Entre Mulheres, ninguém nunca está só

Cena do filme Entre Mulheres. Na imagem, vemos oito mulheres de idades distintas dentro de um celeiro. Quatro delas estão de pé e quatro estão sentadas. Dessas, três estão sentadas em feno e uma delas está sentada no chão. Todas elas vestem vestidos do mesmo estilo: mangas três-quartos ou compridas, em cores escuras e floridos, com exceção de duas idosas, que vestem vestidos de manga comprida preto sem nenhuma estampa. Todas elas estão com os cabelos trançados e algumas usam um lenço preto, de modo a aparecer a parte da frente de seus cabelos
Entre Mulheres teve sua estreia no Festival de Cinema de Telluride no dia 2 de Setembro de 2022 e chegou aos cinemas brasileiros exatos seis meses depois (Foto: Universal Pictures)

Raquel Freire

Uma pequena colônia religiosa isolada. Apenas homens têm o direito de ser alguém. Durante a noite, tranquilizante de vaca. Ao amanhecer, quando o coração ainda bate, uma ferida que não cicatriza. Quem fez isso? Ou melhor, qual deles ainda não fez isso? Dali nove meses, uma vida – se for menino, um aprendiz; se for menina, uma vítima. Certa noite, um rosto. Enfim, custódia! Todos eles saíram da colônia para ajudar com a fiança (é claro que eles saíram). Isso significou 48 horas Entre Mulheres. Três famílias debateram o futuro de todas as outras. “Não fazer nada. Ficar e lutar. Ou ir embora”. Permanecer na comunidade que as violou? Ou se afastar de tudo o que conhecem, principalmente do Deus em quem ainda depositam sua fé? Ao mesmo tempo, tudo e nada a perder.

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Close nos aproxima da dor das rupturas

Cena do filme Close. Rémi e Léo estão olhando um para o outro. Léo é um garoto branco loiro de olhos azuis, ele está vestindo uma camiseta branca e tem uma mochila azul marinho nas costas. Rémi é um menino branco de cabelos e olhos castanhos, ele veste uma camiseta bordô e usa uma mochila verde musgo. Ambos têm feições sérias
Close é uma coprodução belga, holandesa e francesa, e concorre na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar de 2023 (Foto: A24)

Jamily Rigonatto 

Ceder a pressão social é fácil, quase um instinto do ser humano em busca de aceitação e, por vezes, sobrevivência. O ponto é que tudo pode ser desfigurado para que possamos caber nas caixas ditas como certas: roupas, cabelos e até mesmo os amores. Em Close, filme lançado em 2022 sob a direção de Lukas Dhont, os protagonistas figuram o ato de cortar os laços mais profundos como se fossem uma linha fina – rompem-se com facilidade, mas ficam as pontas esfarrapadas. 

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Marcel the Shell with Shoes On: Nos menores frascos, estão os maiores corações

Cena do filme Marcel the Shell With Shoes On. Nela, vemos um personagem Marcel, uma concha do tamanho de uma polegada em cor nude com um olho onde era para ser sua abertura, uma boca e sapatos com a ponta vermelha. Ele está sobre um computador, olhando para a tela e boquiaberto.
Marcel the Shell with Shoes On é o resultado de mais de 10 anos de amor pelo personagem mais amoroso do audiovisual recente (Foto: A24)

Guilherme Veiga

Desde que o gênero mockumentary caiu nas graças do público, a vertente buscou explorar os contextos mais improváveis, indo de uma empresa de papel da Filadélfia, passando por um grupo de vampiros em Staten Island e chegando na vida de um excêntrico repórter cazaque aterrissando nos Estados Unidos. Naturalmente vinculado à comédia, é de praxe que falsos-documentários abracem o nonsense e joguem fora toda a busca por credibilidade. Porém, é da premissa mais absurda que o produto é tratado de forma mais séria.

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Longe dos altares, Elvis faz seu espetáculo nos conflitos e contrastes

Cena do filme Elvis. A imagem é retangular e mostra o cantor Elvis no centro da foto, em um primeiro plano. Ele está representado do quadril para cima, com o corpo inclinado para trás e olha diretamente para a câmera enquanto canta, com a sua mão direita segurando o microfone. Ele usa uma jaqueta preta de couro e sua guitarra vermelha está pendurada no pescoço. Elvis é interpretado por Austin Butler. Ele tem cabelos escuros, lisos e penteados para trás, olhos azuis e uma pele clara, mas bronzeada. Em segundo plano é possível ver a plateia assistindo ao show. A maioria dos presentes é composta por mulheres que observam Evis encantadas.
Retorno de Baz Luhrmann às telonas após um hiato de nove anos, a cinebiografia de Elvis Presley arrematou indicações nas principais premiações dos Sindicatos estadunidenses da Sétima Arte (Foto: Warner Bros. Pictures)

Mariana Nicastro e Vitória Vulcano

Como se dá a ascensão de uma estrela? E sua queda? Representar uma figura real respeitando seus contrastes não é uma tarefa simples, nem contar uma história desse calibre com originalidade. Baz Luhrmann poderia facilmente ter encaixado Elvis nos moldes narrativos típicos do gênero: lineares, focados na perspectiva do artista e, como se isso garantisse um selo de aprovação, investindo em uma homenagem. Mas o longa – que disputa oito estatuetas no Oscar 2023 – se inspira no próprio ídolo ao procurar problemas. Revelando conflitos profundos, perspectivas que fogem do unidimensional e muita identidade, a cinebiografia avessa do rei do Rock n’ Roll constrói seu espetáculo entre linhas dramáticas, sensíveis e indiscutivelmente musicais.

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Avatar: O Caminho da Água oferece um banquete aos olhos, mas não ao coração

Cena do filme Avatar : O Caminho da Água. O mar está rodeado de pedras flutuantes enquanto o sol e seu reflexo brilham no horizonte. Na água estão cinco alienígenas da raça Na’vi do Planeta Pandora. Seus olhos são grandes e amarelos, e uma estrutura corporal que equivale a dois humanos com uma cauda longa e fina. Seu corpo é coberto por uma pele azul brilhante com listras mais escuras, e seu cabelo é longo e preto. A fisionomia do rosto do avatar tem características como testa alta, nariz achatado e bochechas salientes.
O primeiro Avatar ajudou a popularizar produções em 3D estereoscópico de alta definição, sendo um dos pioneiros na utilização (Foto: 20th Century Studios)

Henrique Marinhos

Em Avatar: O Caminho da Água, não há como negar uma qualidade técnica impressionante, que nos leva ainda mais fundo no mundo de Pandora que revolucionou o Cinema com a tecnologia CGI em 2009. O diretor James Cameron e o produtor Jon Landau criaram um marco ao proporcionar um nível de realismo nunca antes visto. A sequência de 2022 é também uma experiência cinematográfica única, com uma meticulosa atenção aos detalhes e uma riqueza de elementos visuais que são aprimorados pelos efeitos em 3D, imergindo o espectador e garantindo indicações ao Oscar 2023 nas categorias de Melhores Efeitos Visuais, Melhor Fotografia e Melhor Design de Produção.

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Os Fabelmans pensa no passado pela sensibilidade de seu próprio diretor

Cena do filme Os Fabelmans. Gabriel LaBelle, que interpreta o jovem Sammy Fabelman, é um jovem branco com cabelos castanhos utilizando uma camisa xadrez e observando o visor de uma câmera. A cena ocorre durante o dia, com um cenário desértico ao fundo.
Os Fabelmans, a nova produção de Steven Spielberg, coloca a vida do cineasta no centro da trama (Foto: Universal Pictures)

Pedro Yoshimatu

O desafio de contar uma história é repleto de decisões difíceis, e o de contar a sua própria é um desafio ainda maior. Essa é, no entanto, é a tarefa de Steven Spielberg em seu novo filme, Os Fabelmans, uma semi-autobiografia que utiliza de elementos narrativos fictícios para refletir na própria relação do diretor com a sua narrativa pessoal, sua família e sua paixão pelo Cinema.

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As muitas camadas quebradiças e transparentes de Glass Onion

Um fim de semana paradisíaco e misterioso em uma Cebola de Vidro (Foto: Netflix)

Laura Hirata-Vale

Depois do sucesso de Entre Facas e Segredos (2019), Rian Johnson fez seu retorno às telonas com mais um whodunnit, o longa Glass Onion: Um Mistério Knives Out. A franquia foi adquirida pela Netflix após o triunfo do primeiro filme, o que fez com que a segunda produção fosse esperada ansiosamente pelos fãs. O elenco foi repaginado, mas continua tendo nomes de peso como Kate Hudson, Kathryn Hahn e Janelle Monáe integrando a produção. Em meio às novidades, Daniel Craig retorna ao papel do investigador particular Benoit Blanc.

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Animação não é coisa de criança, mas para a Academia…

Homenagem tendenciosa? Woody e Buzz apresentam o Oscar de Melhor Animação em 2016 para Divertida Mente, do mesmo estúdio que lhes deu vida (Capa: Ana Clara Abatte)

Nathan Nunes

Na manhã do dia 15 de Janeiro de 2015, Hollywood ficou em polvorosa com a falta do então favorito Uma Aventura Lego entre os indicados ao Oscar de Melhor Animação. Lembrado, ainda assim, na disputa de Canção Original com Everything is Awesome, o longa de Phil Lord e Christopher Miller (que seriam premiados anos depois por Homem-Aranha no Aranhaverso) foi preterido em razão de dois candidatos menos conhecidos: O Conto da Princesa Kaguya, do cultuado Studio Ghibli, e A Canção do Oceano, da pequena produtora irlandesa Cartoon Saloon. Completavam a lista Como Treinar o Seu Dragão 2, da DreamWorks, Os Boxtrolls, da LAIKA Studios, e o eventual vencedor Operação Big Hero da Disney. Apesar do esnobe, é notável que havia um equilíbrio na disposição dos estúdios por trás dos concorrentes naquele ano, abraçando tanto os gigantes quanto os independentes e estrangeiros

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Sra. Harris Vai a Paris e a classe trabalhadora vai às ruas

Cena do filme Sra. Harris Vai a Paris. Na imagem está Ada Harris provando um vestido Dior. Ela é uma mulher branca de cabelos loiros presos em um lenço, o vestido é verde esmeralda com bordados dourados e uma saia irregular com estrutura de trapézio. Ao fundo estão Marguerite, Fabre e uma costureira analisando a prova da roupa.
30 anos depois, Sra. Harris Vai a Paris reescreve a história de Um Sonho em Paris e conquista um lugar no Oscar 2023 (Foto: Universal Studios)

Jamily Rigonatto

Arrumar a bagunça de patricinhas pomposas, fazer camas com edredons importados e esperar a boa vontade de megeras para receber o próprio pagamento são algumas das normalidades do dia a dia de Ada Harris (Lesley Manville). A viúva trabalha como faxineira e, apesar das inconveniências da rotina, leva a vida com um bom humor ímpar. Mas a satisfação com o mediano muda quando seu caminho veste toda a elegância da moda parisiense e a habitualidade dá lugar aos sonhos. Em uma aventura à francesa, Sra. Harris Vai a Paris costura entre rendas e bordados uma história brilhante. 

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Em Nova Deli, dois irmãos curam Tudo o Que Respira

Cena do documentário Tudo o Que Respira. Na imagem, vemos Salik Rehman de frente com um milhafre-preto, uma ave de rapina preta com o peito branco, e os dois se encaram. Ambos estão dentro de um depósito, que serve como um espaço de trabalho. O animal está em cima de uma bancada com vários utensílios utilizados pelos homens que se dedicam ao cuidado dessa espécie. Salik tem cabelos e barba na cor preta e veste uma camisa social preta com listras brancas e óculos de grau.
Com estreia no Festival Sundance de Cinema, Tudo o Que Respira é o segundo documentário do cineasta indiano Shaunak Sen (Foto: Submarine Deluxe)

Raquel Freire

Tudo o Que Respira começa com uma paisagem escura enquanto uma câmera se move sobre o solo repleto de lixo na cidade de Nova Deli. Enquanto outros animais se espreitam no fundo, a imundície da rua serve como alimento para os ratos que se apressam em uma moldura desfocada, e o barulho que eles fazem fica mais alto à medida que mais deles se alimentam. Ao que o ruído faminto cresce em volume, os faróis dos carros ficam mais brilhantes à distância – um sinal de humanidade que impacta diretamente a existência deles, e a cena termina ao passo que é dominada pela ultrapassagem de uma luz branca. Essa é apenas a primeira de muitas imagens de tirar o fôlego que estão presentes no mais recente documentário de Shaunak Sen.

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