Nota Musical – Maio de 2021

Destaques do mês de maio: Olivia Rodrigo, Karol Conká, MC Kevin e Twenty One Pilots (Foto: Reprodução/Arte: Larissa Vieira/Texto de Abertura: Raquel Dutra)

O ano se aproxima da metade e já podemos dizer que ele tem seus nomes. Ninguém vai conseguir lembrar de 2021 sem cantarolar a melodia de drivers license e imaginar o lilás da capa do primeiro disco de Olivia Rodrigo. O primeiro hit do ano colocou a adolescente sob os holofotes de todo o mundo, assinalando o seu nome em diversos recordes nas plataformas de streaming e criando uma expectativa gigantesca em cima de seu álbum de estreia.

Experiências adolescentes universais, muito estilo, atitude, talento, hype e aquela pontinha de nostalgia combinada com o jeitinho único da geração Z foram os artifícios de Rodrigo para construir em SOUR a melhor estreia que poderia ter feito. O recado é simples: com sua carteira de motorista em mãos e desabafos juvenis devidamente finalizados, todos os caminhos estão livres para o futuro da estrela Olivia.

Ao lado da princesa do Detran no hall de condecorados de 2021, possivelmente estará Lil Nas X. O primeiro álbum do nosso pequeno já tem nome, data de nascimento e muita identidade, conforme aponta o novo single. Se antes ele causou o terror de fundamentalistas religiosos ao descer até o Inferno numa barra de pole dance e sensualizar com o diabo, agora ele chega até o Céu através de uma canção íntima e sincera sobre suas vivências enquanto jovem gay negro.

E se o assunto é gente promissora, os trabalhos de chloe moriondo, ELIO, Alfie Templeman, girlhouse, Ashe e dodie também encontram um bom lugar em 2021 e nesta edição do Nota Musical. No núcleo teen, também está a chegada estrondosa do verão amanteigado do BTS, sinais da nova era de Conan Gray, novidade dos Jonas Brothers e de Niall Horan.

As amadas gravidinhas do Little Mix juntaram fôlego para acompanhar David Guetta em Heartbreak Anthem e fazer história no prêmio mais importante da música britânica. Na cerimônia do BRIT Awards 2021, o trio foi a primeira girlband a vencer a estatueta de Melhor Grupo, e não deixou o momento passar em branco no palco da premiação: “Vimos homens dominando, misoginia, sexismo e pouca diversidade. Estamos orgulhosas por termos permanecido juntas, nos cercado de mulheres fortes e agora usando mais do que nunca as nossas vozes”. 

Lá, Olivia Rodrigo também dominou o momento em sua primeira performance em uma premiação e Dua Lipa seguiu acalmada. Elton John aproveitou para mais uma vez demonstrar seu apoio à nova geração da Música, agora ao lado de Olly Alexander com a política It’s a Sin, na véspera do mês reservado para a celebração do Orgulho LGBTQIA+.

Os contemporâneos favoritos da Terra da Rainha, no entanto, não cumpriram as promessas de 2019. Coldplay chegou no BRIT Awards 2021 com um terrível novo single, que definha as tantas possibilidades para o futuro da banda construídas com o último disco no pop enjoativo que o quinteto britânico insiste em praticar. 

Erro esse que não foi cometido por Twenty One Pilots. A migração de sua mistura única e obscura de rock alternativo/hip-hop para os tons doces de um pop/rock vintage foi de início duvidosa, mas muito bem assimilada quando finalmente chegou aos nossos ouvidos. Fato é que os ouvintes mais apegados podem estranhar a sonoridade de Scaled and Icy, mas a nova era de Josh Dun e Tyler Joseph é rica em significados como sempre.

E o rock por si mesmo segue em boas mãos. Maio nos presenteou com o encontro épico de Sharon Van Etten e Angel Olsen e o retorno tão esperado de St. Vincent, que chegou em 2021 através de narrativas autobiográficas profundas e com a estética da década de 70. Mas o destaque do gênero vai mesmo é para o novo trabalho da banda dinamarquesa Iceage e o EP de PRETTY., paradas obrigatórias dentre a vastidão de obras pontuadas aí abaixo.

No folk, fomos embalados pelo novo CD do grupo Lord Huron e pelo quinto e belíssimo disco de Jon Allen. O blues também foi perfeitamente celebrado junto aos 20 anos de The Black Keys no décimo álbum do duo, e os amantes de country devem dar uma chance para a delicada influência do gênero na música de Aly & AJ. Já no R&B, Maio trouxe as preciosidades dos trabalhos de Sinead Harnett, Erika de Casier e Jorja Smith.

O saldo do mês no rap também foi o melhor possível. O retorno de Nicki Minaj com o lançamento de sua mixtape reformulada nas plataformas digitais é um aquecimento para o futuro da rapper, enquanto J. Cole segue um sucesso nas paradas mesmo quando respira entre suas safras. Aqui no Brasil, BK’ estreia o selo de sua produtora e Tasha e Tracie flertam com o funk em seu primeiro single do ano.

Na poética que só a rima permite, o rap do novo álbum de McKinley Dixon flutua em seus pensamentos sobre a vida numa das obras mais lindas de Maio e talvez de 2021, destinado à sua mãe, e a todos que se parecem com ela. As reflexões do jovem estadunidense acontecem de uma forma parecida com o trabalho de Jup do Bairro, que segue em Sinfonia do Corpo como uma das vozes mais relevantes na música nacional. 

Chegando em sons brasileiros, é impossível não gostar de pelo menos uma coisa que nosso pop vem produzindo. Depois de soltar a voz com Emicida na maravilhosa e icônica AmarElo, Majur inaugura sua carreira com louvor com Ojunifé. A promessa de Urias também é grande e a expectativa só cresce com o que ela libera para degustação de seu disco, que ganhou nome este mês. 

O novo trabalho da Tuyo, por sua vez, desenha para quem tinha dúvidas o porquê a beleza do som da banda chamou a atenção do The New York Times. Essa serenidade que permeia nossos artistas desaguou em Karol Conká, que retorna decidida a superar a sua curta porém intensa passagem pelo Big Brother Brasil.

Pabllo Vittar, de fato, não para. O lançamento da vez é uma volta às suas raízes, num forró com o drama de uma novela mexicana, que serve muito, como sempre, em marketing e complementos visuais. Próximo e longe da drag, está Gabeu, que como uma exímia cria do sertanejo e um legítimo orgulhoso de si mesmo, agrega mais um single em sua carreira, fortalecendo sua posição de precursor do queernejo no Brasil. 

Maio também nos permitiu apreciar Tim Maia em espanhol e Nando Reis em família, além de reforçar uma mensagem muito importante através de Martinho da Vila. O assassinato de George Floyd completa um ano, e a Arte não deixa de exercer sua função social e defender que Vidas Negras Importam.

Um mês de ganhos preciosos também foi um mês de perdas irreparáveis. Nelson Sargento, mestre do samba e parceiro de Cartola, MC Kevin, uma das vozes mais bonitas do funk, e Cassiano, rei do soul brasileiro e letrista de Tim Maia, foram alguns dos nomes que deixaram a vida nos últimos trinta dias. O Persona reúne a Editoria e os colaboradores no Nota Musical de Maio, em memória à importância de cada um deles para a música brasileira.

Foto de Nelson Sargento. Nelson é um homem negro de 96 anos, careca com a barba rala branca. Ele está sentado, usa paletó verde e uma faixa escrita PRESIDENTE DE HONRA. Seus braços estão abertos.
O general do samba nos deixou aos seus 96 anos (Foto: Nelson Sargento)

Falecimento de Nelson Sargento

O samba agoniza, mas não morre. Não morre, mas chora rios de lágrimas quando alguém que dedicou a vida para vivê-lo parte desse plano para tocar ao lado das estrelas. Nelson Sargento, a história viva do ritmo negro, forte e destemido, partiu em uma manhã de quinta-feira, no meio desse complicado maio de 2021. Aos 96 anos, Nelson tinha vida de sobra, uma carreira de encher os olhos e o respeito de toda a Estação Primeira, que perdeu uma de suas raízes verde-e-rosa mais brilhantes. O Brasil, mais uma vez, fica órfão. 

Nelson, que era Mattos, só virou Sargento depois dos quatro anos no Exército. Uma função só não bastou – o carioca era cantor, compositor, pesquisador, artista plástico, ator e escritor. Acima de tudo isso, era incomparável. Vascaíno de coração, guiou os rumos da Mangueira como baluarte e presidente de honra, foi parceiro de Cartola, Carlos Cachaça, Paulinho da Viola, Zé Keti, e outras lendas que, assim como ele, cravaram seu nome na história da Música Popular Brasileira. 

Nas suas mãos, samba virou resistência; virou grito de guerra. É impossível relatar quem foi Nelson em um texto de três parágrafos. O buraco de sua perda é gigantesco. Angenor já cantava que, em Mangueira, quando morre um poeta, todos choram – novamente, os lamentos descem até o asfalto e inundam todo o território nacional. Nelson Sargento não existiu, foi um sonho que a gente teve. – Caroline Campos


CDs

Capa da mixtape Passado e Presente, de MC Kevin. Do lado esquerdo, o rosto do MC Kevin jovem com um fundo preto. Do lado direito,um fundo vermelho, o rosto recente de MC Kevin, com tatuagens e barba. Ao centro, um rosto frontal, metade adolescente, metade mais velho, vestido com uma jaqueta de couro preta e o título da mixtape escrito em vermelho.
Capa da mixtape Passado e Presente, lançamento póstumo de MC Kevin (Foto: WMD/Revolução Records)

MC Kevin – Passado e Presente

É sempre muito triste a morte de um artista tão jovem. Kevin tinha apenas 23 anos e uma carreira consolidada que se iniciou em 2013 e se findou em 16 de maio de 2021 . As escolhas pessoais podem e devem ser questionadas, mas a ascensão de um adolescente que já foi traficante de drogas e se tornou um MC milionário, chegando a abrir sua própria produtora também, são fatos que demonstram o potencial do funkeiro.

Inclusive, o álbum póstumo Passado e Presente foi o primeiro lançamento da Revolução Records, que continuará na ativa. O trabalho conta com 10 faixas que transitam entre o funk e o trap e diversas participações, como Ryan SP, Hariel, Magal, PH e Vulgo FK. Além disso, Kevin cita algumas referências, os MCs Felipe Boladão e Daleste, a banda Charlie Brown Jr. e até o jogador Neymar. 

A mixtape traz muito sentimento nas músicas, como se fosse um desabafo do artista. O sofrimento na infância, entrada para a vida do crime e a reviravolta com o funk, tudo em um curto espaço de tempo. Junto disso, vemos uma grande maturação nas letras, Kevin faz críticas sociais e fala também sobre a mudança de postura de algumas pessoas após seu sucesso. Se tivesse que resumir toda a trajetória em uma frase, seria uma épica do próprio MC: O menino encantou a quebrada. – Elder John


Capa do álbum If I Fail Are We Still Cool?, do cantor Patrick Paige II. Nela, vemos uma foto dele, homem negro, de dreads e camista branca, sentado nos bancos de um aeroporto, com as mãos atrás da cabeça e os pés esticados sobre o assento da frente. No canto inferior esquerdo, está escrito o nome do cantor e abaixo, o nome do CD.
Se eu falhar, a gente ainda tá de boa? é o título mais legal de 2021 (Foto: Forward and Up Entertainment)

Patrick Paige II – If I Fail Are We Still Cool? 

Atenção passageiros, o piloto Patrick Paige II avisou que vai decolar e se preparem, pois essa será uma viagem para ficar na história. As aeromoças que interrompem a progressão das faixas nunca chegam a dizer exatamente essas palavras, mas o sentimento não é antagônico. Patrick Paige II, membro da badalada The Internet, arrisca um segundo voo solo em If I Fail Are We Still Cool?, LP robusto e exotérico, que rememora parcerias com nomes proeminentes do rap, assim como com seus companheiros de banda Syd e Steve Lacy.

O rapper é modesto no passeio entre as 17 faixas, soando menos interessado em ser incisivo ou repetitivo em seu repertório. A própria decisão de nomear o disco com uma frase tão sincera e genuína já descasca a índole de Paige II, cantando ferozmente no single promocional Whisper (Want My Luv), que puxa referências do funk. Curfew é a melhor experimentação solo do cantor, ao passo que a colaboração com Syd decola o potencial da dupla. Sobra espaço para aclamação de Good Grace e mais espaço ainda para encher a bola do artista, que não importa se está sozinho ou acompanhado, nunca decepciona. – Vitor Evangelista 


Capa do álbum The Off-Season. Foto quadrada, com cenário de noite. Ao lado esquerdo da imagem é possível observar uma grande tabela de basquete, queimando em fogo de cima a baixo. Do lado direito, mais à frente, está J. Cole, homem negro, de barba e cabelos em longos dreads que se alongam até seus ombros. Ele veste uma calça e moletom pretos, com suas mãos dentro dos bolsos. Sua cabeça inclina-se para a direita, enquanto apenas parte de seu rosto é iluminado pelo fogo. Além disso, atrás da cena, vemos uma densa cortina de fumaça tomando todo o céu.
The Off-Season é o sexto álbum de J. Cole a alcançar a primeira posição da Billboard 200 (Foto: Dreamville Records)

J. Cole – The Off-Season

The Off-Season. O nome do disco foi a primeira coisa que me chamou a atenção. Off-Season pode ser traduzido do inglês como entressafra, na agricultura, o período de intermédio entre o fim de uma colheita e o início de outra. Um momento de planejamento, em que organiza-se o rendimento da última safra, e prepara-se o plantio da próxima. No universo dos esportes, off-season define o período entre temporadas esportivas, em que o atleta segue uma rigorosa sequência de treinos, juntamente à uma dieta de grande aporte calórico, com o intuito de alcançar um alto rendimento corporal em curto tempo. Da mesma forma, esse é um álbum de transição, em que Cole decide aperfeiçoar-se como músico, compositor e produtor, enquanto prepara-se para seu grande lançamento, que promete ser o aguardadíssimo The Fall Off. Desse modo, J. Cole, ao mesmo tempo que tenta se aprimorar, mantém-se em uma zona segura.

O rapper agrupou para esse trabalho um elenco absurdo de colaboradores, que vão de Timbaland, T-Minus, Boi-1da e Frank Dukes na produção, até Bas, 6LACK, Morray e Lil Baby emprestando suas vozes. Sua entrega lírica, como sempre, é excepcional, contudo, em alguns momentos, suas ideias tendem a cair no senso comum. Ao mesmo tempo que encontraremos músicas como a p p l y i n g . p r e s s u r e, que expõe comentários mordazes sobre a cena atual do hip-hop e suas tendências nocivas, conforme alguém que sabe que está entre os melhores e não hesita na hora de falar isso, também passaremos por faixas como m y . l i f e, que tenta assiduamente reproduzir a fórmula de a lot, inclusive reprisando o feat de 21 Savage, porém de forma bem menos convincente que o primeiro. 

O que eu sinto é que, apesar de um álbum conciso, está longe do período de auge do Cole. E, talvez, isso seja proposital, visto que esse é um lançamento que já nasce de uma expectativa externa. Essa relação de dependência com o prometido The Fall Off, de que ele seria somente uma prévia ou um prelúdio de algo maior, acaba por podar a sua autonomia como obra isolada, o que pode, mesmo com os números absurdos que o álbum tem conquistado nos charts da Billboard, reduzir consideravelmente sua vida útil a longo prazo. Mas isso, no fim das contas, não passa de achismo meu. De qualquer forma, The Off-Season não deixa de ser um acerto, e desvenda um pouco mais do que a nomeada The Fall Off Era ofereceu e ainda tem a nos oferecer. Enrico Souto


Capa do CD Daddy’s Home, da cantora St. Vincent. A capa é em tom sépia e mostra Vincent, mulher branca, de peruca loira e casaco de pelo branco por cima do vestido escuro, sentada de pernas cruzadas em uma confortável poltrona. No topo direito da imagem, está o logo do nome do disco, em fonte amarela com contorno verde.
O papai chegou (Foto: Loma Vista Recordings)

St. Vincent – Daddy’s Home 

St. Vincent é mestra na metamorfose artística, mas dessa vez ela foi além. Seu sétimo registro de estúdio carrega, no nome e na realização, um conceito familiar muito singular e marcante: a prisão de seu pai. “Eu queria contar isso não como uma grande fofoca, mas como uma história humana, com amor e compaixão”, ela revela, se referindo ao encarceramento que aconteceu em 2010, depois do patriarca dar um golpe financeiro avaliado em 43 milhões de dólares.

Como a arte de Annie Clark, nome por trás da fachada exotérica, não é nada simplória, ela foi além das obviedades que rondam o cenário mainstream, ao não apenas pescar referências históricas e musicais dos anos 70 e 80, mas recriar estilos, formato e abordagem. Daddy’s Home soa como um produto do século passado, em seus inúmeros acertos e poucos deslizes. Depois de cantar sob camadas eletrônicas no Grammyzado MASSEDUCTION, St. Vincent prolonga as sílabas e versos do trabalho atual, demorando mais que o esperado para chegar ao ponto de destino.

Quando cria essa persona da filha perdida em contraponto do pai ausente, Daddy’s Home não se preocupa em situar seu ouvinte ao passado conturbado da cantora, e ela, ao lado do produtor Jack Antonoff, manufaturou o disco para além de suas referências. Mesmo quem nem imagina que o pai da artista foi para o xilindró aproveitará as 14 faixas. É claro que a singularidade do tema obstrui um pouco da relação cantor e fã, sedimentando o disco como um trabalho nada atrativo para ouvintes de primeira viagem. Os destaques sonoros são quase todos, desde a deliciosa e convidativa The Melting Of The Sun, até a prazerosa faixa-título e a despirocada Down. Os repetitivos interlúdios embananam Daddy’s Home, mas a desenvoltura de St. Vincent, assumindo o título de Papai e com as pernas cruzadas à la Sharon Stone, toma as rédeas e não deixa ponto sem nó. – Vitor Evangelista 


Capa do álbum “a touch of the beat gets you up on your feet gets you out and then into the sun”, do duo pop Aly & AJ. Estilizado como uma colagem, as irmãs Aly e AJ Michalka estão no centro, caminhando para frente, AJ andando um pouco à frente de Aly, com os braços levantados, prestes a comemorar. Atrás delas, uma figura similar, com várias partes rasgadas que revelam diferentes cores por trás: laranja, amarelo e púrpura. Escrito verticalmente na borda esquerda da capa está o título completo do disco.
O primeiro álbum de estúdio de Aly & AJ em 14 anos traz uma nova vida ao pop upbeat das irmãs (Foto: Aly & AJ Music LLC)

Aly & AJ – a touch of the beat gets you up on your feet gets you out and then into the sun

Quase 14 anos depois de Insomniatic e o legado duradouro de músicas como Potential Breakup Song e Like Whoa, o duo pop Aly & AJ volta com seu mais novo álbum de estúdio, gravado no famoso estúdio Sunset Sound em Los Angeles e lançado através de sua própria gravadora. a touch of the beat gets you up on your feet gets you out and then into the sun se apresenta logo de cara como um projeto extremamente pessoal das irmãs Michalka e, mais do que um comeback, uma culminação da jornada delas até aqui.

Abrindo logo de cara com o single Pretty Places, elas introduzem as influências country pop que fundam a base para o resto do disco. É uma mudança bem-vinda que ajuda a diferenciar as novas músicas dos EPs anteriores, apesar de significar a ausência dos excelentes singles Attack of Panic e Joan of Arc on the Dance Floor. A partir daí, a dupla nos guia pelas suas experiências mais pessoais, do desejo de se reinventar em Break Yourself até a valorização do amor na suave Slow Dancing, oferecendo algumas de suas melhores faixas.

Apesar do disco se caracterizar por faixas animadas e confiantes como Paradise, Listen!!! e Don’t Need Nothing, seu momento definitivo vem ao final, composto pelo soco de três partes que é Stomach, Personal Cathedrals e Hold Out. Essas canções diminuem o ritmo elevado do álbum e exploram sentimentos negativos de maneira intimista e impactante, terminando a touch of the beat não como um hino, mas como uma resposta sincera e vulnerável à pergunta: “Você vai me segurar?/Vai estender seu braço e me segurar?/Você se acha forte o suficiente?”. – Gabriel Oliveira F. Arruda


Capa do álbum Long Lost, da banda Lord Huron. A capa tem bordas beges, e mostra o desenho de uma pessoa tocando violão, mas seu rosto está borrado, como se estivesse se refletindo na água. O fundo é azul.
Você mergulharia? (Foto: Whispering Pines Studios Inc.)

Lord Huron – Long Lost 

O novo disco do grupo de folk Lord Huron continua investigando a tristeza sob a ótica da melancolia americana, mas dessa vez o processo nos afoga junto deles. A imagem da capa metafórica se estende para além do figurativo, quando o som de Long Lost, oscilando entre lamentos e desabafos, recria a experiência de um concerto de verdade. Ou, nesse caso em especial, com o máximo de fidelidade possível.

Um túnel do tempo é cavado pelos donos da poderosíssima The Night We Met e que, em 2021, usam contextos de turnês recentes para dar o toque do trabalho. Interlúdios simplórios climatizam o ambiente norte-americano, ao passo que a banda não economiza nas guitarras, por vezes cobrindo a voz de seus vocalistas sob camadas de sons altos.

I Lied, ao lado da novata Allison Ponthier, recria diálogos de casais exaustos, credibilizando um amor que já passou da validade. Not Dead Yet é uma conversa de espelho, e What Do It Mean abrange a solidão de uma vida de fama. Long Lost finaliza sua jornada com Time’s Blur, um instrumental de mais de 14 minutos. A transição de cantar sobre a tristeza e mostrar a tristeza através de sons é gradual e objetiva, fazendo com que o retorno da banda daqui algum tempo brade mais alto o posto de reis do folk alternativo que carregam com tanto vigor. – Vitor Evangelista 


Após gravar AmarElo com Emicida, Majur lança seu primeiro disco (Foto: Guilherme Nabhan)

Majur – Ojunifé

Ojunifé é um nome inspirado na cultura Iorubá que tem por significado “olhos do amor”. Nada poderia descrever melhor o primeiro álbum da cantora Majur do que esse título. O sentimento é que estamos sendo observados com um olhar terno e de paixão tranquila. Ojunifé não se trata apenas de um disco, é um presente divino que nos coloca a par da cintilante energia de Majur, ao mesmo tempo em que nos reconecta com nossa própria fé. Logo na primeira faixa – Agô – o coração dispara e a cantora mostra que veio para arrepiar e emocionar.

Majur não está sozinha em sua estreia. Luedji Luna a acompanha na envolvente Ogunté para lembrar que nunca estamos sós. Já a maravilhosa Liniker faz o duo na mágica e deliciosa Rainha de Copas. Iniciando um manifesto no afropop, Ojunifé carrega a ancestralidade da cantora em cada verso. Majur transpira leveza ao longo de suas dez faixas, sua tríade de encerramento traz o amor de forma sincera e você termina o álbum com a necessidade de escutá-lo mais uma vez. – Ana Júlia Trevisan


Capa do álbum Blood Bunny. A imagem é um desenho. Centralizado no topo, vemos um arco-íris com as palavras “Blood Bunny” em caixa alta. Embaixo, ao centro, uma menina de cabelos roxos, lisos e na altura do ombro, vestindo uma camiseta branca com uma estampa de borboleta laranja, uma saia cinza, meias amarelas, tênis vermelhos, colares, pulseiras nos pulsos e uma tiara de orelhas de coelho, está sentada em um chão de nuvens roxas. Ela segura uma tesoura e tem arranhões e curativos nos braços e pernas. Ao redor, a paisagem é de uma lua, céu e nuvens em tons de roxo.
As boas impressões com Blood Bunny já começam pela capa (Foto: Elektra Records LLC)

chloe moriondo – Blood Bunny

Passamos da fase dos ídolos adolescentes fabricados: uma nova geração de artistas toma as rédeas do próprio trabalho, das composições aos conceitos, e exercem sua liberdade para garantir produções criativas e cheias de personalidade. Cria do YouTube, a cantora estadunidense Chloe Moriondo soma à leva dos bedroom pops que usam da plataforma para divulgar suas criações e agora, com mais de 3 milhões de inscritos por lá, lança seu segundo álbum, Blood Bunny – tudo isso com apenas 18 anos.

Na mistura de influências da artista, que ela lista na divertida Favorite Band e incluem Paramore, All Time Low e Simple Plan, Chloe ora se inspira, ora se afasta da sonoridade de seus ídolos. De cara, a abertura traz o pop rock com Rly Don´t Care, uma das melhores do álbum, mas muda o tom nas seguintes, como nos singles pop I Eat Boys e Manta Rays. Ao longo das 13 faixas, canções animadas e puxadas para o rock, como Take Your Time, I Want To Be With You, Bodybag e What If It Doesn´t End Well, são intercaladas de outras com pegadas misturadas, como Samantha e Strawberry Blonde, e outras quase esquecíveis, como as parecidíssimas Slacker e Vapor

Ao final, as alternâncias de estilos e tons contrastam bem em Blood Bunny, lembrando trabalhos de artistas como Beach Bunny e mxmtoon. Mas se ritmos podem enjoar ou parecerem repetidos, as letras das faixas imprimem a personalidade da artista: Chloe mostra que sabe ser sincera e reflexiva, como na identificável GIRL ON TV, mas também imaginativa e inovadora, até quando canta sobre temas comuns e batidos. Com muitos altos e alguns baixos, Blood Bunny é promissor e, com dois álbuns apenas aos 18 anos, Chloe Moriondo ainda vai fazer muito. – Vitória Lopes Gomez


Capa do disco For My Mama and Anyone Who Look Like Her. Nela, vemos um desenho em aquarela de uma mulher negra segurando um bebê no colo. Cores vivas, como vermelho, verde, amarelo e verde pintam por cima das figuras. O fundo é branco, criando um belo contraste.
Eu não ousaria indicar uma ou outra canção solta do disco, ouça o trabalho na íntegra e mergulhe na brilhante mente de McKinley Dixon (Foto: Spacebomb)

McKinley Dixon – For My Mama and Anyone Who Look Like Her

O rapper McKinley Dixon encara a música com a leveza e o desprendimento da perfeição. Não que seu som seja sinônimo de bagunça ou desleixo, nada disso, mas o fim de sua trilogia, gestada desde 2016, encontra em suspiros de improviso e na constatação do infinito o trunfo master de uma carreira que nasceu mesclando o rap e a poesia, a literatura e a Arte. São muitas as influências que constroem esse misto de jazz, rap, pop, samba e qualquer outro gênero musical com que Dixon teve contato e decidiu incrementar o toque de ouro.

Em recentes entrevistas do artista para os mais diversos portais, uma máxima se sobressai: o cantor vive ligado no duzentos e vinte. Ele encara essa realidade com óculos especiais, ligando ideias, misturando o passado e o presente. Seus trabalhos são íntegros e multifacetados. Ele inicia com a discussão sobre o papel do homem negro em Who Taught You To Hate Yourself?, e sucede cantando um ode às mulheres negras e sua importância na comunidade com The Importance of Self Belief. O ponto final vem em For My Mama and Anyone Who Look Like Her. Frase essa dita por sua sobrinha Elizabeth no CD anterior, que revela o caráter intrínseco da Arte de Dixon, que nunca se afasta de suas raízes para, então, prosperar junto delas.

Em terna conversa com o Post Trash, McKinley Dixon fala tanta coisa bonita que seria um desserviço escolher um ou dois trechos para condensar o papo. Por cima, ele compara o rap com viagem no tempo, discute fins e começos, afirma que nada é definitivo e revela a inspiração de seu fecho artístico, que caminha da Divina Comédia até Cowboy Bebop. O artista potencializa sons, esmiúça amores e faz isso vestindo uma armadura de vulnerabilidade que faz falta no mundo da Música. For My Mama and Anyone Who Look Like Her não é apenas um dos melhores discos de Maio de 2021, mas também o trabalho que melhor capta e envelopa a dor de um homem preso no presente, mas que, em suas composições, já vive no futuro. – Vitor Evangelista 


Capa do CD Lula. Fotografia de baixa resolução que retrata dois homens e um trator. O primeiro está em cima do trator, veste camiseta vermelha, shorts branco e chinelos. Está sorrindo e olhando para a câmera. O outro está ao lado do trator, veste óculos escuros, camiseta e shorts pretos e tênis. Tem os braços cruzados e olha para a câmera.
“Não quero mais sonhar com o mundo de depois/Eu quero o mundo de hoje” (Foto: Balaclava Records/Geração Perdida)

Lupe de Lupe – Lula

O novo disco da Lupe de Lupe não é um grande tratado sobre a sociedade, muito menos uma torrente de críticas ao governo Bolsonaro. Apesar (ou por causa) do título, Lula versa principalmente sobre amor: o amor monogâmico (Coromandel, Fortaleza), o amor falho (Sorocaba, Natal), o amor nostálgico (Cabo Frio).

Isso faz com que este seja o disco menos explicitamente político e o mais versátil da banda. O quinteto experimenta com ritmos variados, como o forró em Pelotas, a bossa nova em Contagem e o reggae em Maceió, trazendo novos elementos à mistura típica da autoproclamada banda mais barulhenta do Brasil.

As raízes no rock alternativo persistem, com destaque especial para Goiânia, cuja virulência da letra relembra os momentos mais raivosos do grupo. Mas é exceção: a Lupe de Lupe de 2021 está mais reflexiva do que nunca. – Gabriel Leite Ferreira


Capa do álbum SOUR de Olivia Rodrigo. Mostra a cantora, mulher branca de cabelos soltos castanhos escuros, com uma blusa regata rosa e uma saia com listras brancas e verdes. Ela usa vários colares e anéis, tem a língua para fora, na qual estão colados adesivos com o nome do disco, e vários outros adesivos colados por todo o rosto. Ela tem os braços cruzados na frente do corpo e o fundo da imagem é lilás. No canto inferior direito vemos o aviso de conteúdo explícito.
Mesmo antes do lançamento de seu álbum, Olivia Rodrigo já conquistou o coração de todos, sendo convidada a performar na edição de 2021 da premiação britânica BRIT Awards (Foto: Interscope Records)

Olivia Rodrigo – SOUR

Os caminhos de Olivia Rodrigo já vinham sendo bem pavimentados desde de sua estreia, no começo deste ano, com a viral drivers license. Contando sua versão de uma história de amor no fim desastrosa, a cantora conquistou nossos corações com sua voz soprada e dolorosa e suas letras extremamente emotivas. Agora, no seu álbum de estreia, SOUR, vemos a continuação de sua narrativa, desta vez com todos os capítulos inclusos.

É fácil identificar as influências sonoras que circulam o disco, já que logo em sua entrada, com brutal, somos imersos em um universo típico dos anos 2000, o que torna simples imaginar como todas suas 11 faixas se encaixariam bem em um filme desta época, provavelmente com Lindsay Lohan no papel principal. E isso jamais seria uma crítica negativa, afinal quem não ama Confissões de Uma Adolescente em Crise ou Sexta-Feira Muito Louca? O ponto é que Rodrigo conseguiu resgatar tal estética, sonora e visual – haja visto seus clipes – de uma forma totalmente própria.

Claro que não poderíamos deixar de citar o quanto Taylor Swift também está presente, afinal a semelhança entre 1 step forward, 3 steps back e New Year’s Day é bem óbvia, mas mais uma vez esse é apenas um complemento que nos deixa cada vez mais próximos do íntimo de Olivia. Conforme escutamos SOUR, somos puxados para um mundo único, no qual nos sentimos vivendo a história da cantora. Desde de seus sentimentos mais profundos, até seu processo de cura e superação, fomos convidados a entrar de cabeça nesta narrativa. – Ana Laura Ferreira


Sinead Harnett entrega beleza e bom som (Foto: The Orchard)

Sinead Harnett – Ready Is Always Too Late

O álbum novo de Sinead Harnett é envolvente desde sua capa. A foto da cantora combinada com um jogo de luz cria um ambiente clássico que instiga a ouvir o trabalho. Ready Is Always Too Late entrega sua motivação logo no título, a música homônima que abre o disco traz uma letra real com uma melodia R&B sentimental. É como se Sinead cantasse de coração aberto olhando bem na nossa cara a história vivida por nós. E não é tarde demais, Sinead Harnett.

O trabalho passa a impressão de ser metodicamente organizado e com canções lineares, mas surpreende positivamente. As faixas fogem dos achismos iniciais sendo ritmadas conforme os sentimentos passados pela letra, sem preocupação de seguir um caminho de começo, meio e fim. O álbum pode ser ouvido tanto em sua ordem normal quanto no aleatório, a voz da cantora entra aveludada pelos ouvidos, nos deixando entregues para a melodia.

Os feats também ganham seu destaque. Take Me Away segue a vibe intimista, e a dupla de hip-hop EARTHGANG vem para acrescentar dualidade na música, nos aproximando ainda mais do disco. Sticking, que conta com as participações do cantor Masego e da dupla nigeriana VanJess, explora o mais cativante do R&B, tornando a faixa uma composição difícil de ser esquecida. Mas o prêmio vai para Anymore. Em parceria com Lucky Daye, a canção é uma das mais fortes e marcantes do álbum. – Ana Júlia Trevisan


Capa do disco com o rosto da cantora em primeiro plano e fundo neutro.
Erika De Casier amadurece a sonoridade de seu R&B em seu segundo álbum de estúdio (Foto: 4AD)

Erika de Casier – Sensational

Após assinar com o selo 4AD, a cantora portuguesa criada na Dinamarca lançou neste mês seu segundo álbum de estúdio, Sensational, sucessor do excelente Essentials (2019). No registro, Erika volta a explorar a paixão pelo R&B dos anos 90 e início dos 2000, que embalou seu crescimento através da MTV. Produzido pelo parceiro Natal Zaks, o trabalho retoma o minimalismo do cancioneiro da artista – que de simples não tem nada. O instrumental típico do gênero formador de Erika ganha cordas e madeiras sintetizadas, que, somados aos seus vocais sussurrados e sensuais, trazem à tona uma obra atmosférica, que remonta a discografia de Sade. 

As letras também denotam todo o amor de De Casier ao rhythm and blues. Em entrevista a Crack Magazine ela afirma que ama o aspecto direto da composição típica do gênero, na qual prevalece um diálogo intenso e honesto com o interlocutor. Canções como Drama e No Butterflies, No Nothing abusam do tom confessional, mas conseguem se valer de um magnetismo letárgico, no qual não há outra opção senão mergulhar no universo envolvente criado pela cantora. – Carlos Botelho 


Capa do álbum ELIO and Friends: The Remixes, da cantora ELIO. A capa é branca, e tem o nome do disco escrito em alto relevo da mesma cor. Abaixo, vemos figuras geométricas verdes, azuis e cinzentas.
Solta o batidão (Foto: ELIO)

ELIO – ELIO and Friends: The Remixes

Minha lista de arrependimentos de 2021 não é tão longa, mas perder a oportunidade sobre o EP de estreia de ELIO, Can You Hear Me Now?, no Nota Musical de Janeiro, com certeza ocupa um lugar alto. Para o bem da nação, ela resolveu relançar as faixas, acompanhada de seus amigos, em ELIO and Friends: The Remixes, que melhora o que já era ótimo e ainda me dá a oportunidade de destrinchar um dos trabalhos mais polidos e cheios de identidade do ano.

Para a fantasiosa Jackie Onassis, ELIO convida os vocais de Nolie, confabulando sobre jantares em Paris e uma das primeiras-damas estadunidenses. A melhor parceria é também a maior do disco de remixes, ao lado da musa Charli XCX, CHARGER, um ‘simples’ conto sobre carregadores de celular e inseguranças mundanas, é agigantada pelas personas robóticas da dupla, elevando o potencial de cantar gritando a letra que repete suas rimas de modo incessante. A pegada PC Music engrandece a Arte, mostrando que o futuro é hoje

hurts 2 hate somebody recebe um up de Chase Atlantic e de No Rome, provando que, quando bem idealizado, um álbum de releituras pode muito bem funcionar a parte da versão original. ELIO já chegou chegando, e nos faz ansiar pelo amanhã. Sem me embananar tentando definir e qualificar as subsequentes faixas, deixo a cargo de quem ler dar play na íntegra, aproveitando cada batida. É libertador, eu garanto. – Vitor Evangelista


Capa do disco Delta Kream, de The Black Keys. A capa é composta por uma fotografia posicionada ao centro sob um fundo marrom médio e embaixo do nome da dupla que assina o álbum, escrito numa cor creme e alinhada à direita. Neste escrito, 'the' está em letras minúsculas e num tamanho menor e 'BLACK KEYS" está em caixa alta, num tamanho maior. A fotografia do centro apresenta, a traseira de um carro antigo parado de frente para um estabelecimento. O lugar tem uma placa de metal que contorna o telhado, onde está escrito ao centro DELTA KREAM numa fonte preta em caixa alta sob um fundo branco, ao centro. Nas laterais, existe o logo da Coca-Cola- repetido no lado esquerdo e no lado direito. O estabelecimento é pequeno e no ângulo em que está fotografado apresenta três janelas, uma ao centro e duas nas laterais. Elas são teladas e possuem cartazes colados. Ao redor do telhado, existe um fio de luzinhas redondas amarelas e bancos de madeira. O carro, que está estacionado à frente, é num amarelo claro. Atrás do estabelecimento existe uma rua, com vários carros estacionados, e ainda atrás, do lado esquerdo, existe um caminhão pequeno bege. O céu está nublado, num tom cinza azulado.
The Black Keys completa 20 anos de carreira com excelência no disco Delta Kream (Foto: Nonesuch Records Inc.)

The Black Keys – Delta Kream

A celebração dos 20 anos do duo The Black Keys é um prato cheio para os amantes de blues. Desde 2001, a dupla vem explorando as sonoridades do gênero em seus nove álbuns, mas agora, no décimo disco, presta uma homenagem de primeira aos trabalhos e artistas clássicos e precursores do blues que os influenciaram durante toda a vida, muito antes de produzirem música em conjunto. O compilado de covers Delta Kream carrega em seu nome, em sua capa, em seus criadores e em sua base a música da região norte do estado do Mississippi, berço do blues americano, com foco para o hill country blues.

A intimidade e respeito da dupla com suas inspirações é algo a ser apreciado. Nas 12 faixas do disco, o vocalista e guitarrista Dan Auerbach e o baterista e produtor Patrick Carney dançam elegantemente na familiaridade confortável e na liberdade criativa que fundamenta Delta Kream. O gosto especial da espontaneidade e experiência do trabalho dos músicos surge da própria forma de gravação, planejada com apenas alguns dias de antecedência e sem qualquer ensaio. Apenas dez horas e duas tardes foram suficientes para The Black Keys registrar as canções, ao mesmo tempo em que encerrava sua última turnê com o disco Let’s Rock

Outro elemento especial de Delta Kream é a presença dos músicos Kenny Brown e Eric Deaton, membros de bandas lendárias como as de R.L. Burnside e David Kimbrough Jr. Esse encontro de gerações abre o álbum de forma perfeita com Crawling Kingsnake, enquanto Mellow Peaches traz o foco no groove e no ritmo que marcam os estilos referenciados, e a charmosa e livre Do the Romp pincela a irreverência e psicodelia que definem trabalhos mais recentes da dupla. Celebrando um gênero riquíssimo, Delta Kream é o creme do blues contemporâneo, perfeitamente ligado às obras icônicas dos precursores do gênero que o inspira, fazendo com que The Black Keys se aproxime cada vez mais das lendas que tanto admira. – Raquel Dutra


Capa do álbum Ashlyn. Mostra a cantora, Ashe, no centro de um pequeno palco esférico, sentada de lado com sua mão esquerda apoiando o corpo. O palco e o chão em volta estão cercados de velas acesas. O fundo da imagem é braco, assim como todo o cenário e a cantora usa uma blusa e calça sociais brancas. Ela está descalça e tem os cabelos soltos.
Ashlyn é uma descoberta refrescante e, ao mesmo tempo, um repentino clássico (Foto: Mom+Pop)

Ashe – Ashlyn 

O longa-metragem estadunidense Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você pode não ter agradado muito a crítica especializada, mas presenteou o público com uma trilha sonora excelente. Dentre as faixas apresentadas, a melancólica Moral of the Story ganhou destaque nas paradas americanas e colocou a californiana Ashe em ascensão – em 2021, ela lança seu emocionante primeiro álbum de estúdio, Ashlyn. Com a ajuda do produtor Leroy James Clampitt, a artista conseguiu construir um trabalho sólido e coeso. O álbum colore suas 13 faixas com violinos, cordas e harmonias distintas, passeando por folk, pop e indie com destreza. 

A composição do disco é intensa em todas as suas faces. Encarando o luto, Ryne’s Song detalha o tumultuado relacionamento de Ashe com seu irmão, que faleceu de overdose no último ano; a terapêutica Save Myself traduz o arrependimento iminente de se envolver em um casamento desastroso. Brutalmente honesto, Ashlyn soa como um coming-of-age tardio que agracia com sua própria delicadeza. – Laís David


Capa do álbum Fresh Start, da cantora Bailey Bryan. A capa tem tipologia em cores quentes, como vermelho e laranja, e o nome da cantora aparece pequeno e em fonte branca no topo da imagem, acima do título. Ela é branca, tem cabelos castanhos e veste uma blusa sem alças, branca e com detalhes em bordado.
O ‘voto de confiança’ dado por portais como Rolling Stone, Billboard e EW mostra a visão das revistas, que previram os bons frutos que Bailey Bryan colheria no futuro (Foto: 300 Entertainment)

Bailey Bryan – Fresh Start

“Eu acho que você pode ser uma vadia má e sensível… saber seu valor, mas ainda poder admitir que seus sentimentos podem ser feridos”, disse Bailey Bryan quando discutindo sua recente discografia. Fresh Start chega como o trabalho de estreia de uma artista surgida em 2016, que coleciona selos de jovem promissora, eclodindo a partir de relacionamentos ruins e sem medo de perder a pose de durona ao lamentar as desilusões.  

O renascimento ocorre perante nossos ouvidos, enquanto Bryan se destroça por vinte e sete minutos, indo da selvageria de play w/ me até a questionadora Anymore, a tão-sincera-que-dói Sober e a carregada de angústia Roster. Por via das dúvidas, Fresh Start e seu som carregado de batidas provindas do R&B e de interludes com pinta de sinceridade, apresenta todas as arestas de Bailey Bryan, doa a quem doer. – Vitor Evangelista 


Foto do disco Yo Te Amo. Tim Maia, um homem negro, adulto, de bigode e cabelo preto, está sorrindo para a foto. Podemos vê-lo do peito para cima, usando um casaco preto. Ao seu lado, está escrito TIM MAIA em branco e, abaixo, YO TE AMO em amarelo. O fundo é azul marinho.
Que saudade de você, Tim! (Foto: Vitória Régia)

Tim Maia – Yo Te Amo

Quem diria que 23 anos depois de sua morte, Tim Maia voltaria a surpreender puxando discos de sua cartola. Yo Te Amo chegou nesse mês nas plataformas de streaming para provar que o síndico do Brasil não poderia estar mais vivo no imaginário nacional. O álbum, na verdade, foi descoberto por seu filho, Carmelo Maia, e é o primeiro gravado inteiramente em espanhol pelo Maia-pai. Datado de 1970, foram necessários mais de 50 anos para ouvirmos a beleza da língua hermana na voz retumbante de Sebastião, contando com releituras dos clássicos de seu primeiro CD, Tim Maia (1970), produzidas com o carinho que só um filho do cantor conseguiria alcançar. 

As canções estavam em fitas, arquivadas em formato analógico no fundo da gravadora Vitória Régia, e precisaram passar por um processo de restauração pelas mãos do engenheiro de som André Dias. No entanto, trechinhos de conversa foram mantidos – responsáveis por apertar nosso coração de saudades do carioca e reforçar a sua devoção em estúdio. O trabalho final foi dedicado ao gênio do soul Cassiano, que faleceu em maio deste ano, e foi responsável pela composição dos maiores sucessos de Tim Maia, como Primavera e Eu Amo Você.

Yo Te Amo é pulsante e arrebatador. É a junção de anos de sofrimento sem Tim e mais anos ainda de admiração pelo que ele foi. Coroné Antônio Bento e Padre Cícero são pérolas regionais que se adaptam com naturalidade à língua estrangeira; Azul Color Del Mar é o lamento revitalizado com a mesma potência da antecessora; e o resultado dessa empreitada hispânica é um acalento em tempos tão difíceis. Obrigada, Carmelo. ¡Llama el Síndico! – Caroline Campos


Capa do álbum Seek Shelter, da banda Iceage. A capa é comporta por uma fotografia em close da cabeça de um cavalo branco. Ele está virado para o lado direito da imagem e apenas esta face do animal é visível. Ele usa um cabresto preto e seus olhos são escuros, cercados por uma pálpebra rosada que possui pintinhas escuras. No lado esquerdo da capa, existe uma faixa preta onde o título do disco está escrito numa fonte básica de forma e em caixa alta, colorido em tons de amarelo.
O novo disco da banda dinamarquesa Iceage é um sucesso na crítica especializada e foi produzido por Peter Kember (mais conhecido como Sonic Boom, líder do Spacemen 3 e produtor de bandas como MGMT e Beach House) [Foto: Mexican Summer LLC]
Iceage – Seek Shelter 

Prepara aí o bloco de notas para um dos melhores álbuns de 2021. O nome dele é Seek Shelter e quem o fez é a banda dinamarquesa Iceage. Anotou? Então agora corre no Spotify ou no YouTube e dá play no disco para conversarmos sobre ele. Você vai encontrar um punk vintage harmônico e perfeitamente diluído num rock clássico que quase todo mundo adora. Ele é liderado por um legítimo vocalista dos gêneros, equilibrado entre a rouquidão da revolta e o charme da paixão pela música, que se junta à sua banda lindamente confortável e confiante nos sons que emanam.

A essa altura eu já espero ter te convencido e que você  tenha pelo menos iniciado a faixa de abertura Shelter Song, que nos apresenta tudo isso. A primeira e imperdível canção é responsável por nos introduzir a um álbum que junta a revolta que os tempos atuais nos causam com o conforto da familiaridade, que é um item básico de sobrevivência desde 2020. Então, ao decorrer das 8 músicas restantes, os vocais de Elias Rønnenfelt, que também adivide as guitarras com Casper Morilla e Johan Wieth, se junta ao baixo de Dan Nielsen e à bateria de Jakob Pless para explorar essas duas bases, sempre destacando suas referências musicais, e sem medo de verbalizar o que pensam sobre a vida. É o que Iceage faz com o fundo de jazz e blues na sofisticada Drink Rain, ou na pincelada de country e da estética de Bruce Springsteen de Gold City, ou em Dear Santa Cecilia, que reproduz com uma originalidade nostálgica o que existe de melhor no punk

A vontade é destacar as qualidades de cada uma das canções, e é quase isso o que eu vou fazer. O disco ainda abriga a bela e vagarosa Love Kills Slowly, o equilíbrio de High & Hurt, a forte e amigável Vendetta e o evento milagroso de The Holding Hand. O Toque de Midas é a influência leve do precioso post-britpop misturado ao rock alternativo (saudades, bons tempos do Coldplay), algo que cria uma sensação duvidosa em quem compara os primeiros álbuns da banda, marcados por uma atitude pesada afogada no post-punk, com o de agora, que brinca com o rock. Mutável e glorioso, o calor de Seek Shelter derrete a banda em ondas sonoras para dar um recado que subverte as aparências: Iceage não tem nada de frio. – Raquel Dutra


Capa da trilha sonora do filme Cruella. O fundo é preto, com alguns resquícios de tinta branca. No canto esquerdo, está a atriz Emma Stone como Cruella, em preto e branco. Ela está com cabelos cacheados, na altura do ombro, metade preto e metade branco. Ela usa maquiagem nos olhos, com um delineado preto e usa um batom preto na boca. Ela tem uma pinta na têmpora direita. No canto inferior direito, inclinado para a esquerda, está escrito “Cruella” em letras vermelhas e cursivas. Em cima do nome, está o logo da Disney em branco.
“Original, criminosa, vestida pra matar/Apenas me chame de Cruella De Vil” (Foto: Walt Disney Records)

Nicholas Britell – Cruella (Original Score) 

Reconhecido por seu trabalho em Moonlight: Sob a Luz do Luar e Se a Rua Beale Falasse, não deveria esperar menos que um serviço brilhante de Nicholas Britell para compor a musicalidade de uma produção da Disney. Ainda mais se tratando de uma vilã tão icônica quanto Malévola e Úrsula, a rainha dos dálmatas Cruella De Vil. 

Britell constrói arcos singulares às cenas, transitando de uma carga dramática de um acidente catastrófico para uma euforia divertida de um novo corte de cabelo. Demarcando o rock progressivo e o punk característico da década de 70, a trilha sonora consegue arquitetar o apático cenário londrino daquela época. 

Não só compõe a paisagem fria e nublada, mas também a dualidade das personalidades da protagonista. Notas mais sombrias se misturam com ritmos mais enérgicos, assim como a transformação de Estella em Cruella. Tudo se encaixa na maneira mais certeira, arquitetando a maleficência e astúcia que as cenas precisam para segurar a imagem da vilã. Na verdade, apenas a chame de Cruella De Vil. – Júlia Paes de Arruda


Capa da mixtape com Nicki Minaj vestindo um traje que remete ao da Mulher Maravilha. A cantora está aparentemente na lua e é possível ver a Terra no plano de fundo. Entre os corpos celestes ainda vemos dois discos voadores.
Nicki Minaj surpreende com lançamento de mixtape de 2009 nas plataformas de streaming (Foto: Republic Records)

Nicki Minaj – Beam Me Up Scotty 

No dia 14 de maio, Nicki Minaj anunciou uma live em seu Instagram que gerou alvoroço entre os seus fãs. Após um período afastada dos holofotes pela maternidade, com exceção de alguns featurings habituais, era esperado que a rapper trouxesse informações sobre o lead single do sucessor de seu quarto álbum de estúdio, o robusto Queen de 2018. Porém, para a surpresa dos mais de um milhão de espectadores de sua transmissão ao vivo, Onika anunciou o lançamento de sua mixtape, Beam Me Up Scotty (2009), nas plataformas de streaming pela primeira vez. O relançamento contou com a atualização da divertida capa e adição de duas músicas inéditas e um remix.

A mixtape, que conta com clássicos como Itty Bitty Piggy e I Get Crazy, ganhou novos ares com a inclusão na tracklist das faixas Seeing Green, com os amigos de longa data Lil Wayne e Drake, e Fractions. Outro ponto alto do relançamento foi a aparição do hit viral Boss Ass Bitch (Remix). Por mais que sirva como um aquecimento para o novo álbum e série documental ainda sem datas definidas, Beam Me Up Scotty reafirma o maior trunfo da carreira de Nicki: seu talento descomunal para o rap. O tom mais descontraído da mixtape permite que a artista explore seus diferentes flows, alter egos e rimas freestyles ao longo do trabalho. A falta de polidez na produção é compensada pela oportunidade de ouvir uma das maiores rappers de todos os tempos, em pleno exercício de suas habilidades ímpares. – Carlos Botelho 


Capa do álbum Forever Isn't Long Enough, do cantor Alfie Templeman. Na capa, vemos o cantor, homem branco de cabelos pretos e camisa branca, empoleirado para fora de um carro. O cenário é noturno e a capa usa tons fortes de azul e laranja em sua composição.
Capa linda, disco promissor (Foto: Chess Club)

Alfie Templeman – Forever Isn’t Long Enough

O para sempre pode não ser tempo o bastante, mas os trinta minutos do segundo álbum de Alfie Templeman cumprem com primazia o papel de situar seus ouvintes para o tipo de som produzido pelo cantor. Nascido em 2003, o britânico vem de uma crescente na carreira, anualmente lançando trabalhos promissores e com bastante fúria interna.

O disco em questão não reinventa a roda, mas serve ao propósito de revitalizar e nomear os desejos do jovem artista. A faixa-título nos embala em uma balada contagiante, implorando para ser dançada no ambiente interno de uma festa quinta à noite. Hideaway derrete um bate-bola romântico e Wait, I Lied conquista pelo teor escorregadio da índole de Alfie Templeman. – Vitor Evangelista


Justice for Better Mistakes (Foto: Warner Records)

Bebe Rexha – Better Mistakes

Better Mistakes é o segundo álbum da cantora Bebe Rexha, que mais uma vez se mostrou uma ótima compositora, mas foi desmerecida pela gravadora Warner Records, fazendo com que disco tivesse um desempenho ridículo ficando em 140° na Billboard 200. O disco traz uma nova estética para a cantora que havia se destacado com seus cabelos vermelhos. Com a capa em tons de azul com a caligrafia verde fluorescente, Bebe entrega tudo mesmo em seu clipe Break My Heart Myself – a faixa viciante que deveria ter virado single – com seu look caótico e icônico, tal qual a música.

O que impulsionou o boicote da gravadora foi o precoce lançamento de Baby, I’m Jealousfeat com Doja Cat que chegou ao streaming em outubro de 2020 e sozinho não teve fôlego pra aguentar os meses de pós-produção do álbum. Em Better Mistakes, o single faz parte do único ponto negativo do disco: sua cansativa sequência de feats idênticos. O que seria facilmente resolvido durante o processo de montagem, invertendo faixas e construindo uma melhor linha do tempo, pode ser amenizado pelo ouvinte que der stream no modo aleatório.

Sacrifice é uma das melhores do disco. Apesar da música trazer um tema comum de relacionamentos, a intensidade de Bebe a transforma em um momento eletropop único na melodia de Better Mistakes. O trabalho também mostra uma Bebe Rexha mais vulnerável, com composições autobiográficas como Sabotage, que tem uma balada melancólica. A cantora não mostrou receio em suas letras e elevou a potência delas com sua performance. O álbum merece ser ouvido por inteiro pelo menos uma vez. – Ana Júlia Trevisan


Capa do álbum desAMORfosis, de Thalía. A capa é uma ilustração realista da artista, que é mostrada como uma rainha, com vestes douradas brilhantes e uma coroa. Ela aparece da cintura para cima, e está de frente, com o rosto inclinado para o lado esquerdo da imagem. Thalía, uma mulher branca de cabelos lisos castanhos, olha para a câmera com uma expressão séria, cerrando os dentes. Ela está sob um fundo rosa claro que possui raios de luz saindo de traz dela, bem como uma áurea ao seu redor. A ilustração ainda coloca um quadro na frente do coração de Thalía, como ilustrando o que está ali dentro. Essa pintura mostra os ossos de sua coluna dorsal, seu coração, do lado esquerdo, e uma faca do lado direito. O rosto de Thalía, que usa uma maquiagem marrom lcara nos olhos e batom vermelho, está quebrando, como uma pintura surrealista, e dos vincos, saem flores vermelhas. No lado esquerdo da imagem, está escrito num fio de luz branco o nome do álbum, 'desAMORfosis', numa fonte cursiva.
É um pouco cafona? É, mas não é todo dia que a maior e mais tradicional estrela latina põe pra fora seus sentimentos amorosos junto da nova geração da música pop (Foto: Sony Music Entertainment US Latin LLC)

Thalía – desAMORfosis

A Rainha do Pop Latino está de volta. 30 anos de carreira na Música ainda são insaciáveis para Thalía, que mantém um dos processos de renovação de imagem mais bem-sucedidos de sua geração. Se a familiaridade com a super estrela não surge de seus hits de sucesso que lhe renderam prêmios de nível internacional, ele com certeza nasce de seu trabalho marcante como atriz na febre da Trilogia das Marias, com seu protagonismo nas telenovelas Maria Mercedes, Marimar e Maria do Bairro.

Agora, Thalía é assunto pelo trabalho que é avaliado como o mais inovador de sua vasta carreira até o momento. Seu décimo quinto álbum de estúdio se delicia numa união de desamor, amor e metamorfose através de narrativas íntimas e criativas no que ela chama de desAMORfosis. Como o próprio nome sugere, a artista coloca o centro e o elo de tudo num elemento universalmente experienciado que também é a matéria-prima favorita da arte com o toque de alguns dos produtores mais notáveis da música latina atual, como Tainy, Edgar Barrera e Trooko. A fórmula era quase impossível de dar errado.

Entre seu DNA pop e latino, a contemporaneidade dos ritmos do reggaeton de faixas como Mojito e Mal Y Bien, Thalía passeia pelos seus sentimentos como a legítima amante do amor, artista de alto calibre e íntima das novelas mexicanas que é. Suas baladas ainda emanam um charme especial, vide Empecemos, enquanto as mais viciantes tem como ingrediente principal a refrescância da nova geração da música latina, como Sofía Reyes na juvenil TICK TOCK, Myke Towers na moderninha La Luz e Jhay Cortez na ousada Secreto. É só passar longe de ouvir a cafonice de Por Qué e Bolsito Caro que a maioria das outras 12 faixas de desAMORfosis vão te lembrar do porquê o mundo fez de Thalía uma absoluta estrela. – Raquel Dutra 


Foto de capa do álbum Build a Problem, de Dodie. A imagem é quadrada, possui um fundo creme com linhas cinza que formam um quadrado. No canto superior esquerdo há o nome da cantora, Dodie, que sobrepõe uma foto colada no papel com fita crepe. Na foto, está Dodie; ela é uma mulher branca, de 26 anos, que possui longos cabelos castanhos e usa um macacão azul escuro curto. Ela está em pé numa sala vazia, e na parede branca é possível ver duas sombras de sua silhueta. No canto inferior direito está escrito o nome do álbum.
Qual é o problema? Quanto sentir?/Você vai pensar em mim de maneira diferente?” (Foto: doddleoddle)

dodie – Build A Problem

Muitos jovens carregam o sonho de uma carreira musical, mas nem sempre as oportunidades aparecem, o que faz com que a luta por esse espaço na indústria seja longa e complexa. Dodie Clark começou a compartilhar suas composições com o mundo em 2011, no entanto, parecia que ninguém percebia o lirismo de suas letras ou o potencial de suas interpretações. Amaldiçoada pela sina dos EPs independentes, parecia que ela nunca conseguia reunir canções suficientes para a construção de um álbum, e por isso, só foi capaz de debutar com Build A Problem dez anos após sua estreia na internet.

Seu debut dividiu opiniões entre os críticos, o amor entre os que veem os versos de dodie como suficientes para a construção de um bom disco, e as notas medianas entre os que suas metáforas são vagas e que a produção musical é crua. Independente do ponto de vista, há um acordo de que esse álbum acerta o alvo quando se propõe a ser a essência mental da compositora. Além de gravar suas músicas no YouTube, ela sempre manteve vlogs que falavam abertamente sobre assuntos aleatórios, como chá, saúde mental, gatos, política e bissexualidade. Ela ganhou muitos seguidores por sua personalidade, e Build A Problem é sobre isso.

A primeira parte do disco, composta por doze canções e dois interlúdios instrumentais, conta uma história que é uma versão estendida de I Kissed Someone (It Wasn’t You), lançado em abril. De Air So Sweet à Boys Like You, é possível sentir a vulnerabilidade de uma jovem mulher que é honesta quanto a seus sentimentos, mas que ainda tem medo de como suas opiniões serão recebidas. É assim que dodie cria laços entre sua insegurança e as incertezas dos ouvintes e desse modo, tornam-se fãs por sentirem que há uma empatia mútua entre artista e receptor. De fato, ? e . são tão obscuras que somem no meio das demais, e as oito demos da segunda parte do disco não foram sequer produzidas. Entretanto, ao olhar para esse conjunto como alguém que acompanha dodie desde o princípio, vemos que isso é um regresso ao que ela sempre foi: uma garota dentro do próprio quarto, tentando transformar seus pensamentos em arte. A prova disso é a presença de When, lançada em seu primeiro EP, porque tudo isso terá acabado, e dodie ainda estará se perguntando “quando?”. – Carol Dalla Vecchia


A imagem é a capa dos singles Shy Away e Choker, da banda Twenty One Pilots. A capa tem um fundo rosa claro, com o desenho de um dragão azul, soltando fogo pelas narinas.
Junto com o lançamento do álbum, a banda realizou uma live diferente de tudo que já foi visto, e que só eles poderiam fazer (Foto: Fueled By Ramen)

Twenty One Pilots – Scaled And Icy

O retorno vibrante do Twenty One Pilots não poderia ser mais inesperado. Sua nova produção, Scaled And Icy, abandona toda a estética de tons e sonoridade sombrios, que já haviam se tornado característica da banda. Lançado no dia 21 de maio, o álbum aposta em um pop nostálgico, algo que vem se tornando tendência no meio, com um visual retrô e batidas oitentistas. 

Se arriscar por estilos diversos está na essência do duo formado por Tyler Joseph e Josh Dun, que nunca se definiu por uma única sonoridade, e sim uma mistura insana de todas elas. Mas essa nova escolha não se deu à toa. Além de adotar um tom mais alegre para destoar do momento difícil que o mundo inteiro enfrenta nos últimos tempos, a obra serviu para dar continuidade ao universo que vem sendo criado desde o lançamento do Blurryface, como se a banda estivesse sendo controlada pela cidade de Dema para produzir músicas mais felizes.

Ainda que a superfície da produção pareça diferente, o conteúdo das letras continua com a mesma profundidade que Tyler sempre trouxe, tratando sobre suas questões mentais, mas com um tom aparentemente mais otimista. Mesmo com essa mudança repentina, Twenty One Pilots mantém sua unicidade e talento admiráveis, de quem não precisa se limitar no meio musical para continuar fazendo história. – Vitória Silva


Capa do disco Dear Lemon House, You Ruined Me: Senior Year da banda Kaonashi. A capa mostra um close na mão de alguém deitado no chão. A mão está suja de sangue, e está por cima de uma porção de penas brancas de travesseiro. A blusa é azul, e o chão é de madeira.
Capa linda, disco assustador (Foto: Equal Vision Records, Inc.)

Kaonashi – Dear Lemon House, You Ruined Me: Senior Year 

Quantas vezes você já teve vontade de chorar de medo depois de ouvir um disco na íntegra? A sensação de escutar o refinado trabalho do grupo de punk e metal Kaonashi é essa, sem tirar nem pôr. Dear Lemon House, You Ruined Me: Senior Year narra a rotina escolar de um jovem andrógino pelo Ensino Médio, regado a gritos e mais gritos, de dor, prazer e libertação.

Na breve descrição que acompanha o perfil da banda no Spotify, eles salientam que o disco tem a função de causar ansiedade no ouvinte. Esse que, munido dessa experiência de ouvir as horripilantes experiências do jovem adolescente, se sentirá intimidado a mudar o mundo e não deixar que isso ocorra de verdade. A simplicidade não é sinônimo do trabalho da banda Kaonashi, que aparece coberta de sangue na foto destaque no aplicativo.

Sangue que também capta a índole da capa do CD, íntimo e avassalador na mesma moeda. Ao passo que os gritos nos assustam e nos jogam para o canto do quarto, Dear Lemon House, You Ruined Me: Senior Year soa melhor na desaceleração. Os destaques mais calmos nesse terremoto emocional são Broad Street (Take Me Home) e The Underdog II: Fight on the 40 Yard Line, What’s That in Kilometers? Ouça com cautela, ouça com ciência e ouça com compaixão. – Vitor Evangelista


Capa do álbum Chegamos Sozinhos em Casa, da banda Tuyo. A capa é composta por uma fotografia do trio numa sala de estar. A sala possui uma parede cinza clara ao fundo preenchida por quadros abstratos e de paisagens, conversando com a paleta de cores que fica entre o azul escuro e o amarelo envelhevido. O trio está sentado num sofá azul, ao centro da imagem. Primeiro, à esquerda, está Jean, sentado no braço do sofá. Ele é um homem negro, de cabelos loiros raspados nas laterais e volumosos e cacheado em cima. Jean veste blusa, short e camiseta em tons de azul e um tênis de corrida branco. Jean está levemente inclinado para a direita, junta as mãos no colo e encara a câmera com seriedade e com o rosto reto. Ao lado dele, no meio do sofá, está Lio, que apoia as costas e o braço direito em Jean. Lio, uma mulher negra de tranças loiras, está meio dentada no sofá, com o pé direito em cima dele. Lio usa um vestido azul longo de abotoar que está aberto do peito para baixo e um short da mesma cor. Lio também olha para a câmera, com o rosto reto, com seriedade. Ao lado dela, está Lay, sentada no sofá, de frente ara a câmera. Lay, também uma mulher negra, tem cabelos tingidos de roxo. Ela apoia o braço esquerdo no braço do sofá, para onde inclina levemente o corpo. Lay usa uma calça, top e blazer caído sob o ombro, todos no mesmo tom de azul. Na frente do trio, existe um tapete azul. Ao centro, no fundo da parede cinza e atrás do sofá, está escrito o nome do álbum, dividido em três linhas, em caixa alta, num degradê de azul, que é mais escuro no meio. Em cima do nome do álbum, está o nome da banda, em caixa alta, na mesma fonte e em branco. Embaixo do nome do álbum, está escrito 'VOL. 01', na mesma estilização.
Em março passado, Tuyo representou o Brasil no festival SXSW, realizado de forma virtual por conta da pandemia, e chamou a atenção do jornal The New York Times, que elencou a apresentação da banda entre as 15 melhores do evento (Foto: Tuyo)

Tuyo – Chegamos Sozinhos em Casa

Vim aqui pra te avisar/Que o futuro já acabou/E a gente é sobrevivente”, declarou Tuyo em seu single no ano passado em um dos versos mais marcantes de Chegamos Sozinhos em Casa. Na ocasião do lançamento, a banda antecipou de forma indireta qual seria a sua forma de continuar seus trabalhos na companhia de novos elementos, e ela é, definitivamente, Sem Mentir. Como de costume, o trio tem sim seus floreios musicais – belíssimos e preciosos, diga-se de passagem – , mas quando o assunto é a sinceridade de sua expressão artística, ela é direta, e permanece com uma parte importante da sua identidade.

Mas logo em seguida, eles complementam: “Não precisa se assustar/Eu caminho com você/Nesse inferno permanente”, graciosamente nos lembrando do carinho e amizade que sempre acompanham as duras verdades que Tuyo às vezes joga na nossa cara. E para Chegamos Sozinhos em Casa, os ingredientes não poderiam ser diferentes, já que sua circunstância de concepção se dava exatamente no meio dessas duas coisas: a dureza da realidade e do amadurecimento, que tornam-se processos mais leves quando realizados em conjunto, num contexto íntimo dos integrantes da banda, que moravam juntos e decidiram se mudar cada um para uma casa diferente.

Nesse contexto, Chegamos Sozinhos em Casa compreende todos os pontos positivos e negativos dos sentimentos que retrata. Eles poderiam se transformar em algo doído demais e quase insuportável, se não fosse pela capacidade imaginativa e gentil da banda, que transforma a crueza das emoções confusas em canções flutuantes entre folk, soul e dreampop. No mundo íntimo, eles recebem alguns convidados, como a energia de Jaloo na chora-enquanto-dança Pra Curar, e a melancolia de Lucas Silveira (Fresno) em Pronta Pra Cair. Mas entre Lio, Lay e Jean, os vocais suaves, as batidas oníricas e as letras poéticas de O Jeito É Ir Embora, Vitória Vila Velha e Tem Tanto Deus seguem confirmando: ouvir Tuyo é como estar nas nuvens. – Raquel Dutra


Por favor, Jon Allen, me dê tempo e uma mente em paz (Foto: OK! Good Records)

Jon Allen – …meanwhile

…meanwhile é o quinto álbum do cantor britânico Jon Allen. Ele começa sendo uma das coisas mais bonitas e coesas que já ouvi na vida. A primeira música tem um valor imensurável, e seu instrumental a deixa ainda mais poderosa. Assumi a culpa em cada verso e tive vontade de gritar isso para os quatro cantos. Entretanto, a magia do disco vai se esvaindo aos poucos e ele perde o gás conforme as canções avançam. 

Can’t Hold Back the Sun não é a composição mais marcante do álbum, mas nem por isso deixa de ser extremamente boa. A melodia casa com a voz de Jon Allen e abre caminho para o disco seguir um rumo mais lento, que impressiona pela combinação de bateria, piano e voz. As composições são tocantes e se entrelaçam, fazendo com que o conjunto da obra tenha sentido.

Apesar de sua dramática e carregada de tristeza, o arranjo de Suzanne reenergiza o álbum. O feat com Sharon Shannon atribui características mais elementares para o arranjo de Western Shore, elevando um dos pilares mais fortes de …meanwhile: o instrumental. O disco viaja pelo mais profundo de Jon Allen e se encerra quase saindo do mundo criado. A lentidão de Wrong abre grande espaço para o violão, mas sem perder o vocal marcante. Com todos seus altos e baixos, …meanwhile merece ser ouvido e a voz de Jon Allen agraciada. – Ana Júlia Trevisan


EPs

Capa do EP de MC Dricka, Acompanha. Na imagem, se reproduzem 3 fotos de Dricka. Dricka é uma mulher preta, de cabelos curtos, cacheados e loiros que chegam a seu ombro. No canto esquerdo, ela está inclinada para a esquerda. No centro, ela se encontra colocando seus óculos com os braços levantados ao seu lado. No canto direito, Dricka está com o braço direito rente a seu peitoral. O título ‘ACOMPANHA’ e ‘MC Dricka’ se encontram embaixo.
MC Dricka representa o fluxo de rua com seu segundo EP (Foto: MC Dricka)

MC Dricka – Acompanha

Ninguém representa a mulher no funk paulista como MC Dricka. Num gênero musical dominado pelo sexo masculino, ela consegue destaque com suas letras audaciosas e beats efervecentes. Depois de conquistar os bailes funk de todo o país com as faixas E Nós Tem Um Charme Que é Dahora e Empurra Empurra, ela volta mais irreverente do que nunca com seu segundo EP, Acompanha. Feita especialmente para os paredões, a obra tem sete faixas de autoria total de Dricka, e é a representação completa da sonoridade do fluxo de rua e do mandelão.

A produção da obra ficou por conta do produtor DJ Dozabri, conhecido por trabalhar nos hits Um Sabadão Desse Uma Lua Dessa e Tá Com Saudade Quer TBT. Com a ajuda de Dozabri, Dricka se mostra explosiva, extravagante e sarcástica. Ela aborda diversos temas no trabalho, como sexo, divórcio e traição. Medley Pras Talarica é um sucesso instantâneo, e Três Movimentos Que Te Conquistam Fácil tem tudo para dominar os bailes com a composição animada e coreografia ditada. O EP Acompanha prova que MC Dricka é, de fato, a rainha dos fluxos. – Laís David


Capa do EP say goodbye, do cantor Sarcastic Sounds. A capa é um desenho de um quarto, a cor é azul e o design é quadrado e chapado. Vemos uma capa, uma janela, mesa, computador, cadeira, e uma pessoa sentada na cama. No canto inferior direito, está escrito o nome do disco, say goodbye, em fonte escura.
Parece a interface do Habbo, eu sei (Foto: Sarcastic Sounds Inc.)

Sarcastic Sounds – say goodbye

Produtor e vocalista do Canadá, Sarcastic Sounds começou produzindo beats na internet, chegou a trabalhar com Lil Wayne até que foi notado e contratado pela Columbia. Seu recente EP, say goodbye, abraça o lo-fi e entrelaça a tendência com o bedroom pop, logo estampado na capa azulada do trabalho, que retrata literalmente um quarto perfeitamente organizado.

Singelo e promissor, o som nada sarcástico do artista acalma e gera reflexões. Ele está cansado de ficar em casa, está cansado de um relacionamento, está cansado e ponto. “Estou cansado de cantar sobre depressão”, ele deixa claro no destaque do Spotify. A tentativa melhor sucedida dos menos de 10 minutos que compõem o EP é change ur mind, acompanhada dos vocais de Claire Rosinkranz e Clinton Kane. – Vitor Evangelista


“O mundo é bão, Sebastião” (Foto: ONErpm)

Nando Reis e Sebastião Reis – Nando e Sebastião

É indiscutível que tudo que Nando Reis toca vira ouro. Seu tato absurdo para talentos combinado a seu coração gigante lhe permitiu assinar parcerias com Cássia Eller, ANAVITÓRIA e DUDA BEAT. O filho do ex-Titãs não poderia ficar de fora da boa safra de talentos do cantor. O EP Nando e Sebastião nasce de uma produção em isolamento social, sendo os dois artistas responsáveis pelo brilhante trabalho realizado.

Resposta é de longe a música mais bonita desse EP. Composta por Nando como um pedido de desculpas à Marisa Monte, a releitura do clássico chega em sentimentos ainda não explorados, tocando profundamente – e emocionando – desde a introdução do violão. Sem músicas inéditas e todas de autoria de Nando Reis, a tracklist também destaca Luz Antiga pela harmoniosa disputa de vozes entre pai e filho. Todos os duetos são feitos na medida certa, os timbres se entrelaçam e Sebastião Reis não nega sua origem. – Ana Júlia Trevisan


Capa do EP tuck me in, do cantor boy pablo. Na foto, vemos um close no rosto dele, um jovem de pele branca, cabelos pretos e piercing no nariz. Ele está enrolado em um cobertor listrado azul e branco, sorrindo.
Confortável (Foto: 777 MUSIC)

boy pablo – tuck me in

Norueguês de origem chilena, boy pablo foi sorteado na loteria do algoritmo alguns anos atrás, quando o YouTube fez o clipe de Everytime estourar. O jovem de quase 23 anos retorna, depois de passar pelo Brasil no Festival Popload 2019, com o singelo EP independente, tuck me in

Multi-instrumentalista, fã dos Beatles e comparado a Rex Orange County, Nicolás Pablo Rivera Muñoz já venceu o Grammy norueguês e continua experimentando com seus doces e melódicos sons, comumente associado ao bedroom pop. Ele admite que costuma focar nas notas, rimando palavras que se encaixem nos moldes sonoros.

rest up é o destaque de tuck me in, com o músico exausto da rotina em que vive, implorando por uma pausa para descanso e recarregar as pilhas. people segue a narrativa do coração iludido de pablo, que se enxerga escanteado em toda e qualquer relação que faz parte. Longe do cenário reciclado estadunidense, a sinfonia da sofrência de boy pablo nos abraça como cobertor recém-lavado. – Vitor Evangelista


Preparem o psicológico antes de ouvirem esse trabalho impecável de Jorja Smith (Foto: The Orchard)

Jorja Smith – Be Right Back

Jorja Smith não é apenas um dos rostos mais bonitos do cenário musical inglês. A cantora britânica, que lançou seu álbum de debut Lost & Found em 2018, continua provando que é dona de um vocal potente e inquestionável. Após colaborações em trabalhos de Drake e Kali Uchis, foi a vez de Be Right Back chegar à indústria. O EP traz canções que mostram necessidade de Jorja em compor, conversa intimamente com os fãs e faz um belíssimo preparo de terreno para um projeto futuro e maior da cantora.

Os singles Addicted e Gone seguem tendo espaço calculado e essencial nesse trabalho. Addicted, que luxuosamente abre Be Right Back, nos faz passar por uma montanha russa de emoções em apenas três minutos, e Jorja sabe muito bem o destino dessa viagem. O controle que a artista tem em seu disco é supremo, passeamos pelas músicas sem perceber o tempo passar. Ela ainda consegue acertar em cheio seu feat com a Shaybo em Bussdown. Depois desse EP, me declaro viciada em mulheres cantando rap e ansiosa pelo futuro de Jorja. – Ana Júlia Trevisan


Capa do EP Honey, It Was Paradise, da banda PRETTY.. A capa mostra um foco em alguns objetos em uma mesa. Um cinzeiro de vidro, um copo de uísque e uma garrafa de bebida estão em cima de uma mesa de madeira. No centro da imagem, em fonte branca e cursiva, está escrito o nome do EP, Honey, It Was Paradise.
Que beleza! (Foto: PRETTY.)

PRETTY. – Honey, It Was Paradise 

Outro achado precioso do Nota Musical de Maio, os angelenos da PRETTY. cantam com a veracidade que bandas de rock new wave o fizeram no pasado. A combinação de elementos de The Smiths com The Killers atua a favor do grupo, que vai além do presente e denomina seu som como um NEW New Wave

Composto de apenas 3 faixas, Honey, It Was Paradise é recheado de batidas chicletes, identidade instigante e letras profundamente melódicas e relacionáveis. In A Place (The Bends) vai morar no meu repeat e, de tão boa que é, eu nem vou fazer questão de cobrar aluguel. – Vitor Evangelista


A garota de Los Angeles já está pronta pra sair de casa e explorar o mundo (Foto: Secret Road Records)

girlhouse – the girlhouse ep

Cantora e compositora, girlhouse lançou seu EP carregando o próprio nome artístico. the girlhouse é um álbum fácil. Suas músicas, que misturam a melancólica suavidade do indie com os metais do rock, chamam a atenção desde o começo. A trajetória lírica pela história de Lauren é como acompanhar um filme dos anos 80. Uma garota alegre, sonhadora, curiosa sobre o mundo e mergulhada em seus dramas.

pretty girl in la, faixa que abre o trabalho, é a mais intimista do EP. A acústica vibrante revela uma composição nostálgica sobre a vida da cantora em Los Angeles. Todo o disco gira em torno dessa mudança de girlhouse para Los Angeles. the fatalist e loaded gun são as músicas que mais hipnotizam. A primeira nos faz olhar pra dentro de nós mesmos com seu ritmo acelerado. Já a segunda, nos faz explorar inconscientemente os sentimentos descobertos na anterior. Batemos de frente com conflitos pessoais e melódicos, experimentando as descobertas da cantora. O terreno para um álbum eufórico já está preparado. – Ana Júlia Trevisan


Capa do EP Hurt Is Boring, da cantora fanclubwallet. A capa mostra uma foto de um carro branco, de lado, estacionado na neve. Acima de tudo, está o nome do CD, escrito em fonte azul, inclinada e com preenchimento branco, HURT IS BORING. Ao lado direito do nome, tem o desenho de um sol rosa, e um quadrado azul está do lado de fora da foto, entre o carro e o título.
Vamos lá, seja legal (Foto: AWAL Recordings America Inc.)

fanclubwallet – Hurt Is Boring

Enquanto Olivia Rodrigo canta sobre sua carteira de motorista e o The Black Keys coloca um veículo na capa do CD novo, fanclubwallet decide girar seu EP de estreia ao redor do próprio carro. A capa mostra o dito cujo, estacionado na neve, enquanto as faixas variam entre discutir as chaves e até um acidente envolvendo o bem material.

Outra jovem do Canadá que arrasa nas composições pessoais e na pegada de pop do quarto, Hannah cria um universo particular de melancolia e cumplicidade nas 5 faixas que, agrupadas, somam menos de quinze minutos. A procura de cantoras diferentes mas que te lembram uma sensação familiar? Ouça C’Mon Be Cool e Flew Away e volte aqui para contar o que achou. – Vitor Evangelista


Capa do EP FÚRIA PT1, de Urias. A capa é composta por uma fotografia de Urias, deitada no chão do lado direito da imagem, descansando sob a cabeça de um touro, no lado esquerdo da imagem. A capa é em preto e branco. Urias é uma mulher negra de cabelos longos lisos, usa uma franja, maquiagem preta nos olhos e lingerie preta. Ela está deitada de lado na imagem mas seu rosto está reto e encara a câmera. O touro, ao lado dela, é branco e está desenhado. O corpo do animal preenche a lateral esquerda da capa e sua cabeça está também reta, próxima a de Urias. No meio da imagem, existe um círculo com apenas o contorno preenchido em branco, numa linha final. Dentro do círculo, está escrito o nome de Urias e o nome do EP, numa fonte desenhada em caixa alta.
A primeira parte do primeiro álbum de Urias finalmente está entre nós; a segunda, quem sabe quando? (Foto: Urias)

Urias – FÚRIA PT1

O primeiro álbum de Urias está cada vez mais próximo e a expectativa é cada vez maior. Agora, a artista atiçou nossa curiosidade com FÚRIA PT1, o EP que forma a primeira parte do disco. Compilando seus dois singles (Foi Mal, de março, e Racha, de 2020) e três inéditas, o trabalho já determina seu conceito, que nas palavras da própria artista, é “sobre a relação que a sociedade tem com o corpo, o sexo e a figura da mulher”.

A força principal de FÚRIA PT1 está na união de Urias com Monna Brutal e Ebony em Maserati, que dilui a atitude do rap das artistas convidadas com a sonoridade que já foi definida como o foco dela nesta nova era pelos lançamentos passados. A mistura entre os gêneros é também o que origina Cadela e Peligrosa, completando as novidades do EP produzido por Maffalda, Gorky e pela Brabo Music Team.

A estratégia de lançamento em duas partes pode ser questionada, considerando que todas as anteriores já deram muito certo e o hype de FÚRIA já é grande o suficiente para que o disco faça muito barulho quando finalmente chegar aos nossos ouvidos. De todo modo, a experiência de Urias sabe o que faz com seu precioso trabalho e não decepcionou até aqui. Ela promete cada vez mais, e nós seguimos confiando. – Raquel Dutra


Era melhor ter trazido o Txutxucão (Foto: Universal Music Group)

salem ilese – (L)only Child 

Antes de qualquer coisa, já adianto que não tenho irmãos ou irmãs, então tenho prioridade no assunto. (L)only Child, EP de salem ilese, gira em torno da temática de ser filha única. As faixas desse trabalho dão sequência à Mad At Disney, que hitou no TikTok e criou a imagem da cantora como a de uma princesa iludida. A capa é uma mistura de Kelly Key e TV Colosso, com uma pitada de qualquer outra loira adolescente de sucesso. E, se tudo que falei até agora parece coisa de gente mimada, a tendência é piorar.

Forgiveness tem uma melodia bem estruturada, com melodia e ritmo que agradam aos ouvidos, mas sua letra não agrega em absolutamente nada. O mesmo acontece na música homônima ao disco. Nela, salem ilese mostra toda sua potência vocal – que é altíssima, por sinal -, mas entrega uma composição rasa, que apenas se preocupa com rimas e não com significados. As músicas que acertam os versos, pecam no ritmo, como se houvesse um esforço para deixar o álbum fútil. Apesar de tudo, (L)only Child ainda pode agradar os mais emocionados. – Ana Júlia Trevisan


Músicas

Capa do single Dilúvio, de Karol Conká. Na imagem, uma mulher negra e com cabelo crespo amarrado, na posição de perfil. A mulher é Karol Conká e está mergulhada em um rio com tom marrom. Vestida de branco e com brincos dourados, Karol está com a cabeça inclinada e com as mãos juntas em formato de prece abaixo do queixo. Centralizado no topo está escrito Dilúvio em fonte marrom.
A primeira música de Karol pós-BBB 21 só poderia falar sobre redenção e resiliência, e a Mamacita serviu (Foto: Sony Music Entertainment)

Karol Conká – Dilúvio

Mostrando que os momentos mais difíceis da vida são os melhores catalisadores artísticos, Karol Conká desce um tom e apresenta uma versão diferente de si com Dilúvio. O single pós-confinamento da rapper na vigésima primeira edição do Big Brother Brasil espelha em sua melodia uma Mamacita serena e expõe liricamente uma figura em busca de superação. Poucos esperavam num lançamento tão cedo após o seu cancelamento, mas a artista não se deixou abalar e mostrou que a música é a melhor maneira de se expressar. A canção exala arrependimento e redenção.

Produzida pelo DJ e produtor carioca Leo Justi, fundador do núcleo Heavy Baile, Dilúvio é uma reciclagem de versos escritos pelos artistas no ano passado e calhou que a temática refletia num momento atual da curitibana, só precisou de algumas adaptações relatando as recentes experiências. Sonoramente, a criação da dupla segue a onda de um R&B semelhante ao da estadunidense Doja Cat, que faz muito sucesso lá fora e em território nacional.

Mas o que cativa mesmo na música é a sua letra. Além de identificável, conseguimos enxergar nela a trajetória da artista. “Completando ciclos, refletindo sobre o que eu digo/E tudo o que eu digo é baseado no que eu vivo/Se pra vencer, tem que superar o sofrer/Supero sem esquecer do real motivo pra viver”. Ao mesmo tempo que uma vulnerabilidade é exposta, vemos também na mesma narrativa uma garra para seguir em frente guiada pela paixão em sua arte. Não são muitos que dão a cara a tapa nesse nível, e Karol merece respeito por isso. – Giovanne Ramos


Capa do single ROY G BIV BBT, da cantora Alaska Thunderfuck. A capa é preta e tem o desenho de um arco-íris. Abaixo dele, está o título da música em fonte branca e abaixo do título, o nome da cantora, em fonte estilizada.
O nome da música usa as iniciais das cores da bandeira: Red, Orange, Yellow, Green, Blue, Indigo, Violet e as atualizações Black, Brown e Trans (Foto: Alaska Thunderfuck)

Alaska Thunderfuck – ROY G BIV BBT

Em comemoração ao mês do Orgulho LGBT+, a lendária drag queen Alaska Thunderfuck resolveu liberar um novo hino para Junho de 2021. ROY G BIV BBT bebe das batidas eletrônicas que a RuGirl tem experimentado em trabalhos mais recentes, se contrapondo ao lado pop de Poundcake. A vencedora do All Stars 2 cria esse personagem chamado Roy para cantar sobre representatividade e amor. 

Roy se identifica como pessoa não-binária, com bem aponta a composição, que usa o pronome neutro ‘them’ para se referir a elu. Alaska ainda atualiza a bandeira do Orgulho, adicionando azul claro, rosa e branco (representando a bandeira trans) e marrom e preto (representando as pessoas não-brancas da comunidade). No colorido videoclipe, Roy se veste com as cores da bandeira, celebrando o momento. Cantando sobre a diversidade, muitas vezes escanteada na comunidade queer, o lema de Alaska se mantém, anusthing is possible! – Vitor Evangelista


Capa de Astronomy. Foto da parte de cima do rosto de Conan Gray, a partir de seu nariz. O seu cabelo castanho e cacheado cai em ondas até a altura de seu ouvido. Na parte superior da arte está escrito Astronomy, com letras em um aspecto de serem cortadas de uma revista. O fundo é preto com estrelas, remetendo um céu durante a noite.
Conan emociona com música triste sobre término e distância (Foto: Republic Records)

Conan Gray – Astronomy

O queridinho da Taylor Swift voltou! Depois de começar o ano de forma agitada com Overdrive e seu clipe um tanto caótico, Conan volta a suas origens melancólicas e presenteia os fãs com Astronomy. Escrita por ele e produzida pelo seu companheiro de anos, Dan Nigro, Conan constrói uma narrativa romântica com os mesmos acordes de Heather, maior hit de sua carreira.

Mas se por um lado o cantor ainda estava perdidamente apaixonado em sua última era, agora ele parece ter finalmente desencanado. Ao anunciar o lançamento da música no Instagram, Conan contou que a escreveu sobre alguém que amou por muitos anos, até perceber que já estavam distantes demais para ter algo. E essa distância é metaforizada na faixa com o uso de conceitos astronômicos, como a morte de uma estrela e o espaço entre dois planetas.  

Sem notícias de um novo álbum, a única coisa que o fandom sabe que pode esperar da nova fase de Conan é sua libertação de dores e inseguranças que carregou por tanto tempo. Tanto Overdrive quanto Astronomy passam uma mensagem: um novo capítulo se inicia na história de Conan Gray. – Mariana Chagas


Capa do single com as duas cantoras de costas uma para a outra em um fundo vermelho
O encontro de titãs entre duas das roqueiras mais proeminentes da atualidade (Foto: Jagjaguwar)

Sharon Van Etten e Angel Olsen – Like I Used To

Poucos meses após lançar a edição comemorativa de dez anos de seu terceiro álbum de estúdio, intitulado epic Ten, Sharon Van Etten chocou o cenário musical alternativo com o lançamento de Like I Used To, single em dueto com Angel Olsen. A balada poderosa com toques de Bruce Springsteen foi produzida por John Congleton, colaborador em comum das duas artistas. Além de um toque country, a faixa traz o casamento majestoso das vozes de Sharon e Angel, que, mesmo harmonizando-as perfeitamente, consegue manter a identidade vocal de cada uma. 

Em uma entrevista com as duas cantoras para a Interview Magazine, Van Etten revela à Olsen que escreveu a canção em 2020 na primeira onda da pandemia do coronavírus, como um esforço para manter suas habilidades de composição em um período difícil. A letra começou com Sharon constatando que estava retomando velhos hábitos com o isolamento, que resultou no poderoso verso que dá título e estrutura a canção. Após terminar de compor, ela percebeu que a música lembrava o estilo de Angel Olsen e a enviou a demo. O resultado foi uma das melhores faixas do ano até agora, que conta ainda com um belíssimo videoclipe dirigido por Kimberly Stuckwisch. – Carlos Botelho


Capa do single Stop Making This Hurt. Mostra apenas um pedaço do rosto de um homem branco de perfil. A imagem, com aparência envelhecida e filtro azul, tem o fundo petro e no canto inferior direito a grafia, em letras trabalhadas amarelas, Take The Sadness Out Of Saturday Night. A imagem tem uma moldura branca com uma linha dourada.
A faixa foi usada como anúncio da data de lançamento mais novo trabalho dos Bleachers, o álbum Take the Sadness Out of Saturday Night esperado para o fim de junho (Foto: RCA)

Bleachers – Stop Making This Hurt

A inspiração oitentista cresce a cada dia e toma todas as áreas da cultura, desde produções audiovisuais, como Stranger Things, até álbuns completos com Euphories. Porém, muitas vezes elas são usadas como muletas criativas que justificam obras pouco abrangentes, sob o pretexto de serem sustentadas pelas batidas características da década. Entretanto, alguns poucos casos, como Stop Making This Hurt, nos fazem olhar para essa aura nostálgica de outras formas, ao usufruir de tudo – e mais um pouco – que poderia da época, sem abrir mão da originalidade.

É fato que se não soubéssemos que o single é um lançamento certamente o confundiriam com alguma balada antiga. Contudo, é através dessa temporalidade bem marcada que os Bleachers conseguem imprimir sua personalidade. Eles abrem mão de aspectos contemporâneos e embarcam de cabeça na proposta de criar uma faixa que poderia fazer sucesso tanto hoje como 40 anos atrás. Mantendo as inspirações que construíram o último álbum da banda, Gone Now, podemos ver que eles continuam neste caminho de descoberta e exploração de novas possibilidades para sonoridades passadas.

E por mais contraditório que possa soar, Stop Making This Hurt é uma inovação datada, uma novidade nostálgica e uma contemporaneidade saudosa. Assim, enquanto aproveitamos o mais recente lançamento da banda, temos a oportunidade de aproveitar uma época que muitos não viveram, de forma muito mais imersiva do que uma simples playlist com a-ha e Whitney Houston poderiam nos entregar. Ao focar na atualidade e espelhar o passado, Bleachers torna sua estética sonora marcante e atemporal. – Ana Laura Ferreira


Capa da música Dinheiro, Poder, Respeito. BK’ aparece centralizado na imagem e está escrito Dinheiro, Poder e Respeito em amarelo logo abaixo e BK’ em branco. Na parte inferior, dois carros, com homens sentados na janela, além de uma moto com dois homens. A foto toda está escura, com imagens do BK’ como marca d’água e o nome da faixa com a fonte vazada.
Capa da música Dinheiro, Poder, Respeito (Foto: Gigantes)

BK’ – Dinheiro, Poder, Respeito

Abebe Bikila lançou sua primeira música pelo selo do próprio artista. A Gigantes surge como produtora e já teve um grande lançamento. Dinheiro, Poder, Respeito abre um horizonte de possibilidades e gera uma boa expectativa para o público.

Na faixa, BK’ apresenta um drill bem contundente, demonstrando mais uma vez a versatilidade do rapper, passeia com tranquilidade pelas vertentes do gênero e se sente à vontade em todas. O beat encaixando impecavelmente, mostrando novamente que BK’ e JXNXS é o casamento perfeito.

Uma característica interessante da música é a referência do nome com a faixa Money Power Respect, de Travis Scott. Além disso, temos a produção do clipe que está em alto nível, gravado nas ruas da Lapa, com carros e motos de luxo e cenas que expressam um pouco da vivência na cidade. – Elder John 


Cena do clipe de Ama Sofre Chora. Na imagem, Pabllo Vittar está sentada usando um vestido branco e longo de noiva, cabelo loiro amarrado segurando um buquê de flores e olhando para o lado com os olhos borrados escorrendo o lápis de olho. Em suas costas, uma coroa enorme de flores. No fundo, pilares brancos.
Voltando para às raízes, Pabllo abre a sua nova era no maior estilo noiva do forró (Foto: Sony Music Entertainment)

Pabllo Vittar – Ama Sofre Chora

No final de abril, a cantora Pabllo Vittar performou em uma festa no Big Brother Brasil 21, e ao encerrar a apresentação, mostrou uma aliança em seu dedo. O público foi ao delírio e logo começou a se especular que a drag queen mais querida e amada do país iria se casar. A encenação, no entanto, não passava de uma divulgação do primeiro single do quarto álbum da artista, Ama Sofre Chora. A música foi lançada com o clipe no dia 7 de maio e mostra uma Pabllo Vittar devastada e abandonada no altar.

Para quem conhece a carreira da artista, sabe muito bem a sua capacidade de transitar entre diversos ritmos com facilidade, e o mais importante, com qualidade. Na nova música, Pabllo resgata novamente o forró utilizado nas músicas Amor de Que e Seu Crime. Não chega ser impactante como as anteriores, mas o refrão é tão grudento quanto. Produzida pela Brabo Music, a música definitivamente não é a melhor entrada para uma nova era, mas está longe de ser ruim.

O destaque, no entanto, vai para o vídeo dirigido por Flávio Verne – coreógrafo de Bandida e Modo Turbo – e a própria intérprete. Nele, a cantora realiza o seu sonho de ser uma noiva no maior estilo de novela mexicana. Nossa dama trai o seu noivo momentos antes do casamento, é desmascarada e abandonada no altar. A narrativa torna a música curta e mais dinâmica. Digamos que Ama Sofre Chora foi um aperitivo. O prato principal mesmo é a dona do instrumental que fecha o clipe, dando a entender que se trata de um pedaço da próxima música de trabalho. – Giovanne Ramos


Capa do single 7 de Mayo, de J Balvin. A capa é composta por uma fotografia do artista enquanto criança. Ele, por volta de nove anos, está sentado num sofá com estampa étnica, na fentre de uma parede branca com enfeites pendurados. O menino sorri levemente e olha para a frente, vestindo uma camiseta com listras rosas e azuis, uma calça jeans e botas marrons. Ele segura uma mochila de couro marrom, encostada ao seu lado direito, e ao redor do seu pescoço, existe um cinto de couro marrom. No canto inferior direito da imagem, está a assinatura de J Balvin, numa fonte desenhada em caixa alta colorida em amarelo. No canto esquerdo da imagem, existe uma faixa preta que cria um fundo para um escrito do nome da música, em caixa alta e amarelo. Embaixo do nome e cercando toda a fotografia, existe um quadro preto que imita um filme de câmera antiga. Nesse quadro, na parte de cima, que está embaixo do nome da música, na vertical, está escrito Medellín, Colombia. Na parte de baixo do quadro, que está no canto esquerdo da imagem, existe o símbolo de 'play'.
O último lançamento de J Balvin é parte do documentário Boy From Medellín, que conta sua história de vida sob a direção do indicado ao Oscar Matthew Heineman na tela do Amazon Prime Video (Foto: UMG Recordings)

J Balvin – 7 De Mayo

Este foi o mês de comemorar o aniversário de um dos nomes mais importantes da Música latina. No dia 7 de maio, J Balvin celebrou seus 36 anos com um single intitulado com sua data de nascimento. Diferente do que se espera da estrela do reggaeton, 7 de Mayo traz uma produção simples, destacando a habilidade letrista do artista com uma pincelada de rap.

O que condiz perfeitamente com a característica autobiográfica e íntima da canção, que integra trilha sonora do seu documentário The Boy From Medellín. Abençoado pelo ícone da música latinoamericana Daddy Yankee, o nome de peso da indústria musical mundial abre portas para muitos outros artistas fora do domínio estadunidense e merece ser devidamente celebrado. Viva J Balvin! – Raquel Dutra


otografia da capa do single Girl From Rio, da cantora Anitta. No centro está a cantora, uma mulher branca de cabelos castanhos e longos. Ela veste um maiô verde e uma blusa branca com o escrito “Garota do Rio”. A cantora está em pé, em cima de uma cadeira azul, em frente a um ônibus, que na parte superior está escrito “Girl From Rio”. O veículo está parado em uma praia no Rio de Janeiro. Na parte inferior da imagem, ao centro está escrito 'FEAT. DABAY', numa fonte em caixa alta, negrito e colorida em amarelo.
Depois do sucesso global de seu último single Girl From Rio, com uma breve releitura de Garota de Ipanema, agora Anitta lançou um remix em parceria com o rapper DaBaby, visando mais alcance internacional (Foto: Mar + Vin)

Anitta e DaBaby – Girl From Rio

Recentemente, Anitta lançou o remix do single Girl From Rio, uma nova versão em parceria com o rapper norte-americano DaBaby, conhecido por seus sucessos RockStar, BOP e Suge, e por trabalhar com outras grandes artistas, como Megan Thee Stallion e Dua Lipa. Buscando uma vibe diferente para a música, a cantora apostou em uma pegada mais hip hop, além, é claro, de investir na produção de um videoclipe. Gravado em estúdio, o vídeo apresenta os artistas cantando em frente a um telão, projetando o clipe da versão original da música, o que combina perfeitamente com o estilo bem descolado e ousado da cantora.

A breve releitura que Anitta faz no início, da clássica canção Garota de Ipanema, logo sai dos tons de bossa nova e misturam-se com as batidas de funk e trap, que contempla a nova imagem refeita da Garota, no contexto do Rio de Janeiro atual. Além de trechos mais voltados para o rap, o remix ainda ganhou versos inéditos cantados pelo norte-americano, o que deu um toque a mais para essa nova versão. Visando um maior alcance para o single, Anitta não apenas deseja com esse projeto o crescimento de sua carreira internacional, mas também levar a música brasileira para o mundo. – Gabriel Brito de Souza


 Capa do single Nothing's Special de Oneohtrix Point Never e ROSALÍA. Mostra uma tela, que lembra uma televisão, com as cores do arco-íris e uma luz branca na parte inferior ao centro. Ela é emoldurada por um fundo azul e tem , na parte superior em rosa claro, Oneohtrix Point Never e ROSALÍA. Logo abaixo se lê Nothing's Special na mesma cor.
O single é um remix da faixa homônima do Oneohtrix Point Never, do álbum Magic Oneohtrix Point Never (Foto: Warp Records)

Oneohtrix Point Never e ROSALÍA – Nothing’s Special

Não existe palavra melhor para definir o mais recente lançamento de Oneohtrix Point Never e ROSALÍA, Nothing’s Special, do que dor. Isso porque podemos perceber tal emoção rasgante na voz da cantora, tanto quanto conseguimos sentir isso em nossos próprios ouvidos. A mistura de um pop underground com uma influência um tanto lo-fi, acaba por criar um single que nos tortura e angustia, das formas mais negativas possiveis.

É realmente triste descrever uma obra de ROSALÍA como dolorosa nestes termos, mas aqui sua lamentação e pungência, tão bem trabalhadas em produções anteriores como em El Mal Querer, fogem de controle para se perderem. E mesmo puxando essa influência da estética sonora conflitante, já consolidada por Oneohtrix Point Never que ainda traz influências de instrumentos clássicos asiáticos para a composição, isso não a torna mais tragável. Podendo, assim, ser vista não como uma falha de percurso na carreira de ambos, mas simplesmente como uma tentativa, que valeu a pena ser testada, mas acabou não saindo como o planejado. – Ana Laura Ferreira


Foto quadrada da divulgação da música "Levar Before You Love Me", de fundo branco. Dentro de um quadrado, estão presentes as silhuetas do DJ Marshmello em pé (no lado esquerdo), seguidos de Nick Jonas, Joe Jonas e Kevin Jonas sentados num vagão de metrô. O banco é vermelho e amarelo. No canto inferior esquerdo, abaixo do quadrado e na parte branca, está escrito "Leave Before You Love Me" em letras maiúsculas, pretas e finas. Do lado, está escrito "Marshmello X Jonas Brothers" em letras maiúsculas, pretas e finas, de tamanho menor.
“Meus pneus estão à toda/Não tiro meu pé do acelerador/E só me levou uma noite/Para enxergar o fim da linha” (Foto: Republic Records)

Marshmello e Jonas Brothers – Leave Before You Love Me

Dono de um currículo de parcerias com ex-estrelas Disney, como Selena Gomez e Demi Lovato, o DJ Marshmello se apoia no retorno do Jonas Brothers para lançar uma música espetacular, daquelas que a gente nem sabia que precisava desse feat até ouvi-lo. Depois de uma apresentação majestosa no Billboard Music Awards, foi divulgado de surpresa o clipe de Leave Before You Love Me

Marcado pela mudança de arranjos e de inspirações, o trio mostra o amadurecimento de suas canções. Juntamente com as batidas mais eletrônicas de Marshmello (bem próximo à Circles, de Post Malone), os vocais de Joe são o clímax de toda a música. Sem deixar de ser influenciado pela brilhante e marcante voz de Nick, Joe mostra seu merecido potencial que tem se aprimorado com seus anos de carreira (orgulho!). 

O diretor Christian Breslauer traz aquela recente sensação oitentista dentro de uma estação de metrô, cenário já visto em outro clipe de ex-companheiros da Disney. A falta de originalidade bateu na porta e o vídeo acabou sendo uma reciclagem de fórmulas de sucesso. Além disso, acaba sendo irônico (até mesmo engraçado) os irmãos cantarem sobre falta de compromisso de um amor de uma noite qualquer enquanto todos estão casados, construindo uma família. Mesmo assim, a música remete aquele sentimento de playlists de viagem: dançante e contagiante, combo que oferece grandes feitos para os Jonas Brothers. – Júlia Paes de Arruda


Fotografia da capa do single Runaway (Lvl.2), da cantora AURORA. No centro está a cantora, uma mulher branca de cabelos loiros e curtos, e olhos azuis. O lado direito do seu rosto está tapado pela franja do cabelo. E ela está vestindo um casaco marrom com um capuz felpudo também em tons de marrom e ocre. Na parte inferior pode-se ler “Runaway (Lvl.2)”, em negrito e cor amarelada.
Em comemoração aos 6 anos de Runaway, AURORA lançou novas versões da música de maior sucesso de seu disco All My Demons Greeting Me As A Friend (Foto: Decca Records)

AURORA – Runaway (Lvl.2)

Em 2016, a jovem cantora AURORA estreou no cenário musical com seu primeiro álbum gravado em estúdio, All My Demons Greeting Me As A Friend. Levando sua voz angelical para além das terras norueguesas, AURORA continua até hoje encantando o público com suas composições que sempre buscam trazer um toque mais sentimental, e a importância da ligação humana com a natureza. Recentemente, a cantora tem caminhado para a produção de seu quarto álbum, mas nessa procura por inspiração, AURORA viu em seu disco debut uma oportunidade de reencontrar as conexões que criou ao longo de suas produções.

Trazendo pequenos projetos musicais em comemoração aos 5 anos de lançamento do álbum, não somente a cantora está renovando suas energias, como também seus fiéis ouvintes. Um dos atuais projetos, foi o lançamento de novas versões acústicas do single Runaway, que neste ano completa 6 anos desde seu lançamento. Outra novidade também foi o clipe de Runaway – Tik Tok Fan Edition, que é um compilado de gravações feitas por usuários da rede social usando o efeito que a faixa recebeu no aplicativo. Mesmo sem o lançamento de novas músicas, poder lembrar os maiores sucessos da cantora tem sido uma experiência incrível. – Gabriel Brito de Souza


Foto Montagem, granulada mostra da esquerda para a direita Tracie em alto contraste, com cabelos soltos, óculos de sol na cabeça e correntes douradas. De braços cruzados e relógio, ela veste top rosa chock esportivo com estampas geométricas brancas vazadas, da Adidas. Atrás de Tracie, bandeira branca com a logo da Pineapple Storm TV e natureza. Ao lado dela está Tasha, séria e apoiando a mão no ombro da irmã, separada por um efeito de recorte em papel. Tasha é mostrada em preto e branco, com o cabelo solto, correntes, anéis na mão e também usa top esportivo da Adidas, esse com o desenho clássico lateral das três listras. Atrás de Tasha, sobreposição com cachorros rosnando/latindo. No canto inferior central aparece a logo da Pineapple Storm Tv (ilustração que mistura o formato de um abacaxi e de um cérebro). Abaixo da logo, um degradê imitando papel num tom acinzentado se sobrepõe à fotomontagem das gêmeas. O fundo de tom acinzentado exibe o nome, o número da edição, e as artistas projeto “Perfil #86” - Tasha e Tracie, no canto inferior esquerdo. Já no canto inferior direito, aparecem o nome da música “MPIF - Mulher Preta Independente de Favela” e o nome do produtor, em letras menores abaixo “MU540”.
Capa do single (Foto: Pineapple Storm Tv 2021)

Tasha e Tracie – Perfil #86 MPIF – Mulher Preta Independente de Favela

MPIF – Mulher Preta Independente de Favela, é o que dá nome e cara ao primeiro single das gêmeas Tasha e Tracie de 2021,  além de ser também o título do coletivo de empresárias co-idealizado por elas. A música e o clipe, fazem parte do projeto Perfil, da PineappleStormTV no YouTube. Em linha com todo o seu  trabalho dentro e fora da cena musical, desde o movimento Expensive $hit que incorpora blog, discotecagem e brechó, e começou em 2014, até o pesadíssimo EP ROUFF, no qual estrearam no rap em 2019, o single com produção de MU540, lançado em 12 de maio, figura como mais uma pedrada da dupla.

Em MPIF, as gêmeas transitam pelo rap funk com pinceladas de drill, sem desperdiçar uma linha, e fazem o refrão “Gosto de whisky, de Buchanan’s, gosto de lupa e lente roxa/Gosto de baile, de unha branca, culpa, eu gosto na minha conta”, grudar na mente. Agressivas como sempre e afiadas como nunca,  à medida que o beat do single evolui, Tasha e Tracie narram a sua trajetória: falam da família, dos haters, do Jardim Peri, bairro periférico da Zona Norte de SP onde cresceram, e acima de tudo do seu sucesso, com razão.

A habilidade de carregar as letras de indiretas e alusões nem sempre explícitas, e transicionar por diferentes flows, sem perder a essência, dureza e o impacto nas rimas, é algo que Tasha e Tracie sempre fizeram, mas que fica absurdamente evidente em MPIF. A música começa sombria e lenta, mas deslancha depois do segundo verso, que antecede a ponte no beat clássico do funk paulista e referência brilhante ao MC Zóio de Gato, “Eu não quero buchicho, eu só quero dinheiro /E se a base colar”. No clipe, as gêmeas dançam, fazem careta e saem de cena, mas seguem tranquilas, ao explodir nas linhas: “Nós escreve as rima que esses cara fala: “Por que eu não escrevi?”/Tasha e Tracie mais uma vez tranquilas/Desempregando, desempregando fracos MC’s”.  No primeiro single do ano, Tasha e Tracie provam que estão só começando, e não vão pedir desculpas por trilhar esse caminho. – Andrezza Marques


Capa do single Higher Power, de Coldplay. A imagem é composta por um fundo degradê que começa em cima com um preto e termina embaixo com um azul escuro. Sob este fundo, existe um círculo formado por ícones de pássaros num tom de rosa neon. No canto esquerdo da imagem, numa linha horizontal, em cima, estão mais ícones de símbolos no tom de rosa neon, sendo estrelas, um triângulo dividido em três, o símbolo do infinito, o símbolo de um núcleo celular, e uma espiral. No meio dessa linha no lado esquerdo da imagem, está o nome do single, Higher Power, em caixa alta numa fonte serifada e num tom de rosa neon. Embaixo, está escrito Coldplay, na mesma estilização.
Porque, meu Deus?! De novo, Coldplay insiste na intragável música colorida e eletrônica que sufoca o potencial da banda (Foto: Parlophone Records)

Coldplay – Higher Power

Altos e baixos e surpresas boas e decepções constroem a vida do público de Coldplay. Se o último álbum da banda possibilitou muitos caminhos promissores, conexões com o contexto social atual e um sinal ao retorno de suas raízes tão preciosas, o primeiro single da nova era não poderia ser mais frustrante. Higher Power chega em vestes futuristas, sonoridade eletrônica e enfeitado com hologramas, quando a última coisa que os sobreviventes do último ano desejam é estabelecer qualquer tipo de contato intermediado por tecnologias. 

E num tempo bom, Coldplay produziu arte sincera que olha no olho como ninguém, mas agora insiste em se esbaldar na megalomania quando a sensibilidade, proximidade, sinceridade e as coisas mais simples possíveis são nossas maiores carências. Higher Power é mais uma triste mancha na carreira da banda que joga pela janela tudo o que Coldplay construiu com Everyday Life, provocando um tombo estratosférica para a confiança que a banda conquistou de seus fãs nos últimos meses. – Raquel Dutra


Fotografia da capa do single cover Cowboy Fora da Lei, do cantor Gabeu. No centro está o cantor, um homem branco de cabelos castanhos e curtos. Ele está vestindo uma camisa e luvas com estampa de couro de vaca, e detalhes em rosa. Também está vestindo um chapéu de cowboy branco e usando maquiagem em tons de rosa.
Preparando-se para o lançamento do primeiro álbum de sua carreira, Gabeu vem novamente revolucionar o cenário musical com o cover queernejo do single Cowboy Fora da Lei, de Raul Seixas (Foto: Sillash)

Gabeu – Cowboy Fora da Lei

Ao longo de sua infância e adolescência, Gabriel Felizardo tentou fugir o quanto pode do sertanejo. Sendo filho de um dos maiores nomes do gênero, o cantor Solimões, da dupla com Rio Negro, o jovem enxergava o fato de ser gay como um empecilho, por conta do preconceito e falta de representação que há nesse cenário. Mas, em certo momento, foi tamanha a indignação de Gabriel, que o motivou a buscar essa revolução pela presença de vozes LGBTQI+ no sertanejo. Hoje, aos 21 anos, Gabeu, nome artístico do cantor, é um dos grandes precursores do chamado queernejo, um movimento musical sertanejo que pretende trazer representatividade e transformação em toda a indústria musical brasileira.

Estando na produção do primeiro álbum de sua carreira, Gabeu recentemente acaba de lançar um cover de uma das clássicas canções do cantor Raul Seixas, Cowboy Fora da Lei. A releitura do artista ganhou um toque diferenciado graças a mistura de elementos do sertanejo, country e leves batidas do rock, que tomam ainda mais destaque com o figurino e cenário usados no videoclipe. Já contando com dois hits, Amor Rural e Sugar Daddy, Gabeu veio mais uma vez mostrar que através da música podemos ultrapassar barreiras e quebrar paradigmas impostos pela sociedade que perpetuam preconceitos e discriminações. – Gabriel Brito de Souza


Capa do single Feel Something, do cantor Joshua Bassett. A capa é formada por uma porção de fotografias sobrepostas do cantor. A central tem ele, branco, jovem e de camisa branca, blusa azul e calça jeans, deitado na rua em cima de uma faixa de pedestres. No canto inferior esquerdo, existe um selo rosa com JOSHU BASSET em fonte estilizado preta, e Feel, em letra cursiva acima de JOSHUA, e Something, na mesma fonte, abaixo de BASSETT.
Deixa o garoto brincar! (Foto: Warner Records Inc.)

Joshua Bassett – Feel Something

A impulsividade pulsa Feel Something, single de Joshua Bassett que parece esquecer o recém-lançado EP. O cantor escolheu liberar a música na janela em que High School Musical: The Musical: The Series exibe a segunda temporada, ajudando no hype do artista, além de sua curta duração ser sinônimo de mais repetições nos aplicativos de streams.  

Muito mais marcante que as canções que compõem o Extended Play, Feel Something mostra o lado brincalhão e imaturo de Bassett, comumente obscurecido pelo garoto faminto de amor. No mesmo mês em que se assumiu queer (e foi questionado sobre o episódio), Joshua nos agracia com o melhor trabalho desde Anyone Else. – Vitor Evangelista


Capa do single Our Song. Mostra Anne-Marie, mulher branca de cabelos rosas e soltos, com um vestido branco e brincos de flores brancas grandes, e Niall Horan, homem branco de cabelos castanhos claros curtos, terno marrom e camisa branca. Eles estão em uma floresta. A imagem está dentro de um retângulo branco que imita uma polaroide sobre um fundo verde no qual está escrito Our Song, Anne-Marie e Niall Horan em verde escuro na parte inferior.
“Bem quando eu acho que você se foi, escuto nossa canção no rádio/Simples assim, me faz lembrar dos lugares que costumávamos ir” (Foto: Atlantic Records)

Anne-Marie e Niall Horan – Our Song

A mais recente parceria de Anne-Marie, conhecida por músicas como FRIENDS e Clean Bandit, pode ser descrita como uma bela e sedutora nativa ao melhor estilo Bonnie e Clyde. Ao lado de Niall Horan, a cantora equilibra história, eu-lírico e sonoridade, nos deixando sempre com um gostinho de quero mais. Através de uma música pop chiclete e uma estética bem marcada por sua inspiração já citada, somos cativados por Our Song como se a música fosse realmente nossa.

Não é nem preciso falar que as vozes de Horan e Anne-Marie combinam, pois parece que foram feitas para estarem juntas. Sendo sinceros em manter os estilos próprios impressos na faixa, que caberia perfeitamente no último álbum de qualquer um dos dois, nos vemos viciados em sua construção que se torna ainda mais preciosa com o clipe que a acompanha. E é cometendo crimes que o single rouba um lugar em nossas playlists. – Ana Laura Ferreira


Foto quadrada de divulgação da música "Mil Vidas", do Onze:20. O cenário é uma praia, com morros altos, ao pôr do sol. Na parte superior da imagem, está escrito "Onze 20" em letras brancas e maiúsculas. No centro da imagem, em pé na areia da praia, estão os integrantes da banda Onze:20, Marlos Vinicius, Victor Hugo (Vitin), Chris Baumgratz, Fábio Mendes, Athos Santos e Fábio Barroso, respectivamente. Marlos segura um baixo e Chris um violão. Na parte inferior da foto, está escrito "Mil Vidas" em letras cursivas, num degradê crescente e vertical do amarelo ao vermelho. As letras possuem um contorno branco.
“Se sonhar é um ponto a favor/Essa noite eu sonhei com você” (Foto: Som Livre)

Onze:20 – Mil Vidas

Quem não anseia por um ponto de esperança em meio a esse caos, não é mesmo? Sentar à beira da praia com os amigos, ouvir o mar a uma distância de pés de você, comemorar uma nova fase da sua vida. Essa sensação de calmaria e de leveza é o que acompanha Mil Vidas da banda Onze:20, uma serenidade acústica que muitos precisam ultimamente. 

Seguindo a mesma linha de Meu Lugar, mas permanecendo num reggae ritmado, Mil Vidas compartilha o companheirismo, o amor e a leveza que Onze:20 sempre demonstrou com seus clipes. Mantendo aquele ar de vídeos caseiros e mais íntimos, sem grandes feitos cinematográficos, os integrantes constroem harmonias que correspondem à mansidão de uma música bem praieira. Num clima bem ensolarado, cantam mensagens positivas, acerca de amor e acolhimento. Nada mais efetivo para os momentos introspectivos e difíceis que passamos por esses meses. – Júlia Paes de Arruda


Capa do single Next Level, do grupo aespa. Na imagem, o quarteto aespa. No centro a integrante Karina (direita) com blusa, casaco e short marrons e a integrante Winter (esquerda) com blusa verde e saia marrom, ambas coreanas. No canto direito a integrante Giselle, coreana de ascendência japonesa, cabelo castanho, blusa de mangas longas verdes e calça marrom. No canto esquerdo NingNing, chinesa e de cabelo vermelho com vestido verde. No centro o nome do grupo na cor cinza metálico e no topo centralizado o Next Level escrito em branco.
O comeback do grupo não tem meio termo, é amor ou ódio; mas um fato é inegável: a música é uma viagem (Foto: SM Entertainment)

aespa – Next Level

O grupo de k-pop aespa debutou em novembro do ano passado pela SM Entertainment, uma das maiores empresas sul-coreanas e responsável por uma série de pioneirismos no gênero. Como esperado, o quarteto carrega o experimentalismo musical que a empresa propagou anteriormente em outros grupos como f(x), Red Velvet e NCT, e com Next Level, sucessor do single de estreia das meninas, não foi diferente. A música faz com que os outros grupos novatos pareçam básicos.

A canção não é totalmente original, na verdade, se trata de uma regravação adaptada exclusivamente para o grupo. Originalmente, Next Level é interpretada por A$ton Wyld e faz parte da Trilha Sonora de Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw. No entanto, o toque do produtor Yoo Young-jin remodelou a música, fazendo dela uma viagem mesclada em hip-hop dance e upbeat-jazz. Literalmente, é como se fossem várias músicas em uma só e com transições bem definidas.

Não é a primeira vez que algo assim acontece no k-pop. As suas veteranas da mesma empresa, Girls’ Generation, há 8 anos eram elogiadas pela crítica por I Got a Boy. A música mescla no mínimo três gêneros e seções diferentes e foi nomeada como alegremente caótica. Next Level não superou a genialidade das antecessoras, mas certamente deu um passo à frente saindo da mesmice que domina os grupos femininos. A partir de hoje, um gênero por música é pouco. – Giovanne Ramos


Capa de Vidas Negras Importam. A arte é bege com borda amarelo escuro. No centro, doze desenhos do perfil de pessoas negras, em quatro diferentes tons. No canto superior do quadrado, Martinho da Vila está escrito em letras maiúsculas e nas mesmas cores dos desenhos, assim como Vidas Negras Importam, que está no canto inferior.
“O preconceito/Sem respeito nos separa/Porque tenho a pele negra/E você a pele clara” (Foto: Sony Music)

Martinho da Vila – Vidas Negras Importam

O assassinato de George Floyd em 25 de maio por um policial de Minneapolis despertou um dos maiores movimentos sociais nos Estados Unidos e no mundo. O Black Lives Matter, que já existia, ganhou força como debate contra a violência e morte de pessoas negras. E, aqui no Brasil, o sambista Martinho da Vila se junta ao compositor Noca da Portela para trazer o tão importante assunto à tona na música Vidas Negras Importam, lançada no dia 13.

Em seu Facebook, Martinho contou que gravou a música em capela, batucando em uma caixa de fósforos. Ainda em um período de pandemia, o cantor percebeu que não havia a necessidade de ir ao estúdio. Então mandou a gravação para seus produtores, que harmonizaram e adicionaram violão. Mesmo de longe, a equipe conseguiu construir uma faixa coerente e completamente necessária. 

No Lyric Video postado em seu YouTube, assim como na capa do single, desenhos mostram a diversidade de tons, cabelos e características do povo preto. Todos os detalhes visuais junto a uma letra simples discutem o racismo de uma forma que apenas o escritor e compositor engajado em causas negras há anos conseguiria fazer. – Mariana Chagas


Foto da capa do single ‘Heartbreak Anthem’. A imagem tem um fundo preto e ao centro um coração formado por uma corrente colorida. Dentro da corrente, há asas, também coloridas. No canto superior esquerdo, está escrito ‘GALANTIS DAVID GUETTA & LITTLE MIX’ e no canto inferior esquerdo está escrito ‘HEART-BREAK ANTHEM’.
Little Mix entra na “fórmula David Guetta” atrás de um hit de verão (Foto: Atlantic Records)

Galantis, David Guetta e Little Mix – Heartbreak Anthem 

Os dias de glória do Little Mix estão de volta! Depois do brilhante lançamento da nova versão de Confetti, elas fizeram história ao se tornar a primeira girlgroup britânica ao levar para casa o machista troféu do BRIT Awards. Além disso, as futuras mamães britânicas se personificaram mais uma vez em busca do single do verão. 

Dessa vez, dando voz a parceria dos renomados DJs David Guetta e Galantis, Jade Thirlwall, Leigh-Anne Pinnock e Perrie Edwards mostram o talento vocal em Heartbreak Anthem, porém dentro de uma composição eletrônica já conhecida. A batida da música é característica do francês, porém com algumas inovações dos suecos. A música, portanto, está dentro da fórmula perfeita para bombar no verão do Hemisfério Norte, porém ainda decai quando o assunto é a divulgação da girlgroup dentro do país norte-americano. 

Apesar da música “comum”, porém, o Little Mix trouxe a inovação no clipe. Mesmo com ⅔ grávidas, elas conseguiram entregar um visual impecável para o vídeo. Ao trazer a estética circense, elas surpreenderam com as extravagantes perucas e roupas, no estilo dos habitantes da capital de Jogos Vorazes. Heartbreak Anthem, está pronto para abrir, portanto, aquilo que Confetti iniciou: uma nova era renovada e brilhante das misturinhas. – Larissa Vieira


Capa do single Sinfonia do Corpo, de Jup do Bairro. Arte surrealista em moldura quadrada, com fundo branco. Ao centro está Jup do Bairro, mulher negra com cabelos pretos e longos dreads. Ela está nua, suspensa no ar, olhando para frente com um semblante sério. O seu corpo, dos ombros para baixo, começa a se distorcer e se envergar até que ganhe formas de diversos instrumentos musicais, também deformados, em seu centro e em suas extremidades. Tanto do seu lado direito quanto do esquerdo são projetadas duas sombras distorcidas e espelhadas de Jup, em preto e branco, com seus dreads agora tomando a forma de linhas de partitura. No canto inferior esquerdo, vê-se uma etiqueta em cinza, que apresenta em seu centro os dizeres: “Jup do Bairro em Sinfonia do Corpo”. Mais abaixo, lê-se “8:42 Prod. Badsista” e “Arte por Moxca”.
Sinfonia do Corpo, novo single de Jup do Bairro, é visceral, sensível e necessário (Foto: João Mosca)

Jup do Bairro – Sinfonia do Corpo

A obra de Jup do Bairro trata muito da experiência do corpo, e nem poderia ser diferente. Quando se habita um corpo como o que Jup habita, um que é constantemente julgado, violentado, marginalizado, sentenciado e hostilizado, não há como ignorá-la. E ela não ignora. Em 2020, recebemos o apoteótico EP CORPO SEM JUÍZO, em que a rapper toma conta de suas narrativas, retoma o poder sobre seu corpo e o reafirma da forma mais transgressora possível. A capa é um close em seu corpo, suas marcas e suas cicatrizes, evidenciando o caráter vulgar do trabalho. O resultado é um grito de autoafirmação e autoestima, individual e coletiva, que ecoa e confronta rígidas estruturas de poder. Além disso, o EP é uma das peças musicalmente mais interessantes do ano passado. A produção da BadSista experimenta desde uma ambiência cinematográfica de timbres eletrônicos em TRANSGRESSÃO até instrumentais de punk rock na poderosa PELO AMOR DE DEISE. Sonoridade diversa e múltipla, assim como as vivências corpóreas que Jup desvela.

Agora, em 2021, ela toma o caminho inverso. Se CORPO SEM JUÍZO mostrava uma Jup afrontosa e resiliente, em seu último single, Sinfonia do Corpo, ela abre suas feridas e se permite vulnerável quanto aos seus conflitos com seu corpo. BadSista retorna para produzir essa faixa, entregando um instrumental minimalista, que trabalha com pouquíssimos elementos sonoros, para assim dar liberdade para que a voz carregada da artista preencha os espaços vazios com sua poesia visceral. Na letra, ela aborda lírica e alegoricamente as dores de sua experiência particular como mulher preta, trans e gorda, e o fardo, que ela inevitavelmente carregará, da luta de todas que vieram antes. Por muitas vezes ela abraça a contradição, demonstrando fraqueza e desesperança, ao passo que nunca deixa de levantar e se posicionar ativamente: mesmo que ela sinta fome, ela vai falar que está com fome, não importa o quanto incomode. Como a própria Jup do Bairro admite, essa talvez seja a composição mais íntima de sua discografia até aqui. 

Além disso, a canção ainda acompanhou o lançamento de, como a Jup decidiu nomear, um clipe-poesia, onde ela retrata de forma crua, intimista e artística a sua rotina habitual, em contraste à sua figura pública. Ela confronta esses signos, os colocando lado a lado e questionando a veracidade de nossas imagens dentro dos espaços das redes sociais. Sendo assim, a cantora também tece uma crítica às expectativas desumanizantes depositadas a corpos periféricos: não é permitido fragilidade, tristeza, instabilidade; é necessário que o tempo todo você transpareça força, ânimo, empoderamento; não lhe é permitido errar, aprender; lhe resta apenas a perfeição ou o abandono. E como essa lógica é extremamente violenta para corpos que já sofrem imposições e opressões sistemáticas, e que ainda precisam lidar com os mesmos problemas com aqueles que deveriam ser amparo e socorro. Por fim, Sinfonia do Corpo apresenta nuances que dois ou três parágrafos escritos por um homem cis jamais conseguiriam suprir. Então, eu finalizo dizendo: ouçam Jup do Bairro, apenas. Enrico Souto


Capa do single Electric, de Katy Perry. Sobre uma paisagem verde, Katy Perry aparece do tronco para cima. Ela veste um casaco de crochê com linhas coloridas em branco, amarelo, vermelho e preto. Ela usa grandes brincos prateados em desenho circular e um colar prata. Katy é uma mulher branca de cabelos loiros e longos que balançam com o vento. Sua expressão é serena. Uma tipografia amarela revela o nome ‘Katy Perry’ e, abaixo, ‘Electric’ em vermelho.
No aniversário de 25 anos de Pokémon, Katy não comemora (Foto: Capitol Records)

Katy Perry – Electric 

Tudo bem, talvez seja hora de assumir: Katy Perry não é mais relevante como antes. Depois de anos de baixo desempenho comercial e álbuns decepcionantes, a baby blue nem existe mais no imaginário do público. Apesar disso, Katy ainda tenta garantir seu espaço na cultura pop – e dessa vez, é com o primeiro single da Trilha Sonora de aniversário de Pokémon, Electric. Junto com os veteranos The Monsters & Strangerz, ela repete sua fórmula nesse eletropop mediano.

Caindo facilmente na categoria de faixas pop acessíveis para a família, Electric pode não impressionar, mas entrega o que propõe: uma faixa comercial sobre positividade e superação. A canção não encanta como How Far I’ll Go ou Into the Unknown, mas também não é intragável como Happy ou Can’t Stop the Feeling. Assim como os últimos anos da carreira de Katy, Electric é interessante, mas não o suficiente. Laís David


Capa do single I Know I'm Funny haha. Mostra as mãos de uma mulher branca, que usa uma blusa de mangas compridas azul escura, segurando uma cartela de adesivos redondos e vermelhos com os dizeres “haha” em preto. No topo da cartela podemos ver o nome da música em preto e o nome de Faye Webster no canto inferior direito. Ela está destacando o adesivo da extremidade superior direita da cartela.
I Know I’m Funny haha é também o nome do próximo álbum que Webster irá lançar, com 11 faixas, no dia 25 de junho (Foto: Secretly Canadian)

Faye Webster – I Know I’m Funny haha

É com um pop que passa raspando pelo country tradicionalmente americano que Faye Webster entrega o single I Know I’m Funny haha. Simples mas ainda assim muito imersiva, a música consegue nos conquistar por ser uma balada despretensiosa que se mantém com uma personalidade forte, fazendo com que ela se destaque em meio a tantas mesmices que escutamos por aí. E isso se dá graças a cantora, que consegue nos trazer para sua perspectiva e contar sua fração da história sem que tudo pareça uma simples narração impessoal.

Trazendo um lirismo ácido, que anda pela linha tênue entre a tragédia e a comédia, Webster nos incentiva a rir dos inconvenientes e simplesmente gritar um sonoro f***-se para as desgraças da vida. Como quando ela canta “Acho que suas irmãs são tão bonitas/Ficaram bêbadas e esqueceram que me conheceram”. Pois é flutuando entre esses dois extremos do drama que I Know I’m Funny haha consegue entregar sua sinceridade. – Ana Laura Ferreira


Capa do single Ancient Dreams In A Modern Land de MARINA. A cantora, branca e de cabelos pretos, está ao centro, e veste um top branco com o nome da faixa bordado. Ao seu redor, estão várias formas triangulares pontudas, quais ela apoia as mãos. Acima de sua cabeça, está escrito seu nome. O fundo é azul.
MARINA vice do Lula em 2022 (Foto: Atlantic Records)

MARINA – Ancient Dreams In A Modern Land 

Para os órfãos do The Family Jewels e do FROOT, o novo lançamento de MARINA (ex-and The Diamonds) é um prato cheio. Ancient Dreams In A Modern Land também dá nome ao mais novo álbum da artista, que será lançado em 11 de junho, e é um exemplar do melhor que a britânica tem a oferecer. Aqui, ela combina suas letras ácidas recheadas de crítica social com uma sonoridade pop com elementos de rock, e o passeio em uma progressão de notas fora do convencional

MARINA é singular justamente por seu ‘pop político’. Algumas de suas melhores faixas seguem exatamente essa linha, em que as rimas costuram questões sociais com uma sonoridade chiclete. Para os que pensam que é a primeira vez que a cantora está navegando nessas águas, sugiro que ouçam seu debut, The Family Jewels. Canções sobre amor e juventude tem grandessíssimo valor, mas é um alívio ouvir alguém entoar versos que causem estranhamento por seu teor de problematização. E nisso, MARINA é excelente. – Jho Brunhara


Capa do single Sun Goes Down, de Lil Nas X. Na imagem, Lil Nas X está centralizado na imagem, sentado e trajando um terno branco. Em sua frente há uma ponte de água em curvas sinuosas. De suas mãos sobem jatos de água. No fundo, nuvens brancas em tons roxos.
Lil Nas X deixa de lado extravagâncias melódicas e foca numa balada autobiográfica (Foto: Columbia Records)

Lil Nas X – SUN GOES DOWN

Pole dance, som devasso e lapdance para Satanás? Isso ficou lá atrás com o hit que colocou todos para dançar e sensualizar. O novo single de Lil Nas X que estará em seu tão aguardado álbum vai de contramão de MONTERO (Call Me By Your Name). Com SUN GOES DOWN, o rapper se abre e expõe suas antigas inseguranças e pensamentos autodepreciativos que perseguiram-no em sua adolescência. Como uma pessoa negra e LGBTQIA+, o pequeno Nas X passou traumas e questionamentos que, ao som riff característico – desta vez com sample de iann dior -, deu vida à uma canção tocante e pessoal.

Com versos fortes, SUN GOES DOWN, produzida por Take a Daytrip, Omer Fedi e Roy Lonzo, expõe solidão e revela um artista que já esteve em conflito. O videoclipe também é emocionante. Co-dirigido pelo próprio cantor em parceria com a Psycho Films, narra parte de sua adolescência com easter eggs da vida do artista – como o trecho do vídeo de Panini, e uma conta antiga do Twitter que polemizou.

Talvez a música não seja um grande sucesso como a sua antecessora, mas definitivamente mostrou uma nova faceta do astro que é relativamente novo no mainstream e está conseguindo manter uma consistência qualitativa em seus trabalhos. Menos do hip-hop do que as obras anteriores, Lil mostrou ser também competente quando se trata de um pop melancólico. – Giovanne Ramos


Capa do single Butter, da banda BTS. A foto é amarela e tem um coração derretido, simulando um bloco de manteiga. Ao topo, vemos o nome do single, Butter, em fonte preta. E abaixo do coração, está em preto o logo do BTS, dois riscos paralelos.
O verão do BTS está repleto de Butter (manteiga, em português): o single quebrou o recorde do Spotify de música mais ouvida em um único dia, com 20,9 milhões de reproduções [Foto: Big Hit Music/HYBE]
BTS – Butter

O meme “chega a manteiga derrete” se encaixa perfeitamente no mais novo hit do BTS. Isso porque o grupo sul-coreano lançou recentemente a música Butter, que já derreteu diversos recordes como: faixa mais rápida da história a atingir 100 milhões de reproduções no Spotify (em apenas 7 dias), videoclipe com mais visualizações em 24h no YouTube (108.2 milhões) e #1 da Billboard Hot 100, tornando-se o grupo mais rápido (em apenas 9 meses) a conquistar quatro músicas em primeiro lugar nos charts desde 1970. 

Butter é o segundo single em inglês do BTS e tem influências de disco, EDM e pop de uma forma refrescante e madura, com um ritmo em 110 BPM, sintetizadores e uma linha do baixo que relembra um pouco Good Times (Chic) e Another One Bites the Dust (Queen). RM, um dos integrantes, afirma que a canção é ideal para o verão e foi criada para que todos pudessem dançar e aproveitar o momento. 

Diferentemente de suas outras canções lançadas ano passado como Life Goes On (do álbum BE), Shadow e Black Swan (de Map of the Soul: 7), que abordavam temas mais introspectivos como a relação deles com a arte e um retrato do que sentiram durante o isolamento social, desta vez, o BTS decidiu trazer uma faixa que exaltasse uma mensagem leve e que demonstrasse a personalidade e carisma de cada integrante. Independentemente do gênero musical ou idioma, o grupo manteve seu estilo próprio e versatilidade, experimentando melodias e misturando trechos de vocais com rap. – Rafaela Thimoteo


Capa do single Happy For You, de Lukar Graham. A capa é composta for uma foto do vocalista, Lukas, virado para o lado direito da imagem. Ele é fotografado com foco no rosto, dos ombros para cima. Ele é um homem jovem branco, de cabelos ondulados castanhos, veste uma camiseta branca e uma jaqueta verde militar e uma touca preta. Lukas olha para o lado direito com o rosto de perfil com uma expressão atenta. No lado direito da capa, existe uma faixa vertical preta, onde está escrito, na horizontal, o nome da banda, numa fonte desenhada a mão, em caixa alta e branco, e o nome do single ao centro, num tamanho menor, em amarelo.
Os donos do melancólico sucesso 7 Years estão de volta (Foto: Warner Records)

Lukas Graham – Happy For You

Lukas Graham está feliz por você em seu novo single. Com a dimensão emocional e identidade musical de sempre, o primeiro lançamento 100% autoral do ano da banda dinamarquesa constrói um hino aos corações partidos e relacionamentos findados. Diferente da artista que possui todas as licenças para tratar desses temas na música pop de 2021, em Happy For You, o vocalista encontra vazão para os seus sentimentos de uma forma mais positiva, mas ainda dolorida.

E ainda bem que existem os momentos para ambos os comportamentos e perspectivas, porque assim, sempre seremos acalentados independentemente da forma de encarar a decepção amorosa. O time de Olivia Rodrigo já está formado, mas se você não está no momento da revolta e de se perder entre seus desejos para o ex-alvo de seu amor, corra para a calmaria e sinceridade de Lukas Graham. – Raquel Dutra


Clipes

Capa do CD Demidevil. Arte gráfica com o fundo de nuvens cor de rosa. Na parte central está a personagem Ashnikko. Uma mulher branca, de longos cabelos azuis. Ela veste um maiô branco e rasgado com acessórios em preto e está calçando grandes botas na cor azul. Na sua mão direita está segurando uma bazuca rosa que está disparando um raio laser azul claro. Ela está montada em uma dragão verde que tem o rosto da personagem. Na parte superior pode-se ler “Demidevil”, em um estilo gótico na cor prata.
Com a crescente repercussão do seu primeiro mixtape DEMIDEVIL, a rapper Ashnikko nos presenteou com mais um clipe de uma das faixas do disco, com direito a uma produção impecável (Foto: Warner Records)

Ashnikko e Princess Nokia – Slumber Party

A cada dia que passa, a carreira da rapper norte-americana Ashnikko tem alcançado ainda mais o estrelato. Depois de seu single Stupid ter viralizado no TikTok em 2019, no início deste ano a cantora lançou seu primeiro mixtape intitulado DEMIDEVIL, onde sem pudor algum traz mensagens feministas e críticas ao patriarcado e o machismo enraizados em nossa sociedade. Com o sucesso do disco, Ashnikko continua atraindo ainda mais seguidores, principalmente no TikTok, onde sempre conquistou grande visibilidade, mas agora a música da vez foi Slumber Party, parceria com a também rapper Princess Nokia.

Nos últimos meses a música tem sido muito usada em vídeos da rede social, e para nossa alegria Ashnikko lançou um clipe para uma das faixas mais ouvidas de DEMIDEVIL. Com uma letra ousada, as cantoras não hesitam em exaltar a feminilidade e explorarem seus lados mais sensuais, o que também não faltou na produção do clipe. Apesar de sua fama na demora de novos lançamentos, já justificado pela artista devido seu aspecto perfeccionista, que a impede de lançar algo sem antes passar por muitas revisões que a deixem contente. Mas, como já esperado, recebemos uma produção impecável aos olhos e ouvidos. – Gabriel Brito de Souza


Performances

 Foto de Olivia Rodrigo se apresentando no Brit Awards 2021. A jovem biracial, branca e asiática, tem cabelo moreno e ondulado até a altura do umbigo. Ela veste um vestido vermelho transparente com um conjunto vermelho brilhante por baixo. Olivia canta segurando o microfone à sua frente. O fundo é preto. Há a projeção de uma borboleta voando ao seu redor.
Linda em vermelho, Olivia arrasa no palco da premiação britânica (Foto: BRIT Awards)

Olivia Rodrigo no BRIT Awards

Poucas são as carreiras que já começam estourando, mas Olivia Rodrigo vem fazendo o impossível e alcançando recordes com um álbum antes mesmo dele ser lançado. Entre eles, foi a sua apresentação na noite de 11 de maio. O palco onde cantou pela primeira vez o seu single de estreia foi, nem mais nem menos, o do BRIT Awards. Na plateia, nomes como Taylor Swift, Dua Lipa e Harry Styles a assistiam. Não é um público fraco para um primeiro show, certo? 

Mas a garota arrasou mesmo assim. Com um vestido da Dior, feito pela estilista Anna Hughes-Chamberlain, Olivia usava vermelho para combinar com a letra de seu hit (red lights/stop signs). O palco contava com um fundo cheio de borboletas que voavam ao seu redor, dando um ar mágico para o espetáculo. Junto a sua voz magnífica, porém um pouco tensa, apenas uma harpa e piano a acompanhavam. A jovem não precisou de nada mais para garantir uma linda apresentação. Mais uma vez, Olivia Rodrigo provou que veio para ficar. – Mariana Chagas


Imagem da apresentação de Elton John e Olly Alexander no BRIT Awards 2021. Mostra Olly, homem branco de cabelos vermelhos curtos, com uma calça estampada preta e uma blusa curta de mesma estampa cantando em pé com um microfone na mão. Atrás dele está John, homem branco de cabelos castanhos curtos e terno azul marinho, sentado em um piano preto com um microfone à sua frente.
Years & Years regravou o clássico It’s a sin para a série britânica homônima (Foto: BRIT Awards)

Elton John e Years & Years no BRIT Awards

O BRIT Awards de 2021 foi recheado de performances incríveis, mas nenhuma com o potencial de se eternizar tanto quanto a apresentação de Elton John e Olly Alexander, vocalista do Years & Years, com a impecável regravação de It’s a sin do Pet Shop Boys. O clássico oitentista ganhou uma nova roupagem, mais moderna e eletrônica, mas ainda fiel ao estilo da sua época de origem. Mas, apesar de todas as mudanças benéficas, o que a torna um hino é a combinação perfeita dos vocais de Alexander e John, que juntos criam camadas e mais camadas ao clássico.

A música, que teve como pontapé de sua regravação a série britânica homônima de Russell T Davies, é uma chamada de atenção para assuntos importantes como a epidemia de HIV/Aids que tomou o mundo nos na década de oitenta e foi escondida sob os tapetes de todos os governos, atingindo principalmente a comunidade LGBTQ+ da época. Como uma forma de relembrar o passado para que não cometamos os mesmos erros no futuro, a performance da premiação foi feita para chamar a atenção, chocar e nos marcar. Mais do que poderíamos prever, It’s a sin precisa, e merece, ser revisitada, exposta e divulgada por todos para que cada vez mais possamos entender que música é também uma forma efetiva de protesto. – Ana Laura Ferreira


Foto de Dua Lipa. A cantora branca e magra tem seus cabelos pretos presos em um coque alto e volumoso. Ela veste uma saia com a bandeira do Reino Unido, uma camisa branca, um top amarelo por cima e uma gravata preta. No pé usa um salto preto com uma meia calça preta. A mulher está cantando, segurando um microfone na mão direita. No fundo, quatro dançarinos a acompanham, fazendo um paço com as mãos para frente. Atrás deles, um painel rosa e roxo, e um banco de metrô.
Dua Lipa é o grande destaque da premiação britânica (Foto: BRIT Awards)

Dua Lipa no BRIT Awards

Se um dia Dua Lipa foi julgada por suas performances fracas e pouca habilidade em dança, atualmente ela faz questão de ir contra todos os comentários negativos e deixar o público de boca aberta quando sobe no palco. E não foi diferente no BRIT Awards de 2021, onde a cantora não só se destacou levando prêmios de grandes categorias para casa, mas também com um dos – se não o melhor – show da noite.  

Começando a cantar dentro de um metrô, Dua desembarcou no palco e cantou 5 faixas de seu último álbum, Future Nostalgia. As escolhidas foram Don’t Start Now, Physical, Hallucinate, Pretty Please e Love Again. Com um grupo de dançarinos e diversas mudanças de cenário, Dua Lipa fez valer sua participação na maior premiação musical do Reino Unido.

O look foi uma homenagem a sua origem britânica, vestindo a bandeira da Grã-Bretanha como saia e uma camisa branca. A foto que a cantora postou usando a roupa foi considerada, pela revista Vogue, uma das Melhores Postagens de Moda do Instagram da semana. A artista que vem dominando as paradas e premiações nos últimos anos mostrou, mais uma vez, que seu talento merece cada uma de suas conquistas. – Mariana Chagas


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