(Des)encanto: a princesa encantada com a personalidade de Homer Simpson está na terceira parte de sua história

Centralizada e em primeiro plano há a personagem Dagmar, ela tem traços típicos de cartoons como olhos redondos e boca grande. A personagem é desenhada tocando as margens superior e inferior da cena, suas roupas são um vestido decotado em tons escuros, com uma adaga presa à cintura, brincos cinzas e uma coroa dourada. Seu cabelo é liso, longo e branco e sua expressão é de malícia. O plano de fundo da imagem é quase todo coberto com criaturas esquisitas, todas iguais, elas são baixas, tem os olhos redondos e completamente pretos, um nariz exagerado, orelhas pontudas e a pele esverdeada, suas vestes são tocas e vestidos em tons castanhos. A cena é bem sombreada com iluminação em destaque para Dagmar.
(Des)encanto é uma série recheada de referências à cultura pop como um todo, em muitos episódios podemos encontrar menções à outra série de Matt Groening, Os Simpsons (Foto: Reprodução)

Nathalia Franqlin

2021 chegou trazendo a renovação de várias séries nas plataformas de streaming e (Des)encanto foi uma delas. A obra do cartunista Matt Groening – criador de Os Simpsons e de Futurama – está na sua terceira parte e é exclusiva da Netflix. Para o desespero dos fãs, houve atraso na produção em decorrência da pandemia e a estreia da terceira parte foi adiada de setembro de 2020 para janeiro de 2021. Essa foi uma espera particularmente difícil considerando os acontecimentos finais da segunda temporada, como o suspense para sabermos se o Rei Zörg (John DiMaggio) iria sobreviver ao tiro e o que aconteceria com a Princesa Bean (Abbi Jacobson) após ser condenada à fogueira.

No tocante ao desempenho técnico da temporada, a qualidade se mantém. A assinatura visual de Matt Groening é realmente marcante, personagens com olhos esbugalhados e redondos e boca grande são o seu diferencial e isso não é diferente em (Des)encanto. Além disso, visualmente, a série tem um charme a mais se compararmos com as outras obras mais famosas do criador, justamente por investir em cenários e fundos de cenas 3D, colocar personagens esteticamente simples com figuração caricatas de cartoons, mas com fundos bem elaborados na ornamentação e no jogo de luzes gera um resultado interessante e que trabalha bem com a proposta da obra de caminhar entre elementos do dia-dia, blasé, e o fantástico, fantasioso.

Aqui temos as melhores desconstruções de arquétipos para representar isto: uma princesa de um reino encantado com magia, elfos, demônios e fadas, mas que bebe igual a qualquer beberão de boteco mal humorado e que é igual a qualquer adolescente com problemas de relacionamento com os pais. A personalidade de Bean é um ponto chave na série, ela é uma personagem extremamente identificável para outras garotas mais grosseiras e que fogem aos estereótipos de comportamento de gênero, isso se torna, a priori, um chamariz de audiência.

A cena apresenta em primeiro plano e centralizado os personagens, da esquerda para a direita, Luci, Bean e Elfo. Todos estão sentados em bancos encostados em um bar. Luci é um demônio pequeno, seu corpo é completamente preto, exceto pelo seu olho, sua expressão é de tédio; Bean é uma mulher que aparenta ter estatura média alta, seus traços são típicos de cartoons como olhos redondos e boca grande, ela tem o cabelo longo, liso e branco e dentes grandes para fora da boca, suas vestes são um par de botas marrom escuro, calça marrom claro e uma túnica azul com mangas brancas e um cinto castanho de fivela na cintura, sua expressão é de tédio; Elfo é um elfo um pouco maior que o Luci, seu corpo todo é verde, ele tem orelhas pontudas, olhos redondos, nariz grande e redondo, suas vestes são um chapéu pontudo roxo, uma camisa polo vermelha, shorts azul e sapatos marrons, sua expressão indica felicidade. O plano de fundo é extremamente ornamentado, o cenário remete a um bar de luxo, o piso, teto e paredes são de madeira há um lustre sobre os três personagens principais e à esquerda de Luci, já tocando na margem da cena, há um homem sentado no bar, atrás dos personagens há o bartender limpando um copo e com expressão de tédio.
Existe uma teoria dos fãs de que essa produção compõe um universo de seu criador relacionando-se com outras duas séries, onde (Des)encanto seria o passado, Os Simpsons o presente e Futurama o futuro (Foto: Reprodução)

Com respeito a qualidade do enredo esse ano a série deu uma decaída. Com o aparecimento da Terra das Máquinas na segunda temporada, (Des)encanto teve a oportunidade de expandir seu universo para além da Terra dos Sonhos, entretanto, desperdiçou essa chance na terceira parte fazendo o movimento contrário ao que tendenciava o final da obra no ano anterior e restringindo o enredo, novamente, à terra natal de Bean. Outro problema com o roteiro desta temporada é a tentativa de introduzir vários novos personagens de uma só vez, e o resultado disso foram problemas no desenvolvimento de cada um deles, coisa que deixou os primeiros episódios, principalmente, cansativos de se assistir.

A dinâmica entre os outros dois protagonistas da série, além de Bean, Luci (Eric André) – um demônio enviado diretamente do inferno para atormentar a princesa, mas que acaba se identificando com ela e se tornando um de seus melhores amigos – e Elfo (Nat Faxon) – literalmente um elfo bonzinho de uma terra encantada, mas meio sarcástico às vezes – foi quebrada nesta temporada, isto, sem dúvidas, foi deficitário para a série. Esse foi mais um problema gerado pelo bolo de personagens neste ano, já que, com tantos outros para desenvolver, os protagonistas ficaram quase como figurantes, principalmente Luci. 

Em relação ao desdobramento da história, a terceira parte também deixou a desejar em alguns pontos. Esse desenvolvimento foi afetado pela falta de expansão do universo, isso é fato; algumas coisas que já estavam na expectativa para essa temporada acabaram por não acontecer como, por exemplo, a revelação de quem é a mãe do Elfo ou o desenvolvimento dos poderes da Bean. Apenas um foi revelado e depois simplesmente ignorado pelo resto dos episódios, isso foi muito decepcionante para qualquer fã da série. 

A cena tem em primeiro plano, da esquerda para a direita, os personagens Elfo, Bean e Luci, todos estão sentados na beira de um parapeito. Elfo é um elfo pequeno, seu corpo todo é verde, ele tem orelhas pontudas, olhos redondos, nariz grande e redondo, suas vestes são um chapéu pontudo roxo, uma camisa polo vermelha, shorts azul e sapatos pontudos marrons, ele está olhando para baixo com expressão de assustado; Bean é uma mulher que aparenta ter estatura média alta, seus traços são típicos de cartoons como olhos redondos e boca grande, ela tem o cabelo longo, liso e branco e dentes grandes para fora da boca, suas vestes são um par de botas marrom escuro, calça marrom claro e uma túnica azul com mangas brancas e um cinto castanho de fivela na cintura, ela olha para frente com uma expressão neutra, Bean segura uma garrafa de bebida alcoólica apoiada em um joelho; Luci é um demônio pequeno, seu corpo é completamente preto, exceto pelo seu único olho em seu rosto que aparece de perfil, ele está segurando, com o rabo, uma garrafa de cabeça para baixo, Luci está olhando para a garrafa com uma expressão neutra. O plano de fundo da imagem é um pedaço do parapeito da janela de um castelo e o mar ao anoitecer no horizonte.
Os fãs de Game of Thrones também acham a princesa Bean extremamente parecida com a Daenerys (Foto: Reprodução)

Mas, nem tudo são só frustrações e decepções. Houve uma evolução no texto dublado para o português brasileiro, nesta parte os memes e a linguagem de internet estão mais moderados em relação às temporadas anteriores. Eles ainda estão presentes, é claro, mas de forma mais espontânea, não parecem mais forçação para que o público jovem se identifique com a trama. (Des)encanto sempre deixou claro a sua linha de humor, que é basicamente sarcasmo e ironia com uma piada por atrás da outra, mas, agora, a série finalmente encontrou um ritmo nesse sentido, as tiradas aparecem naturalmente entre as cenas e a linguagem agora está mais adulta, com mais palavrões do que bordões em si.

Apesar de toda a confusão inicial ficou claro que o tema circundante dos primeiros episódios dessa nova parte era relacionamentos. E para a felicidade do fandom LGBTQ+, Bean foi confirmada como uma personagem bissexual após se apaixonar por Mora, uma sereia. É interessante como a homofobia foi criticada durante as cenas das duas, principalmente no episódio Uma sereia em minha vida. Esse preconceito não foi questionado e nem exposto de maneira explícita durante a série, apenas houveram analogias e os roteiristas aproveitaram para brincar com a liberdade desse universo. Mora foi realmente carismática, apesar de que infelizmente não é aparente que ela vá retornar à trama futuramente.

Nos episódios finais, (Des)encanto conseguiu embalar novamente o espectador e dar ritmo à série. Os últimos acontecimentos retomam um ocorrido lá da primeira temporada, um conflito entre o Elfo e os ogros, e a crise no reinado de Bean apenas piora tudo. Algo que essa obra sempre acerta é na finalização de temporadas, o e de encerramento traz o ápice do lançamento inteiro, o retorno de Dagmar (Sharon Horgan), mãe da Bean, a morte de Luci, o Elfo levado pelos ogros é novamente uma tortura para os fãs da série, já que a quarta temporada está programada para daqui um ano, entre fevereiro e março de 2022.

A cena é uma imagem em movimento, um gif. Nela aparecem, da esquerda para a direita, Bean e Mora. A imagem está com o close da câmera nelas, aparecendo apenas o busto de ambas. Bean é uma mulher tem traços típicos de cartoons como olhos redondos e boca grande, ela tem o cabelo longo, liso e branco, dentes grandes para fora da boca e sardas nas bochechas, na cena ela aparece de perfil olhando para a bebida de bora, depois para seu rosto e, por fim, piscando e sorrindo devagar. Mora também tem traços típicos de cartoons como olhos e boca grandes, ela usa batom carmim, seus olhos são amendoados, seu cabelo é liso, longo e azul e ela usa uma tiara azul claro na cabeça, na cena ela aparece com o rosto virado 3/4 para a frente da câmera, ela segura o canudo de uma bebida que está em um coco, toma um gole enquanto olha para ele e, por fim olha para Bean sorrindo.
No site da Rotten Tomatoes, a segunda temporada de Disenchantment está melhor avaliada que a primeira (Foto: Reprodução)

(Des)encanto terá uma próxima temporada animada, conflito é o que não faltará, essa será, sem dúvidas, uma chance para consertar os erros da terceira parte. Espera-se apenas que não haja, de novo, confusão no roteiro ou então os produtores poderão estar jogando fora quase quatro anos de trabalho em uma série com tanto potencial. Desde 2018, ano de seu lançamento, esse vem sendo um título que promete mais do que cumpre, com nomes tão relevantes na sua produção, como o próprio Matt Groening e Josh Weinstein, espera-se que esse não se torne uma obra a nível de armadores.

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