Recheado dos seus jeitinhos, Hebe – A Estrela do Brasil é uma fonte nostálgica, mas peca ao não ser ousado

Após oito anos sem uma das grandes apresentadoras brasileiras, Hebe – A Estrela do Brasil reacende os corações com a nostalgia de revê-la novamente nas telinhas (Foto: Reprodução)

Pedro Gabriel

Ao olhar para a construção do mundo midiático brasileiro, diversas personalidades se destacam. Isso ocorre muito pela genialidade dessas pessoas ao se mostrar na frente do público, e como isso os cativou. Elas estavam em diversas áreas, sendo apresentando programas, cantando, atuando ou até praticando esportes. Em 2019, para homenagear umas das maiores apresentadoras brasileiras, foi lançado o filme Hebe – A Estrela do Brasil. O estúdio ainda transformou a obra em uma minissérie de dez episódios, que foi liberada no seu serviço de streaming Globoplay, em abril de 2020.

Produzido pelos Estúdios Globo, Hebe – A Estrela do Brasil, com direção de Maurício Farias e roteiro de Carolina Kotscho, conta a história de uma das maiores apresentadoras brasileiras. Detentora de um grande carisma que cativava a todos que a assistiam, manteve-se nas telas das famílias brasileiras durante anos com índices altíssimos de audiência. Quem nunca quis sentar no sofá da Hebe? Ou até mesmo dar um selinho nela?

Vinda do interior de São Paulo, começou sua carreira no rádio como cantora, indo para a televisão anos depois. Passou por diversas emissoras, com um programa ao vivo que batia a audiência da gigantesca Globo. Nesses anos em que teve seu programa no ar, tratou de diversos assuntos que não eram bem vistos para a época. Era uma defensora assídua dos direitos da comunidade LGBTQIA+, das mulheres e dos pobres. Entrevistou diversas celebridades, nacionais e internacionais, como Roberto Carlos, Mariah Carey, Rita Lee, entre muitas outras.

Para melhor representá-la, foram usadas diversas joias e roupas da própria Hebe disponibilizadas pela família (Foto: Reprodução)

Hebe também possuía um poder de voz muito forte. Com uma língua afiada que ninguém conseguia segurar, acabava falando tudo o que queria em seu programa. As críticas à política em rede nacional eram recorrentes, com consequências adversas devido a censura.

Como diversas personalidades da televisão brasileira, Hebe era uma pessoa que possuía muitos trejeitos que, se interpretados de uma forma superficial, poderiam cair em uma representação cômica. Mas, ao escalar Andréa Beltrão (a Marilda de A Grande Família) como a personagem principal, fica claro o cuidado ao representá-la. Ela encarna uma Hebe que traz um ar forte de realidade. É como estar vendo ela novamente nas telinhas. Os trejeitos são passados de forma mais amena, tornando tais gestos normais, fluidos.

O elenco ainda conta com diversas personalidades que interagiram com a Hebe na vida real. Dercy Gonçalves (Stella Miranda), Roberto Carlos (Felipe Rocha) e Chacrinha (Otávio Augusto) são alguns exemplos de tais personalidades representadas. Juntamente com a direção de arte e os figurinos, compõem o ar dos anos oitenta e noventa. A produção ainda conta com um excelente trabalho do núcleo principal que tem Marco Ricca como intérprete do último marido de Hebe, Lélio Ravagnani, e Caio Horowicz, que faz seu filho Marcello Camargo.

Momentos icônicos da televisão, como a entrevista com Dercy Gonçalves e Roberta Close, são apresentados de forma pontual e certeira em meio a vida da apresentadora (Foto: Reprodução)

A atuação de tal elenco, e a nostalgia de ver personalidades tão marcantes no seu auge são alguns dos pontos altos da produção. A edição consegue ainda separar bem seu tempo entre os acontecimentos que foram transmitidos pela televisão, e os que ocorreram nos bastidores.

Mas, produções relacionadas a biografias sofrem uma grande pressão ao não querer estragar a imagem da pessoa que está sendo apresentada. Isso não é um problema apenas nacional. Em Bohemian Rhapsody (2018), diversos momentos fortes e polêmicos dos integrantes da banda Queen foram cortados.

Mesmo adentrando em diversos casos polêmicos da apresentadora, como o foco em seus relacionamentos abusivos e a falta de liberdade de expressão decorridas da censura, a obra ainda mantém um pé atrás sobre outros que ela acabou se metendo. Por conta de seu poder de fala e senso político, Hebe acabou defendendo muitas posições que ela viria a se arrepender anos mais tarde. Isso é passado de forma corrida nos primeiros minutos da produção, e depois não é mais tocado.

Hebe – A Estrela do Brasil mostra o poder que o audiovisual brasileiro tem. Mesmo com todos os seus problemas ainda se apresenta como uma grande produção, que visa enaltecer o que há de melhor no Brasil. Isso tem sido um norte para tais produções, e Bacurau (2019) é um grande exemplo disso. O filme adentra além do que muitos conhecem do país, ou seja, apenas o Rio de Janeiro e São Paulo, e representa o nordeste brasileiro com críticas muito profundas a essa visão estrangeira. Visão essa muitas vezes do próprio brasileiro sulista com as regiões norte e nordeste. Hebe, Todas as Mulheres do Mundo (2020) ou até Cazuza (2004) trazem essa representação dos produtos brasileiros, porém por outro ponto de vista. Representam nas telas seus grandes artistas nas diferentes áreas que atuaram.

O filme pode até não possuir a coragem que Bingo: O Rei das Manhãs (2017) teve ao demonstrar os dramas  por trás das câmeras, mas Hebe – A Estrela do Brasil consegue ser uma gracinha. O filme diverte e traz essa grande nostalgia. A vida da apresentadora e a forma como é contada são leves, sem cansar o telespectador. A produção prende muito pelo o que o filme representa para o audiovisual brasileiro, mas em grande parte pela Andréa Beltrão. A atriz, com as roupas extravagantes e joias luxuosas, carrega uma atuação em que não ficam dúvidas ter sido a melhor escolha. Com o seu jeitinho revive a Rainha da TV Brasileira que nos deixa com tanta saudade.

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