasgadas e duras, a estreia do projeto serpentwithfeet impressiona por seu tom atmosférico e intimista – ainda que grandioso em certos momentos. Somando à experiência, sexo e vulnerabilidade caminham nas faixas ora em paz, ora em guerra.

Ainda, a singular voz de Josiah Wise produz sua versão própria e fantasmagórica do r&b, rendendo 40 minutos de um som que soa fresco e novo.  (LS)

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